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Autor Tópico: A Gata dos Telhados LVIII  (Lida 53689 vezes)
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Maria Gabriela de Sá
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« Responder #30 em: Setembro 06, 2020, 20:51:55 »

As memórias são como as cerejas. Pena que às vezes só nos sem dos bolsos memórias podres...


Boa continuação
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Dizem de mim que talvez valha a pena conhecer-me.
Nação Valente
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outono


« Responder #31 em: Setembro 12, 2020, 18:50:00 »

XX
Rosalinda regressou com as compras. Estava a anoitecer. Abriu a porta e apenas escuridão e silêncio. JCorreia, dormia a bom dormir, com um charuto apagado na boca. Rosalinda preparou uma refeição frugal à base de saladas. Tinha entrado na casa dos cinquenta. Começava a preocupar-se com a linha.
Acordou cedo. JCorreia continuava a dormir. Parecia estar a recuperar de insónias acumuladas. Resolveu sair para continuar as investigações em curso. Não lhe fora atribuída essa tarefa, mas desde que Damião, o marido, fora preso, que parecia ter renascido. Liberta dos deveres domésticos e da clausura marital, estava a ganhar asas para novos voos. Começara a ganhar gosto pela investigação policial e queria deixar de ser uma rotineira secretária.
Dirigiu-se para a seguradora onde trabalhava o marido de Idalina. Perguntou se Ernesto tinha regressado ao trabalho, pois era o seu agente se seguros. A resposta foi taxativa. “Desapareceu sem ter dado qualquer justificação. A sua companheira informou que também não sabia qual era o seu paradeiroâ€. Para a empresa era caso encerrado. Não fazia parte dos seus quadros por abandono de posto de trabalho. Rosalinda tinha-o avistado, junto à estação do metropolitano de Avalade, no dia em que seguia a sua mulher. Que papel desempenharia neste caso? Decerto que não seria um joker!
Rosalinda subiu até ao largo de Camões e desceu até meio da rua do Alecrim. Procurou um local onde pudesse observar entradas e saídas da empresa Figueira & Laranjeira, impor/export. Ao fim de cerca de uma hora viu sair Idalina com um embrulho na mão. Desceu a rua até à estação do Cais Sodré, onde entrou. Cruzou-se com um homem a quem entregou o embrulho que transportava e seguiu o seu caminho. Este dirigiu-se para o cais e entrou num comboio que ia partir. Durante uns fugazes segundos viu-lhe a cara. Não havia dúvida, tratava-se do dito marido desaparecido. Rosalinda sentiu-se confortada. A investigação estava a fazer progressos. Uma facto estava comprovado, Idalina tinha programado o seu desaparecimento, como para negar a sua existência. Pensou que Joaquim Correia iria ficar satisfeito.
JCorreia adormeceu com o dia e com ele acordou. Durante as longas horas de sono perdeu um pouco a noção da realidade e achou estranho o ambiente envolvente. Ainda continuava nos anos setenta, na sequência da viagem a Freixo-de Espada-à-Cinta, com o Carlitos. Na sua mente persistia o dia do regresso. A sua vida dera um novo passo. Abamdonara o trabalho precário de vendedor de livros e estava a tirar o curso para ingressar no metropolitano como maquinista. Iria fazer parte dos quadros da empresa, com uma situação mais estável, o que também teve reflexos no seu estado de espírito.
Ao entrar no restaurante onde costumava jantar, viu a actriz Irene, sua vizinha, sentada snuma mesa, sem acompanhante. Com o restaurante cheio, perdeu a vergonha, e perguntou-lhe se se podia sentar. Irene sorriu e disse que sim. Foi o início de uma relação amorosa, livre e sem compromissos. Irene era liberal na política e nos costumes. Tirava o melhor que podia de cada momento. Não lhe interessava qualquer compromisso sério, queria manter a sua independência e a sua liberdade. Para Joaquim Correia foi um período de aprendizagem sobre o mundo do espectáculo. Para além das aparências, apenas uma grande devoção à profissão mantinha muitos deles nessas actividades. Trabalho sempre precário, geralmente mal remunerado. Com excepção de alguns nomes mais famosos, a maioria dos artistas, vivia no limiar da sobrevivência. Joaquim que, em tempos, fora atraído pelas luzes da ribalta, e até fizera um perninha no teatro amador, percebeu essa realidade que estava para além da fantasia. Mas a relação com Irene foi um momento importante que apesar dos altos e baixos, deixou marcas na sua vida. Boa recordação de um tempo ao qual não se importava de voltar.
A campainha do telemóvel, trouxe-o de volta à realidade, como despertador que nos acorda para um novo dia, que de novo apenas tem um número no calendário.
-Alô, fala Rosalinda.
-Rosalinda? Mas por onde andas? Parece que não te ouço há uma eternidade. E muito menos te reconheço, nesse linguajar abrasileirado. Andas a ver muitas novelas?
-Nem por isso. Enquanto dormes eu trabalho, como me compete,-disse -procurando introduzir na conversa alguma ironia.
-Devo estar dentro de um sonho És mesmo a Rosalinda? Na investigação? Não me lembro de te dar nenhuma tarefa.
-Sou a mesma, sendo outra. Acordei cedo, estavas a dormir, e resolvi avançar. Tenho novidades. E vê lá se regressas à real. Toma um banho gelado.
-Caramba Rosalinda, mas que se passa. Deu-te para filosofar? E queres ocupar o meu lugar? Isto parece um golpe de “estadoâ€
-Ora,ora, nunca quis o que não me pertence. . Mas a sério, temos que falar. Porque não vens até ao cais Sodré. Há por aqui sítios simpáticos para almoçar.
-Combinado. Vou tomar um banho para ver se saio do estado catatónico.
JCorreia levantou-se. Sentia a cabeça pesada, e custou-lhe arrastar-se para a banheira. O estômago clamava por um antiácido. Quando a água quente começou a acariciar-lhe a pele, percebeu porque razão nunca tinha casado. Uma das razões era não ter de andar a toque de caixa de uma mulher, que era o que lhe estava a acontecer. Saiu do banho mais aliviado. Dirigia-se para a cozinha quando o telemóvel voltou a tocar. Atendeu. Uma voz que parecia vir do fundo de um poço disse-lhe. “Tome atenção e registe. Tenho informações sobre a Idalina que o irão surpreender. Se não quiser ouvir, desligue. Se estiver interessado, ouça sem interrupçõesâ€.

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« Última modificação: Outubro 03, 2020, 19:11:22 por Nação Valente » Registado
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« Responder #32 em: Setembro 12, 2020, 19:52:20 »

E  ouviu ou desligou? rsrsrs
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margarida
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« Responder #33 em: Setembro 12, 2020, 20:21:04 »

Saudades destas estórias Wink
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outono


« Responder #34 em: Setembro 12, 2020, 20:59:51 »

Goreti, não sei. Quem sabe é o JCorreia, se é que sabe. M
Margarida, também pode ler o "O rapaz do isqueiro assassino" de Gabriela de Sá.
« Última modificação: Setembro 19, 2020, 19:51:59 por Nação Valente » Registado
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« Responder #35 em: Setembro 18, 2020, 14:07:54 »

Sem cansaços de maior (teus, não da personagem), siga! Mais de 1300 leituras valem isso!
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outono


« Responder #36 em: Setembro 19, 2020, 19:50:12 »

XXI

JCorreia dirigia-se para a cozinha quando o telemóvel voltou a tocar. Atendeu. Uma voz que parecia vir do fundo de um poço, disse: “Tome atenção e registe. Tenho informações sobre a Idalina que o irão surpreender. Se não quiser ouvir desligue. Se estiver interessado, ouça sem interrupçõesâ€.

Jcorreia clicou no botão desligar. Viera de outro tempo. O que mais o assustava era ser comandado pela tecnologia. E enquanto tivesse poder sobre ela, iria exercê-lo. Decerto que a utilizaria para falar com o Doutor Carlos Madeira, da Ordem dos Advogados. Conheceu-o quando frequentou a Faculdade de Direito, que abandonou precocemente. Seguiram caminhos diferentes, mas mantiveram a amizade cimentada nesses tempos. Precisava de informações sobre a doutora Laura, e Madeira era a pessoa indicada. Com o telemóvel amordaçado, entrou na cozinha. Preparou e bebeu um chá digestivo para acalmar a ressaca. A luz do sol matinal que lhe entrara portas adentro, como sempre fazia, causava-lhe tonturas. Fechou cortinas e sentou-se. A criação do detective  JCorreia para ocupar a disponibilidade  depois da aposentação, estava a arrastá-lo para um pesadelo. Pensou que mais valia ter ocupado o tempo a escrever as suas memórias, ou quiçá, romances policiais. Material não lhe faltava. Mas lia poetas e prosadores e chegava à conclusão que não tinha unhas para tal guitarra. Escasseavam-lhe as metáforas, não era bem recebido por figuras de estilo. Por isso, quis continuar a ser polícia.
 O mais curioso é que ser polícia nunca fora um sonho. Como em muitas outras coisas do seu percurso, aconteceu por acaso. Apareceu a oportunidade, sentiu que era mais uma rua que se abria e que não se importava de percorrer. Concorreu, foi admitido, fez a formação, e viu-se polícia. Às vezes, pensava que estava no seu ADN. O seu pai fora transitoriamente Guarda Fiscal e o seu avô Guarda Republicano. Parecia estar no destino da família.
O seu avô, Baltazar Correia, entrara para a GNR depois de ter terminado a Primeira Guerra Mundial. Mobilizado em 1916, para fazer parte do Corpo Expedicionário Português, que ia combater para a Flandres, ainda pensou desertar. Para tal contribuiu um oficial antiguerrista da sua unidade militar. Quando foi à terra, de licença, com o seu amigo de infância, Baltazar ponderou essa possibilidade. Tinham nascido no mesmo dia, eram companheiros inseparáveis , quase irmãos, e até namoravam duas irmãs gémeas. Na véspera do regresso ao quatel o seu amigo foi perentório.
-Baltazar, já decidiste se voltas? Eu não vou voltar até terminar a maldita guerra.
-Até aquele dia sempre tinham chegado a acordo sobre o que fazer. Baltazar, olhou-o nos olhos com tristeza e disse:
-Amigo, sou republicano desde que me conheço. Se o governo da República decidiu ir para a guerra para defender os nossos interesses, estarei presente. Amanhã sozinho ou acompanhado regresso ao quartel.
 
Baltazar fez pela primeira vez a viagem até ao aquartelamento sem a companhia de Gaspar. Uma viagem a pé subindo e descendo montes, que lhe pareceu mais longa que o habitual, talvez por a fazer  sozinho. Durante o trajecto assaltava-o uma dúvida: quem estava a ser mais corajoso? Ele que ia para uma guerra, ou Gaspar que se assumira como desertor? A solidão que se lhe colava à pele  iria acompanhá-lo nos anos seguintes.

 O seu regimento ter partido para Tancos a fim de fazer a preparação militar adequada aquele conflito. A viagem para França iniciou-se com o embarque no cais de Alcântara em 23 de Abril, de 1917,e terminou com a chegada à frente de combate, após uma nova formação militar na Flandres, para adaptação à guerra de trincheiras. Foi um período muito complicado. A longa viagem, a falta de organização do exército, a adaptação a um clima chuvoso e muito frio.
Para quem vinha de um país de clima ameno, aquele frio que gelava corpo e alma, levava-o a pensar que talvez o inferno fosse melhor. Com o tempo, iria perceber, que o inferno só podia ser ali. A primeira experiência na linha da frente foi difícil. As trincheiras do sector entregue aos portugueses não podiam ter mais de um metro de profundidade, por se situarem num terreno pantanoso, tendo de ser completadas com sacos de terra na superfície. O espaço era exíguo, lamacento, silencioso. Era preciso estar sempre atento ao inimigo. A pressão física e psicológica era constante. Baltazar que nascera e vivera numa aldeia, e estava habituado a condições de vida duras, teve momentos de desânimo. Ir à terra de ninguém e ver restos de corpos, agoniava-o. Piolhos, pulgas, ratos, estavam sempre presentes. Baltazar nunca se esqueceu do poema musicado, “O piolho do soldado†que se cantava na frente. Joaquim lembra-se de o ouvir repeti-lo, de vez em quando, cantarolando uma ou outra estrofe:

O piolho lá na frente
Acompanha toda a gente,
É deveras um guerreiro
Quando sente o alemão
Ferra logo o seu ferrão
E põe alerta o seu dono.

JCorreia sentia-se um pouco perdido. Interrogou-se se teria seguido o caminho certo, tal como o seu avô o seguira, quando decidiu ir combater contra os alemães em 1916. A gata Judite apareceu como vinda do nada, e distraiu-o das suas reflexões.
-Por aqui Judite? Apareces e desapareces quando te apetece, e decerto que não te angustias. Andas a espiar-me? Uma coisa te digo, não vais conseguir captar os meus pensamentos. Que sabes tu das guerras dos humanos? Escaramuças entre gatos comparadas com isso, são brincadeiras. Adiante. Tenho de ir ter com a Rosalinda. Já estou atrasado. Mas antes de ir vou dar de beber à dor. Apenas dois goles de “visque†para ganhar coragem. Tu não viste nada.

Rosalinda estava à sua espera numa pastelaria com vista para o rio. Enquanto aguardava por JCorreia, apreciava o movimento dos barcos a subir e a descer. Este avisara-a que chegaria depois do almoço. Entrou e viu-a a folhear um jornal enquanto bebia o café. Sentou-se. Uma menina com um ar muito jovem perguntou:
-O que vai pedir
-Quero uma meiga de leite, respondeu.
-Não devo ter ouvido bem...é uma meia de leite?
-Não. Uma meiga de leite, insistiu.
-Não sei o que é?
-Não sabe? Está mesmo à minha frente, novinha e meiga. Há lá coisa mais saborosa que uma meiga de leite, para levantar o ânimo, a um quase ancião. Com respeito e boas intenções.
A jovem corou ligeiramente, sorriu e disse:
-Estou a trabalhar, e não costumo brincar em serviço. Só depois de sair.
-Não ligue-disse Rosalinda-traga a meia de leite.
A moça afastou-se. Rosalinda falou:
-Que se passa Joaquim? Não te reconheço. Não te conhecia esta faceta. A galantear jovenzinhas? Ainda te acusam de assédio.
-Espantas-me Rosalinda. Até parece que tens ciúmes. Será por o trambolho do teu marido estar engavetado?
-Voltastes a beber, Joaquim? Só pode,
-Admito, e não posso. Mas a barra está a ser pesada. Deixa-me disparatar. Se me encontrares com um copo de liquido amarelo, tens campo livre para me dares uma chapada. Mas afinal, quais são as novidades?
Rosalinda, contou-lhe o que tinha descoberto quando seguiu Idalina, a cliente do caso do marido desaparecido. JCorreia, ouviu-a com toda a atenção, e respondeu.
-Fizeste um bom trabalho. No entanto, considero que estamos a seguir uma pista falsa. Esse caso parece-me uma manobra de diversão. Vamos concentrar-nos na doutora Laura. Já marquei um encontro com um amigo da Ordem dos Advogados. Depois, se for o caso, voltamos à Idalina.

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Maria Gabriela de Sá
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« Responder #37 em: Setembro 19, 2020, 23:02:55 »

Até parece que anda a ver telenovelas onde há maridos desaparecidos, quiçá, mortos...
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« Responder #38 em: Setembro 23, 2020, 19:21:27 »

Pode não ter andado a ver novelas, mas a história dava uma. Bem melhor do que as que tenho visto. São poucas, mas tão más que nem sei se tenho azar ou se é tudo assim.
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outono


« Responder #39 em: Setembro 25, 2020, 19:06:35 »

XXII
-Fizeste um bom trabalho. No entanto, considero que estamos a seguir uma pista falsa. Esse caso parece-me uma manobra de diversão. Vamos concentrar-nos na doutora Laura. Já marquei um encontro com um amigo da Ordem dos Advogados. Depois, se for o caso, voltamos à Idalina. O Carlos Madeira ficou de se encontrar connosco, mais ou menos daqui a meia hora. Vamos esperar.

JCorreia saboreou a meia de leite, trazida pela meiga de leite. Fez silêncio. Concentrou-se no rio e nos barcos, pequenos, grandes, médios, que sulcavam as suas águas. Rosalinda percebeu que o seu primo detective se refugiara na nostalgia que aquele curso de água lhe causava.
-Olá Joaquim, ainda cá estás? -  disse Rosalinda
-Estou e não estou. Quando olho para o Tejo, tenho a sensação que estou a viajar, por desvairados espaços e tempos. Já pensaste, Rosalinda, que segredos  esconde nas suas memórias milenares. Por este rio navegaram povos mediterrânicos, povos vindo do Norte, gentes de muitas religiões e culturas. O Tejo criou esta cidade, acarinhou-a, rejeitou-a, mas nunca a abandonou. Pelas suas águas chegaram comerciantes, guerreiros, invasores. Romanos moldaram Lisboa na fé cristã. Ãrabes e Berberes adaptaram-na aos ensinamentos do Corão. Cruzados resgataram-na para o cristianismo, no apoio ao fundador da nação. Mas por detrás destas linhas da grande história, quantas estórias da pequena história, dormem neste belo rio. Felizes, dramáticas, trágicas…

-Também me vejo nessa história, qual moura encantada, pelo seu amor a um cristão, disse Rosalinda, procurando seguir o raciocínio de Joaquim, o homem despido das vestes de policial.

-Todos nós, com mais ou menos encantamento, fazemos parte dessa pequena história, que se apagará com o nosso desaparecimento. O que se torna perene são grandes feitos. A partida das caravelas para navegar por mares desconhecidos. O seu regresso com riquezas e gentes de outras latitudes. Mas quem deu corpo a essa gesta foram cidadãos anónimos como nós. Pequenos contributos individuais, num esforço colectivo. Um povo que desde a fundação da nacionalidade esteve ligado ao mar.

-Às tantas o rio também nos observa, - interrompeu Rosalinda, comum  ligeiro sorriso – eu e Damião conhecemo-nos num barco que ia de Belém para a Trafaria, de onde seguíamos para a praia da Costa. Foi uma atracção instantânea.
  
O rio assistiu e continua a assistir – continuou Joaquim sem se se parecer interessar, pelas viagens da Rosalinda. -  Viveu o cerco dos Castelhanos no século XIV, viu partir a corte para o Brasil, assistiu à ida da revoada de jovens para a guerra colonial. Também embarquei em Alcântara para defender os pântanos da Guiné. Ainda vejo os lenços a acenar no cais, enquanto o barco avançava rio abaixo. Tal como o meu avô quando partiu para a Flandres, mas sem lenços na despedida, porque estavam proibidas despedidas. Com o meu avô, antes de ir para a Guiné, tivemos uma longa conversa, onde tentou transmitir-me confiança e ânimo.

“Não costumo falar do assunto, mas como vais para guerra, vou falar da minha experiência. Quando embarquei para França tinha vinte anos. Não sabia se faria a viagem de regresso, se voltaria a ver a família ou a tua avô, com quem namorava e com quem esperava casar. Fomos transportados em barcos ingleses até França. Depois foram vários dias de comboio até à região do rio Lys, onde íamos combater os "boches". Mal preparados e com mau armamento, fomos colocados na frente, encaixados, entre Divisões inglesas. Desde a nossa chegada até ao início do ano de 1918, estivemos nas primeiras linhas, sem substituição. Estávamos seis dias na frente, e seis dias na retaguarda, chamada linha da aldeias para descansar. Na “front†,como se dizia, o descanso era mínimo. Havia constantes escaramuças.â€

-E calculo que a moral, estaria a ser afectada, ou não, avô?

“Sim, as condições que referi, não davam ânimo. Os nossos oficiais tentavam manter a disciplina, o General Tamagnini, comandante do C.E.P. e o General Gomes da Costa, comandante da 2ª Divisão, visitavam a frente e conheciam as condições. Passavam pelas passadeiras de madeira que construímos para não desaparecermos na lama, e sentiram a dificuldade em equilibrar-se naquele piso molhado e escorregadio. Mas a sua capacidade de acção era limitada pela vontade dos políticos que estavam em Lisboa.â€

-Os políticos avô, decidem as guerras, mas não as combatem. Um teórico militar alemão, que escreveu um tratado sobre a guerra, sintetizou o seu pensamento numa frase: a guerra é a continuação da política por outros meios. Porra, eu diria que se existe guerra é porque a política falhou, e é incompetente. Nós, a arraia-miúda, é que damos o coiro.

“É verdade Joaquim. Resta-nos tentar sobreviver. Para que servem heróis mortos? Em Janeiro de 1918, os ataques dos boches começaram a aumentar. Os bombardeamentos eram constantes, no nosso sector, talvez por saberem  ser o que estava mais frágil. Foram pedidos reforços, prometidos, que nunca chegaram. Além disso, aguentámos durante meses sem ceder um milímetro. Na dia 8 de Abril, os alemães reforçaram as suas tropas em frente ao nosso sector. No dia 9 de Abril, acordámos com mais um bombardeamento. A pouco e pouco percebemos que era mais violento.â€

-Os ingleses sempre desvalorizaram essa batalha. Para eles, avô, a batalha de La Lys, foi apenas um episódio de uma invasão mais ampla. Mas estudos recentes mostram, que que o ataque ao sector português, foi uma estratégia preparada durante meses, com a intenção de ultrapassar o rio Lys. O comando inglês também foi surpreendido.

"O que sei foi o que vivi. Ao nascer do dia, o bombardeamento  continuava. A nossa linha da frente tinha sido destruída. Eu estava lá e sobrevivi. Tivemos de recuar para o que se chamava linha B. Começou então a invasão da infantaria inimiga, em pequenos grupos. Penetraram primeiro pelas nossas laterais, onde os ingleses começaram a recuar. Não se via um palmo à frente do nariz devido ao fumo dos disparos, e a um nevoeiro cerrado. O tempo tinha-se aliado aos "boches". Com o recuo inglês, começámos a ser atacados pela frente e pela retaguarda. As comunicações foram cortadas. Não havia linha de comando. Era cada um por si.  A única informação que chegou à frente, vinda do comando inglês foi: “morrer na linha Bâ€. Depois  de varridos a metralhadora, lutava-se corpo a corpo. O meu pelotão foi passado a baioneta. Sobrevivi com três companheiros. No meio daquela bagunça, devem ter-nos confundido com alemães, até pela cor dos nosso fardamento. Conseguimos recuar até à linha da aldeias, exaustos e sem munições. Senti que a morte andava por ali, mas ignorou-me. E aqui estou. Espero que aconteça o mesmo contigo, mas faz por isso.â€

-O avô sobreviveu, mas houve centenas de mortos, e de milhares de prisioneiros. Do lado alemão as baixas ainda foram  maiores. Ao contrário do que conta a história inglesa, a resistência do sector português foi fundamental para que os alemães não chegassem onde pretendiam. E deu tempo aos ingleses para reforçarem a retaguarda.

“Eu sei José. No fim do dia 9 ainda se combatia naquele sector. Os alemães tinham sido treinados, como nós, como máquinas de guerra, e como nós, matavam para não morrer. Fui feito prisioneiro ao anoitecer, mas a batalha continuou nos dias seguintes.â€

 Rosalinda reparou num homem que entrou na pastelaria, e estava a olhar para a mesa onde se encontravam. Parecia ter, mais ou menos, a sua idade. Alto e magro, cabelo encaracolado, com a cara semiescondida nuns óculos escuros, podia ser um agente secreto vindo do Norte da Europa. Aproximou-se.

-Boa tarde. Bons olhos te vejam Joaquim. Depreendo que a tua acompanhante seja a Rosalinda.
-Viva-respondeu JCorreia-obrigado por vires. Apresento-te a Rosalinda, ao vivo.
-Muito gosto “senhoritaâ€. O Joaquim já me tinha falado de si, mas excedeu as minhas expectativas. É muito bonita.

Perante o embaraço de Rosalinda, JCorreia interferiu.
-Rosalinda, o meu amigo Carlos, sempre foi um sedutor. Na faculdade nem te conto. E é mais homem de galão bem escuro, que de meiga de leite, mas é um cavalheiro.
-Obrigado, pelo galanteio - respondeu Rosalinda - já recuperada do impacto. E obrigada por se ter interessado pelo assunto do meu marido, fez questão de frisar.
-Quem se interessa por esse caso,-disse Carlos-é a doutora Laura Castro. O meu papel, a pedido do Joaquim, é confirmar que ela é nossa associada, e que exerce  advocacia.

-E que mais podes acrescentar?-perguntou JCorreia
-O que sei é que é uma boa profissional. Foi uma das melhores do seu curso - enfatizou Carlos. Consta que teve uma infância difícil. Foi criada apenas pela mãe, que parece que esteve ligada à prostituição e consumo de drogas, acabando por se reabilitar. A entrada para Direito está relacionada com um desejo da sua mãe. Não sei muito mais. Ela evita falar do passado.
-Obrigado mais uma vez doutor Carlos. Irei aceitar a oferta da doutora Laura para assumir a defesa do Damião.
-Posso fazer-lhe um pedido, Rosalinda? Trate-me apenas por Carlos. Para mais é familiar do Joaquim. Somos amigos há muitos anos. E a propósito quando é que fazemos uma patuscada, extensiva à Rosalinda?
-Havemos de combinar.

Quando Carlos saiu, Joaquim olhou para Rosalinda, e deu uma gargalhada.
Qual é a graça? – disse Rosalinda procurando manter-se calma.
-A graça, Rosalinda , é que parece que arranjaste um pretendente. Se calhar o Damião tem razões para ser ciumento.
-Pretendente ou não, acho-o atrevido e pretensioso. Sou casada, e mesmo que não fosse, não estou em saldo - disse Rosalinda -denotando alguma irritação.

-Claro. Viramos a página.-- concluíu JCorreia, para encerrar o assunto -  Acabei de receber uma mensagem. Diz assim.

Já telefonei e desligou-me a chamada, mas vou dar-lhe a informação. É do seu interesse. Idalina e Ernesto não são casados, nem podem. São irmãos. Viviam juntos e faziam-se  passar por um casal. Agora se era a sério ou a fingir não sei. Talvez lhe interesse descobrir, se não for detective de faz-de-conta.

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« Última modificação: Setembro 25, 2020, 21:11:21 por Nação Valente » Registado
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« Responder #40 em: Setembro 25, 2020, 20:35:14 »

Não há aqui um erro histórico?

"Em Janeiro de 2018, os ataques dos boches começaram a aumentar. Os bombardeamentos eram constantes, no nosso sector, talvez por saberem  ser o que estava mais frágil."

Abraço
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outono


« Responder #41 em: Setembro 25, 2020, 21:31:49 »

Existe um erro, e bastante evidente. Só podia ser 1918. Li e reli o texto, e escapou-me. Obrigado pela leitura e pelo aviso. Está contratada para revisora.  :fixe:
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« Responder #42 em: Setembro 25, 2020, 21:58:25 »

Abraço...
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« Responder #43 em: Setembro 26, 2020, 16:37:53 »

Faz de conta que é detetive? esperemos que não. A menos que mude o rumo à história de forma importante ou necessária.
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outono


« Responder #44 em: Outubro 03, 2020, 19:10:09 »

XXIII
Já lhe telefonei e desligou-me a chamada, mas vou dar-lhe a informação. É do seu interesse. Idalina e Ernesto não são casados, nem podem. São irmãos. Viviam juntos e faziam-se  passar por um casal. Agora se era a sério ou a fingir não sei. Talvez lhe interesse descobrir, se não for detective de faz de conta.

Rosalinda e JCorreia ficaram em silêncio, não tanto pelo conteúdo da mensagem, mas por estranhar a insistência de alguém que teimava em interferir nas suas investigações. JCorreia sentiu-se um pouco perdido, com a sensação que andava às voltas dentro de um labirinto. Olhou para Rosalinda e disse:
-Vamos sair daqui. Precisamos de reexaminar todos os dados e fazer uma reflexão.
-Concordo, respondeu Rosalinda, mas antes precisava de passar pela minha casa, para ir buscar mais alguma roupa.

Anoitecia quando chegaram o apartamento de Rosalinda. Um céu cinzento prometia chuva depois de um prolongado estio. Ao entrar no quarto, Rosalinda, emudeceu e ficou paralisada. jCorreia apercebeu-se e perguntou com alguma preocupação.
-Que se passa?
-Não acredito, respondeu Rosalinda, mal conseguindo articular as palavras. Vem ver. Está tudo virado do avesso. Alguém entrou e deu volta a tudo.
-Não há sinal de arrombamento- comentou JCorreia- portanto quem veio, tem a chave da porta ou é especialista em abrir fechaduras. De qualquer modo, não deve voltar, quer tenha ou não encontrado o que procurava. Vê se falta alguma coisa.
Depois  de terem observado todas as divisões, encontraram a mesma situação. Numa primeira observação Rosalinda pareceu-lhe que não faltava nada.  Portanto o motivo não fora o roubo. Tudo apontava, à primeira vista, para assunto relacionado com o Damião e o seu envolvimento no que está a ser acusado.
- Não mexas em nada - disse JCorreia -  lembrando-se da sua experiência de investigador policial.

Enquanto Rosalinda preparava um bacalhau no forno com migas alentejanas, JCorreia sentou-se na sua secretária e consultou os dossiês das investigações que estava a fazer, acrescentando os últimos dados. Ao mesmo tempo, tentou encontrar algum sentido para os casos que tinha em carteira, procurando estabelecer pontos de contacto. O caso do marido desaparecido, que não desaparecera, a estranha empresa de import/export, onde trabalhava a sua esposa que não o era, a misteriosa e esquiva Gata dos Telhados, (que soubera do rapto de Rosalinda e ajudara no seu resgate), a prisão de Damião, a generosidade da advogada Laura.  Parecia ser um puzzle de difícil resolução. Sentia-se bloqueado, como num beco sem saída. Seria um detective de faz de conta, como o desafiara o autor da mensagem anónima?  Da sua experiência de vida, da sua actividade profissional sabia que não existia perfeição. Como costumava dizer um inspector da sua secção da PJ que gostava  de filosofar, quando as investigações andavam às voltas, como cão atrás do rabo, justificava-se:  â€œperfeito é Deus, mas não faz investigaçõesâ€. Mais,  naquele momento sentia que não passava de uma personagem de um romance, manipulada por um autor delirante, também perdido no labirinto que construíra.

Rosalinda aproximou-se para informar que o bacalhau no forno estava quase pronto, e concentrou-se na estante onde JCorreia guardava os livros que fora comprando durante a sua vida. Predominavam edições já bastante antigas.  O detective despertou das suas divagações e perguntou, com alguma ironia.
-Então Rosalinda que te atrai na estante? A desarrumação ou o interesse por algum livro? Desculpa a minha curiosidade, mas nunca te vi com esse interesse.
-Não é bem assim Joaquim, tenho observado a tua estante, não tanto por causa dos livros, com os quais nunca tive muita proximidade, pelas circunstâncias da vida, mas pelas fotos que aí estão expostas. Chama-me a atenção especialmente a foto desse senhor idoso, vestido de militar. Nunca tive coragem de perguntar quem era, por receio de invadir a tua privacidade.
-Os livros-respondeu Correia-são os meus amores. Amores sinceros. Nunca me traíram e muito me têm ensinado. Tenho aqui todos os clássicos da nossa literatura, e muitos da literatura estrangeira. Dos autores mais recentes, Saramago, Lobo Antunes, Erico Veríssimo, Jorge Amado, Modiano, Vargas Llosa, Garcia Marquez, entre muitos outros sem desprimor.
Tirou um livro da estante, mostrou-o a Rosalinda, e comentou.

-Este livro chama-se “Cem Anos de Solidãoâ€. Foi-me oferecido em meados dos anos setenta, como prenda de aniversário, por colegas da faculdade de Direito. Tem uma dedicatória muito sentida. Marcou-me muito. Uma história que li e reli, e que foi a base  de um trabalho na Universidade. Tive ao longo da minha existência vários vícios, mas o da leitura é o vício supremo. E ao contrário de outros, liberta e não faz mal à saúde. Devíamos experimentá-lo  Rosalinda, acredito que ias gostar. Quanto à foto do senhor vestido de militar, e com um bigode farfalhudo, é o meu avô Baltazar, depois de voltar da guerra.

Durante a refeição, JCorreia retomou a conversa sobre a fotografia que despertara a curiosidade de Rosalinda.
-Quando nos sentamos para comer não nos lembramos dos que não têm comida, e ainda são muitos. O meu avô, viveu paredes meias com a fome, durante os meses em que viveu no campo de concentração  de Duelmen,  depois  de ter sido feito prisioneiro pelos alemães. Os prisioneiros portugueses , no sequência da batalha de La Lys,  viviam  em péssimas condições. O meu avô, costumava comentar que a falta de alimentos de que algumas pessoas carecem, é uma brincadeira comparada com o que se passou nesse campo.

“Vi morrer muita gente, Joaquim, depois de terem passado por entre as balas, e de terem resistido ao ataque dos gazes.  No campo onde estive, os portugueses eram os únicos que não recebiam alimento do exterior.
Os franceses e os ingleses, recebiam todos os dias ração, proveniente do seu país, com base num acordo ente os países em guerra. Nós éramos alimentados com o escasso pão fornecido no campo, e que os franceses utilizavam como combustível para se aquecer. Eu tive sorte porque utilizei a minha profissão de sapateiro para conseguir enganar a fome. Arranjava o calçado de prisioneiros de outros países, e recebia como pagamento comida par me manter vivo, e para ajudar outros  prisioneiros. O mesmo não aconteceu com um número elevado de camaradas, que acabaram por sucumbir. Mal alimentados não resistiam a um simples constipado.
Os que viveram para contar, como eu, tiveram a sorte de ser ajudados, por soldados de outros países. A temperatura era outro inimigo, em instalações de madeira sem nenhum conforto. A roupa era a que tínhamos no corpo, e se a tirássemos para lavar, acabávamos  por a vestir ainda húmida. Os alemães também nos utilizavam em diversos trabalhos. A vida no campo era muito dura. O risco de vida imediato não estava presente como na frente de combate, mas o perigo de uma morte lenta, dependia do tempo que ali estivéssemos.
Depois da guerra terminar ainda ficámos algum tempo à espera de negociações do nosso governo com os alemães e da disposição dos ingleses para fornecerem o transporte para o regresso.  Quando cheguei à aldeia, a minha mãe não me reconheceu de imediato.

Nem estava à minha espera. Não fora informada da minha prisão, fazia parte do rol dos desaparecidos, o que queria dizer que tinha ido desta para melhor. Mas a tua avó continuava a esperar-me, apesar da tentativa dos seus pais para a casarem com outro. Não queriam que casasse comigo
.

-A minha mãe também passou muitas dificuldades, como sabes, mas nunca nos deixou passar fome - disse Rosalinda -  e mudando de assunto perguntou: então o que achas do meu bacalhau?
JCorreia esboçou um sorriso de aprovação e não respondeu porque  foi interrompido pela campainha do telefone. Levantou-se para atender:
-Está?
-Fala Laura de Castro. Podem vir amanhã às dez horas, ao meu escritório, para continuarmos a nossa conversa?
-Está bem doutora. Lá estaremos, disse JCorreia depois de olhar para Rosalinda.

Continua
« Última modificação: Outubro 03, 2020, 22:04:03 por Nação Valente » Registado
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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
Agosto 14, 2023, 16:53:06
Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
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Boa feliz noite para todos.
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Bom fim de semana para todos
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Boa quinta para todos.
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Boa noite para todos.
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Boa noite feliz para todos.
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Bom domingo para todos.
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