A tísica

[Antonio]

Uma peripécia que ouvi a meu pai, várias vezes, passou-se no Porto do final dos anos 30, início dos anos 40.
No tempo em que os rapazes, e mesmo alguns cavalheiros, íam para o passeio d’ ”A Brasileira”, mesmo ao fundo da rua de Sá da Bandeira, onde havia uma paragem dos eléctricos.
E os malandrecos estavam lá para conversar? Sim! Mas também à espera que as meninas subissem para o velho transporte citadino e deste modo poderem ver-lhes o tornozelo. Leram bem! O tornozelo! De facto, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Por essa altura, seria o meu pai um adolescente ou pouco mais do que isso, mas trabalhava desde os 9 anos pois a vida fora-lhe madrasta. E como o fazia na baixa portuense podia também apreciar essas “impúdicas” exibições.
Mas era também o tempo da tuberculose.
Doença terrível, que já vinha, há muitos anos, dizimando famílias, por vezes inteiras, sem escolher condição social e económica, tal a facilidade de transmissão do bacilo de Cock, sua causa.
Não sei exactamente quando foi descoberto o melhor tratamento e, sobretudo, a vacina contra a epidémica maleita. Penso que por essa altura já o teria sido. Mas a implementação de um sistema de profilaxia e vacinação não se fazia de um dia para o outro.
E mesmo com o sistema em funcionamento, muita gente continuou a viver com o medo de apanhar uma tísica.
Era o caso de um tal senhor Menezes, pessoa de meia idade, sempre vestido a preceito com terno, gravata e o respectivo alfinete, relógio de ouro com corrente guardado no bolso do colete, emblema na lapela, sapato brilhante de graxa bem polida, bigodinho bem aparado, polainas e ceroulas no inverno e o imprescindível chapéu, colocado a preceito, que era ligeiramente levantado da cabeça para saudar alguém conhecido, como complemento de uma vénia, de acordo com as regras da etiqueta.
Pois o Menezes, que constava ser homem de posses e vivendo dos rendimentos, era pessoa bem conhecida e muito cumprimentada.
Mas, não sei se por hipocondria ou não, tinha verdadeiro pavor de contrair tuberculose.
E como lutar contra semelhante praga quando as pessoas estavam constantemente a estender-lhe a mão para um caloroso aperto?
Ah, Menezes cuidadoso...
Um frasquinho de álcool no bolso do casaco e, após uma bacalhoada, discretamente, uma desinfecção das mãozinhas.
Outro aperto de mão, outra desinfecção.
Discreta, muito discreta, pois não podia ser visto sob pena de tal gesto ser considerado ofensivo para os cumprimentadores.
Claro que muitos o viam, incluindo o meu pai.
Mas a realidade é que o cavalheiro lá ía evitando a maldita doença.
Um dia, o meu progenitor lembrou-se de que não via o Menezes há algum tempo. Resolveu perguntar a pessoa do seu conhecimento que era feito do senhor.
- Morreu, coitado!
- Sim? E de quê?
- De tuberculose!

[Goreti Dias]

Credo! Isso foi por se desinfectar demais...
um abraço

[Antonio]

Não!
Desinfectava as mãos mas não desinfectava o ar...eh eh
Beijos

[mimi]

Nossa ! Sabe depois eles falam por que oa japonese não comprimenta com as mão !
Você sabia que nós muçulmanos(as)  Mulheres quantos os Homem não podem comprimentar com a mão " estranhos "
É uma longa história ....
Beijos Mimi

[Antonio]

São as tais diferenças que, juntas a muitas outras, fazem as tais diferenças civilizacionais...
Beijo

[mimi]

Me de sua opinião , você acha que eles nós temos razão por não tocar , beijar abraçar um estranho é claro as mulheres tem suas leis que por ex:
Eu não posso dar as mão para qualquer um que seja apenas para os irmão de minha mãe e meu pai meus irmão e qualquer mulher o resto não posso tanto abraçar ou beijar sendo toque corporal ! apenas para aqueles "estranhos " coloco minha mão em sentido do coração
E mesma coisa para o lenço só meus parentes que pode me ver sem o lenço e nem todos apenas como eu te disse lá em cima ...
Abraços Mimi

[mimi]

Sei , que você vai falar como os outros que dizem ..." O que é bonito é para se mostrar " ...
Deixa eu ir ajudar minha mãe bye

[Antonio]

Tu vives no Brasil e sabes muito bem que esses comportamentos muçulmanos não se enquadram na nossa civilização.
Mas os muçulmanos são livres de terem as suas regras e de as aplicarem ou não.
Com uma restrição: não prejudicar terceiros.
Eis um exemplo radical: podem fazer-se explodir com bombas, mas não o devem fazer se matarem ou ferirem outros.
(mas este é o lugar de comentários para A tísica...)
Beijo

[mimi]

Mil perdão por entra em um assunto que não está sendo abordado ..........!
Isso não ira aconteçer mais !
Beijos bye

[Antonio]

De nada!
Beijo

[britoribeiro]

Esta tua crónica deve-nos fazer reflectir sobre a tuberculose, que ainda não está irradicada apesar de haver tratamentos preventivos e curativos, e sobre o papel que os paises desenvolvidos tem em matéria de saude publica.

Abraço

[Antonio]

Mas, felizmente, está longe de ter as implicações que teve no 1º quartel do sec. XX.

Abraço

[Antonio]

Este tem tido poucos leitores...
Então como é?

[Antonio]

Não se preocupem!
O texto não contagia a tuberculose...eh eh