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Parte 1
Afocinha-se a caçada aos gambozinos. Durmo no carreto, procuro o recanto sombrio, espero caçá-los, partindo de uma táctica xadrezista vexatória, o famoso gambito português! As rodas chiam, ranjo os dentes, debaixo da nuca usufruo dos três livros que por preguiça não leio, contudo andam comigo a tempo inteiro. São a minha almofada sem fronha.
Primitivamente considerara que as causas do entorpecimento incidiam na falta de oxigénio ou nas viagens longas à luz do Sol másculo e da escassa humidade, no entanto quando fui lá para a Serra, para o cúmulo de baixa pressão e menos florestação, o grau de sonolência estacionava no padrão da série de estradas que cruzava num frete de milho, de galináceos, de ovos, de hortaliça, de feijão, de pó, de bicharada e de esplendor energético.
O frete do frete, as minhas mãos outro frete, no A-1 o carro o frete, na nacional as minhas mãos e o carro o burro de carga, lento não só por causa da genética, mas também pela albarda que lhe impunham, pé no travão a cada dois quilómetros e uns metros e telemóvel às dentuças que relampejam no chumbo. Franja gelatinosa, um cabelo espigado em forma de Z, de função de variável complexa e de Zorro.
Ah, mas eu espalhado pelo banco como uma báscula pegajosa, a olhar o cabelo viscoso do condutor, remexendo a minha mão no blocos-notas molotov. Sonho finalmente.
«Quantos anos tens?»
Digo olá à minha idade. — “17.â€
Dá as boas-vindas à quele número. Apresento compaixão pela velha. Digo-o presunçosamente. Pena de mim tem ela, das minhas atitudes ribeirinhas e grosseiras. Capturo os seus olhos verdes no reflexo do vidro. Agora a Ford Transit desmarca-se de um Cadillac, fica de recuo. Ela não me perguntara a idade, ia isolada agarrada a um volante com Airbag! Todavia ao longo da minha subsistência muitas pessoas o perguntaram após circunstâncias em que eu baloiçava em plena terra e não sucumbido pela inércia do veÃculo, justamente pelo destaque dos meus erros, estampados nas minhas unhas, nos meus sinais, com a aparência do feminismo da publicidade de uma lingerie da Triumph, daquela ousada sinuosidade que coagia o condutor a afrouxar!
Espera lá Pedro Jorge. Tu referiste, num invólucro de arrogância, que te perguntam a idade, te perguntam os anos e de uma maneira indirecta, que pela tua falta de precisão ao responderes, por nunca especificares os dias que se opõem ao arredondamento, te esqueces que procuram a tua data de nascimento, e por esses motivos pensas que não te interrogam a idade! A hora de seres tu a dares o passo, a questionares a tua data-de-nascimento, 29-09-1989, chegou! Pedro Jorge, a data de o fazeres está iminente. E isso mesmo, eles perguntam-te porque sabem o teu nome, e agora irás tu perguntar o teu nome! Hás-de questionar as horas a que te deram à luz! Pedro Miguel Rodrigues Jorge, porquê esse nome? Que mensagens subliminares terá? Que método aplicarás para as validares? E conjugares a data e o nome e as horas e alguns números na identificação, tornaria o processo congruente?
A senhora já se afasta nas imediações da La Redout. A A…-…6-82 falha o verde, fica-se pelo vermelho. Outros caixotes aderindo às linhas concorrentes ressaltam, a tal se sucede um abatimento acanhado dos amortecedores, num game mod do Crazy Taxi.
Esperas ansiosamente que o xaveco comercial arranque e que te sujeites à sua velocidade. O laranja na outra entrada pisca. Arreganhou-se o verde, pinchou o escape e a borracha dos pneus, arrancaste. Puxas da caneta e escreves, escreves 29-09-89 e Ped… olhas para o resto da página em branco, dizes: “Definitivamente esta carrinha é uma buena-dicha, qual Cadillac SRX!â€.
**Continua recorrendo a um estilo totalmente diferente.***