AnaMar
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Por vezes descobrimo-nos através dos olhos dos out
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« em: Julho 26, 2009, 20:24:08 » |
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Levantou-se cedo apesar do cansaço. Há que ignorar forças que nos tolhem os movimentos e pensar que é a preguiça. Hoje , neste dia especial em que recebia mimos dos pais, independentemente da idade, resolveu partir numa viagem pela cidade, até à sua infância.
Trajecto longo. Mas a vontade de ficar no conforto dum espaço onde foi tão feliz, era mais forte que tudo. Vestiu branco e preto, uma túnica marroquina e calças de linho. Sentiu-se bem a recuar no tempo. Em que as maçãs eram o doce da ternura e as cerejas colhidas das árvores. Em tons de rubor de pureza anunciada.
São Paulo. A Igreja onde fez a primeira comunhão. A porta do prédio onde cresceu. O Elevador da Bica estava quase a partir, esperou por ela (sempre às voltas com a mala a abarrotar de inutilidades). A emoção de tantas viagens. Os mesmos lugares sentados e em pé. A mesma velocidade . O regresso ao passado. A chegada do fim da viagem. Virar à esquerda de encontro ao Jardim do Alto de Santa Catarina. Agora com esplanada. Magnífica. Quantas tostas mistas... Prefere encostar-se ao gradeamento (onde tantas vezes tentou passar o corpo para o lado de lá) e olha o Tejo. Quantas imagens ternas avista sobre os telhados da cidade. Tantas andanças de triciclo, saltar à corda, jogar ao ringue. Ecoam sons de gargalhadas, fresca, infantis, sem receio de serem escutadas. Ouve-se a si própria a rir do joelho esfolado, quando rebolava na relva. Nessa altura, o Adamastor era monstruosamente enorme e causava-lhe pesadelos.
A esplanada enche-se de jovens. Alguns idosos no bancos à sombra, no passeio.
Leva o livro de memórias, mas não consegue escrever. Deslizam as lágrimas por juras de amor eterno. Naquele jardim.
Deslizam lágrimas de felicidade pelo que teve. E de tristeza do que não terá, apesar das promessas. Sacode os pensamentos que se soltam nas lágrimas que os óculos escuros protegem de outros olhares.
O som da natureza impregna-se na alma remendada. O corpo está firme. Antes tivesse o corpo retalhado e a alma inteira.
Mas há dias assim: em que a saudade bate e o dia ferve.
Demora o sentir naquele espaço, que sabe poder visitar quando lhe apetece. Mas não é a mesma coisa sozinha. Tem vontade de visitar a creche-escola primária, mas não tem coragem. Tinha a promessa que a acompanhariam...
Escuta musica sem ouvir rádio.
Começa a descida pela Calçada que vai dar ao outro jardim da sua infância. Passeia-se com alguma rapidez. Muitas saudades para uma manhã. Tem que regressar a casa. E libertar-se em palavras. Apanha o eléctrico.
Não tirou fotografias.
Há momentos que se guardam com o coração; e para não doerem, não devem ser recordados com o olhar.
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