Alucinações - FIM

[Goreti Dias]

...


   18 horas
   A cabeça rodopia-me, a dor é lancinante. Procuro um pequeno frasco de esferazinhas vermelhas. Espalho-as sobre a colcha branca da minha cama e pego uma com as pontas dos dedos, depois outra, mais outra...
   A colcha está branca de novo...
   Fixo os olhos nas luzes que brilham no candeeiro de cristal e o sol brilha. Ofereço o meu corpo aos seus dedos quentes e sensuais, alongo-me numa preguiça doce de felino. Olho bem dentro da sua imensidão até não ver mais nada a não ser o verde dourado de campos que já quase esqueci. Mergulho neles docemente e possuo a sua alma colorida de mil margaridas azuis. A minha alma está enfeitada de margaridas brancas que eu não queria. Fossem elas de outra cor e maculariam as suas até ficarem todas (as minhas e as suas) da mesma cor. Então, o sol emprestaria brilho à Lua e não haveria noite. O dia perpetuar-se-ia límpido e sereno para todo o sempre. Não haveria um homem e uma mulher, apenas Um.
   O Uno, o Absoluto, o Infinito estavam, afinal, ali na minha mão que se começa a crispar.
   

   ...


   Uma chave começa a rodar na fechadura...   
 

[Marília]

Guida parte com a alma cheia de margaridas brancas enquanto queria seu encontro com as azuis. A chave que roda na fechadura, roda tarde. Era um carro veloz por fora, mas lento por dentro.

[Goreti Dias]

Obrigada amigas. Terminou este conjunto de "alucinações" de Guida... quem leu todos os episódios percebeu certamente que a advogada que falava no presente era Guida e que as alucinações que aqui se descreviam não eram mais do que recordações do seu próprio passado. A visão da paisagem proporcionada pela janela do seu escritório e a visão da porta do seu colega de profissão traziam tudo à sua memória. À medida que as "alucinações" se tornavam mais dolorosas, o tempo em que decorriam também diminuía... até não lhe serem mais suportáveis! Regressa a casa, mas a chave que deu ao seu grande amor roda na fechadura talvez já não a tempo... O amor e o desamor, a ilusão e a desilusão não são pacientes...

Um abraço para quem me acompanhou!

[Mel de Carvalho]

Minha amiga,
alucinada fiquei ao ler este texto. Da realidade à ficção, a medida é aquela que cada um desenhar para si mesmo.
Existem momentos em que as Guidas deste mundo desejam mesmo "  O Uno, o Absoluto, o Infinito estavam, afinal, ali na minha mão que se começa a crispar." e, no descontrole das emoções encontram o caminho da pilulas vermelhas ...

Um abraço, minha amiga. Belo e triste de tão real(mente) possível.

[Goreti Dias]

Obrigada pela leitura atenta dos episódios. Só a leitura de todos permite compreender a extensão do contado.
Beijo

[margarida]

Gostei do fim. Vou tentar ler o resto para perceber