Goreti Dias
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« em: Setembro 15, 2009, 16:57:11 » |
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A gatinha Milu
Era uma vez uma gatinha chamada Milu...Ah! Como era linda e fofinha a gatinha Milu! A sua dona, a Sónia, era muito sua amiga. Milu dormia num lindo cestinho, com uma almofada no fundo, bem macia e confortável. Quem preparara esta caminha fora a avó da Sónia, numa noite, à lareira. E como ficara satisfeita, a sua neta! No dia seguinte, pegara no cestinho e pusera-o aos pés da sua cama. A partir desse dia nunca mais as duas se separaram. Nunca mais, é como quem diz!... Num dia frio e chuvoso de Novembro, a Sónia acordou mais tarde que o costume. Com aquele frio, a cama sabia tão bem! Quando se levantou, ai que susto! Foi à caminha da Milu para lhe fazer uma carÃcia e lhe escovar o pêlo como fazia todas as manhãs e ... Ah! Linda gatinha, onde te meteste? Milu, Milu ... Onde estás? Mas a gatinha, nada! Ninguém a tinha visto nesse dia. Sónia bem procurou debaixo da cama, nos cantos mais escuros da sala, da cozinha, da despensa, enfim, em todos os sÃtios onde pudesse caber uma gatinha. Não foi capaz de a encontrar. A partir desse dia, ficou sem vontade de brincar. Na escola, não prestava atenção ao que a professora dizia. Foi preciso, um dia, a professora chamá-la de parte, para uma conversa muito séria: - Então, Sónia, estás doente, dói-te alguma coisa? - Não, senhora professora, não me dói nada. - Estás triste. Aconteceu alguma coisa pela certa. Não estiveste atenta na aula. Queres falar sobre isso? E, então, a menina contou como tinha dado falta da sua amiga e chorou, chorou, enquanto a professora lhe passava a mão pelos cabelos e a sossegava. No fim, sentiu-se melhor. Depois, a professora falou com os outros alunos e explicou-lhes o que se passava com a Sónia. Explicou-lhes, também, que era altura de todos a ajudarem. Teriam que ser muito amigos dela, fazerem-lhe companhia, agora mais que nunca. Todos colaboraram. Até o Nuno que costumava embirrar com ela e chamar-lhe mimalha, se ofereceu para ir, todas as tardes, no fim das aulas, estudar as suas lições, em sua casa. Não fora a ajuda dele e o rendimento escolar da Sónia teria sido muito fraco nesse perÃodo. Entretanto... A gatinha Milu, saÃda de casa há oito dias, tinha encontrado um palheiro, no fim da aldeia, muito sossegado, muito quentinho mas... não tão confortável como o seu cestinho. Não fora fácil tomar esta decisão. Tinha muitas saudades da sua dona, mas temera que naquela casa não a aceitassem, depois de nascerem os seus filhos. O momento estava próximo. Tinha resolvido, por isso, procurar outro lugar para essa altura. E o melhor que tinha encontrado fora este, mesmo por cima do estábulo onde se encontrava uma vaca e um vitelinho, seu filho. Por isso, aquele lugar era tão quentinho. Os animais com o seu bafo aqueciam o ar. Afinal, era um bom lugar para os seus filhos. Frio não teriam. E comida? Bem, comida é que ia ser pior mas, pensando melhor, ela lá se arranjaria. Ratos não faltavam. Não estava, porém, habituada a isso. Em sua casa ( a outra, a de Sónia ) davam-lhe leite pela manhã. Ratos nunca tido necessidade de apanhar. Mas, que importava? O importante era não ser separada dos seus filhos. Chegou o dia tão esperado. Nasceram dois lindos gatinhos, castanhos como a mãe. Como ela estava feliz! Os dias foram passando, sempre iguais. De manhã, lambia os seus filhotes, para que o pêlo ficasse limpo e luzidio. Depois, bem, depois é que era pior. Deixava-os dormir e lá ia procurar, nos cantos do palheiro, ratos para comer. Os seus gatinhos ainda só mamavam mas, daà a pouco, teria que caçar mais, para que chegasse para eles também. Eles teriam que aprender primeiro a comer e só depois aprenderiam a caçar, para eles mesmos. Os ratos começaram a escassear dentro do estábulo. Teve, então, que se aventurar lá por fora, pelo campo. Caçava pardais. Isso, porém, era mais complicado. Eles eram rápidos. Quando se apercebiam da sua presença voavam e...lá se ia a caçada! Um dia... - Já estou a ficar farta disto! E tenho tantas saudades da minha Sónia! Como estará ela? Terá saudades minhas? Já terá arranjado outra para o meu lugar? Estamos perto do Natal e eu não vou lambuzar-me com as gulodices que ela me costumava dar. Ai aquelas rabanadas! Ai que a minha barriga até se zanga! Só ratos e pardais, e eu a pensar em tanta coisa boa! Um pintainho que por ali andava, um pouco longe das vistas da mãe, aproximou-se e perguntou, num fiozinho de voz: - Ó gatinha, porque são tantos ais? Partiste uma pata ou uma asa? - Nem uma coisa nem outra, pintainho. Nós os gatos, temos umas patas resistentes, não são como as vossas. E asas não temos, não reparaste? És muito novinho e não sabes nada da vida. A tua mãe também não te ensinou que deves fugir dos gatos que te podem comer? - Ai, gatinha, não me comas, não, que eu sou teu amigo. A gatinha riu-se da atrapalhação do pintainho e respondeu-lhe: - Não te atrapalhes que eu não te faço mal, também sou tua amiga. - Então conta lá. O que te aconteceu? Se não partiste nada, porque estás assim tão triste? A gatinha descreveu-lhe toda a sua preocupação e a tristeza que sentia. O pintainho coçou a penugem da cabeça com a sua pequenina asa e disse-lhe: - Olha lá! E se levasses os teus gatinhos contigo e voltasses à tua casa? Se calhar, a Sónia até ficava satisfeita! Estás tu para aà com essas coisas, e podes não ter razão. Vai lá, ganha coragem! Bem, eu sou ainda muito novo e entendo pouco destes assuntos. Vai pedir conselho aqui à nossa vizinha pata. A minha mãe diz que ela é muito sábia e amiga de ajudar os outros. Vai lá! A gatinha assim fez. Contou tudo à pata e, no fim, ela deu-lhe o mesmo conselho que o pintainho. Ainda se passaram alguns dias sem que ela ganhasse coragem para regressar. Até que... - Hum! Que rico cheirinho paira no ar! Cheira a sopas-secas! Ah! E a aletria! Querem ver?! Hoje é véspera de Natal! É dia de consoada! Mas que saudades da minha casa!... E se eu fosse até lá dar uma espreitadela? É isso! Vai ser hoje mesmo! Se bem o pensou, melhor o fez! Correu até ao estábulo. Os seus filhotes já brincavam com as pontinhas dos molhos de palha e já sabiam trepar a escada que dava acesso à parte de cima do estábulo. Explicou-lhes o que pretendia fazer nesse dia e lá foram, caminho fora. Ao fim de algumas horas estavam no jardim. Ainda havia sol no horizonte e, por isso, deitaram-se num cantinho onde alguns raios, como que envergonhados, iluminavam um tufo de relva fofinha. - Ah! Que bom! - disseram os gatinhos. E, enroscadinhos, fecharam os olhos num rom-rom tranquilo. - Mas que barulho é este?! - perguntou a gatinha Milu, assustada. Tinham chegado os primos e os tios da Sónia para passarem a noite de consoada juntos. Os primos faziam uma enorme algazarra, de tão alegres. Já estavam à porta da entrada... Foi, então, que... - Mas...Mas, o que é isto?! É ela! A minha linda Milu! Vem cá. Por onde tens andado? Ai que bom ter-te de volta! Sónia não cabia em si de contente. Tanto que nem reparou nos gatinhos! Milu soltou-se dos seus braços e pulou para junto da sua ninhada. Só então Sónia os viu e entendeu o que não pudera antes compreender. Foi um dia feliz, aquele. Sónia pegou nos dois gatinhos e, seguida pela Milu, entrou em casa. Preparou um cesto maior onde, todas as noites, passariam a dormir os três bichanos. E sabem o que fez a avô? Outra almofada? Sim, também isso, mas não foi só isso. Foi ao seu cesto de tricot e arranjou uma mão-cheia de novelos. Querem lá saber o que aquilo foi! Cambalhotas, corridas, dava gosto ver! Os gatinhos teriam, agora, novelos e fios de lã para brincar em vez de palha, como naquele dia de manhã. E foram felizes!
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