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Autor Tópico: Contos da Cidade Baixa: Necros (2 de 3)  (Lida 2207 vezes)
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NunoMiguelLopes
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Não vou gostar nada do dia de hoje, pois não?


« em: Outubro 06, 2009, 14:40:07 »

A porta da frente do edifício de seis andares estava protegida por uma tranca de combinação electrónica. Sinal de que o frankenstein que improvisei por instinto com um telemóvel, um GPS e um sistema de localização estava vivo e recomendava-se. Apesar da enxaqueca que só prometia piorar, intimei a tranca a dar-me passagem. Não era preciso anunciar a minha chegada, eu próprio o faria, se achasse necessário. Vi-me num átrio que era uma profusão de flores verdes artificiais em vasos de terra verdadeira e um painel de caixas de correio, quase todas cobertas de ferrugem e arrombadas. A única que resplandecia tinha por cima o mesmo nome que a voz ao telemóvel me dera. Era um nome que não queria dizer nada. falso como uma selva em vasos. Sexto andar, e não havia elevador. Subi a pulso.

Não me enganei quando pensei que o dono do nome escrito na contracapa do livro era o único inquilino em todo o edifício, talvez em todo o bairro. Mas ao passar pelas portas fechadas, consegui pressentir movimento no interior dos apartamentos. Cliques, ronronados e disparos eléctricos. Máquinas que dormiam muito perto do despertar e que resolvi não sondar por medo de as alertar da minha presença. Amigo não empatava amigo, mas nunca se sabia. Os tempos mudavam. Acordar aos saltos no tempo é como ler o jornal da semana passada e perguntar a cada notícia “quando é que isto aconteceu?†Impossível saber.

Não te sei dizer quanto tempo demorei desde que subi o primeiro degrau até me encontrar de frente para a porta com um seis e a letra D em metal lustroso à altura do meu nariz, ao fundo de um corredor espaçoso, mas às escuras, ladeado por flores imaginárias em vasos de barro que me tinham dado um trabalhão evitar. Um botão de campainha brilhava no escuro, variando entre o esverdeado e o rubro. Parecia novo e hi-tech. Tentei ler a porta e ela mandou-me passear. As luzes do corredor piscaram primeiro e depois estabilizaram num brilho cego. Tive de proteger os olhos com o “Eugénio†e quase fui ao chão. Não me apercebi no escuro, mas os meus sapatos surrados tinham acampado no mais lanzudo dos tapetes de boas-vindas. Do tipo que nos dava logo vontade de cagar em cima assim que os víamos à porta de algum otário.

A porta abriu-se e um velhote alto e magrinho com uma barbicha nevada à mosqueteiro espreitou das suas lentes grossas por entre uma fresta de segurança. Abriu a porta a medo, mas mesmo assim, abriu-a, e agora olhava-me a medo, apesar de tudo, olhando-me. Quando desci o livro da cara, o único olho distante e visível do homem abriu-se para mim. À revelia do bom-senso, fez o mesmo à porta. Pude vê-lo. Parecia um espírito despenteado todo vestido de branco. Roupão, pijama e chinelos de inverno.

“É um dos meus, não é?†Perguntou o velho que dividia o apartamento com o fantasma bem-educado de Marilyn Monroe.

“Sim†respondi. “Acho que sou. Lembro-me de si, Doutor. Lembra-se de mim?†Permiti-lhe algum tempo de resposta. Agradecido, acenou-me afirmativamente com um olhar míope, mas sonhador.

“Nunca me esqueci de nenhum de vocês, Roque. Era um rapazinho, mas lembro-me de cada homem e mulher que acordei. Heróis, todos.†O Doutor olhou-me de alto a baixo, agora demorando o tempo que fosse preciso. “Porque… porque o acordaram… nesse estado?â€

“Para matar uma pessoa†disse eu, e achei-o de repente muito pálido.

“Oh…â€

“Não o senhor†esclareci, no mesmo tom. Na verdade, até podia ser ele. Alguém seria, porque era sempre alguém. Mas, até ler o livro que me dão, nunca me dizem o que tenho de fazer. E ainda não o tinha lido. Sacudi-o na cara do velho, sabia que ele entenderia.

“Ainda vos dão clássicos para estimular o cérebro adormecido?†O Doutor abanou a cabeça. “Sempre achei isso uma parvoíce pegada. Mas é um bom livro. Um bocado complicado para os iniciados no soneto Pushkin, mas… Ah, esqueci-me de perguntar…â€

Convidou-me a entrar. Deve ter reparado que as minhas pernas tremiam. Necro ou não, galgar seis andares atiravam abaixo qualquer puto nascido na era dos elevadores e das escadas rolantes. A casa dele, Carmen, tinhas de ver para acreditar. Entrei para um hall de luz amarela com mobília vintage restaurada e envernizada que servia de suporte a uma colecção de vasos, bem mais pequenos que os do corredor lá fora e cada um com uma espécie diferente de flor falsa. Cartazes antigos de actrizes de cinema haviam sido emoldurados e pendurados por todo o lado. Eu esperava ver maquinaria estripada, monitores de computador a brilhar estática e até pequenas criaturas mecânicas a rastejar à volta dos meus pés, mas o lugar assemelhava-se mais ao domicílio de um reformado a viver tranquilamente os seus últimos anos numa cidade que não aquela. Um gira-discos rodava o que ele me disse com evidente deleite ser Ella Fitzgerald. Fazia-o num volume muito baixo, de propósito, para emprestar ao apartamento um aroma de eras que nem ele nem eu tínhamos vivido. Pela choradeira, desconfio que teria morrido muito mais novo. De enjoo.

Não sei bem como mas dei connosco sentados na sala dele, cada um na sua poltrona de estofos em amarelo suave. O Doutor parecia não notar. Ficara-me com o livro e folheava-o. Gabava-o, dizia que era muito bom, muito século XIX, sobre um tipo que não gosta muito de si, que se farta da boa vida e eu calado, à espera que o velho percebesse com quem estava a falar. Em vida, conseguia ler os sinais de trânsito e assinar o meu nome. Morto, fizeram de mim assassino e, mais presentemente, sou tu-cá-tu-lá com máquinas. Contudo, ainda estou muito longe de me interessar por livros e o doutor finalmente chegou a essa conclusão quando bocejei. Um necro não boceja. Calou-se e olhou para mim. Sorriu e pousou o livro, fazendo descer os óculos da testa para a cana do nariz.

“Desculpe. Sou um ermitão que obviamente não tem assim tantas visitas. Desconfio que não veio cá porque precisava da minha ajuda para decifrar o tetrâmetro iâmbico, pois não?â€

“A minha irmã…†disse eu. “Vocês acordaram-na.â€

“Nós…?â€

“Sim, vocês. Os Batas Brancas.â€

“Ah, mas repare…†- O Doutor ergueu as mãos a deflectir a acusação implícita no que eu tinha dito. “Já deixei o Consultório há muitos anos. Retirei-me. Quando começaram a reanimar pessoas que não tinham dado o nome à causa, incompatibilizei-me com a Ordem. Era voluntário, e trabalhava apenas com voluntários. Nunca fui um ladrão de sepulturas.â€

“Os Batas Brancas andam a acordar qualquer pessoa? Quando começou isso?â€

Ele contou-me a história, Carmen. Há coisa de dez, quinze anos, mais por causa da diminuição que as listas de voluntariado sofreram quando um de nós, necros, regressou à família e se recusou a deixá-la uma segunda vez. Para horror tanto da família, que já o tinha enterrado e chorado, quanto do Consultório. O incidente foi descoberto e a reacção da opinião pública quase decretou o fim do Consultório. Depois disso, os voluntários começaram a aparecer cada vez menos e a Ordem teve de se virar para outro lado. A tecnologia avançou muito. O Doutor partiu num vendaval de linguagem técnica e eu percebi tudo o que ele dizia, Carmen, acredita, mas fingi que estava a ficar aborrecido outra vez com a conversa. Quanto mais tempo passava ali sentado mais me apercebia do arsenal de equipamento oculto à minha volta, vivo e à espera. O velho estava a esconder tanto de mim quanto eu dele, mas a vantagem ainda era minha. Era a primeira vez que um necro tinha vantagem sobre um Bata Branca. Senti-me bem.

Todo o corpo me treme, Carmen. A minha mente está a sangrar. Aí vem ele. Poucaterra, poucaterra. Só mais um bocadinho.

O Doutor observava-me cautelosamente à distância duma mesinha de café. Contei-lhe a teu respeito. Que fui depositar flores na tua campa, como faço sempre que desperto. É a primeira coisa, desde que morreste enquanto eu dormia e a culpa não mais me deixou. Compro tulipas porque adoravas tulipas, e vou ao cemitério. Desta vez, não estavas lá. O talhão tinha sido… dado a outra pessoa. Quando lhe disse que procurei familiares teus, o homem quase perdeu a cabeça. Enterrou os dedos no cabelo branco, fez uma cara de terror. Sei que fui contra todos os protocolos, mas precisava de saber. Conheci… Carmen, conheci a tua neta. Telefonei-lhe e disse-lhe quem era. Isabela não acreditou, a princípio, que a voz que estava a ouvir era a do tio-avô que morrera muito antes dela ter nascido. Nem tinha muitas esperanças que viesse ter comigo. Mas veio. Esteve para não vir, disse-me ela, mas algo a puxou. O Doutor disse logo “curiosidade mórbida†mas eu não deixei que falasse mal da tua neta. Acho que o assustei, porque senti a vibração das máquinas no prédio tornar-se mais forte, mais hostil, aparelhos que piscavam, sibilavam, conspiravam, respiravam, sem que eu percebesse para que serviam. Mantive-me calmo. É verdade, afinal, que a morte pacifica a maioria das pessoas. Um outro eu teria deixado um trilho de corpos até te encontrar.

Ella Fitzgerald chegou ao fim e o gira-discos clicou duas vezes antes de trazer a agulha de volta ao princípio e recomeçar. A esta altura, o Doutor tentou convencer-me que a vida na Cidade Baixa é muito difícil. Como se tu e eu não fossemos filhos do alcatrão tóxico, das ruas perdidas. Perdemos os nossos pais, um de cada vez, Carmen. A cidade assustou a mãe ainda não tínhamos dez anos, e do pai tratámos nós. Mesmo assim, não arredou pé até que o cancro conseguiu fazer o que não fomos capazes. Ainda o enterrámos num cemitério a sério. Pensando nisso, será que o Consultório também o reanimou? Será que andamos todos por aí, uma família de mortos-vivos desencontrados na Cidade Baixa, a matar pessoas para os Serviços Secretos e a ler os clássicos? E se andar? Que ande. Não quero saber dele. Só te queria encontrar, Carmen. A tua filha não tinha o direito de te vender ao Consultório.

Quando tudo o que era bom se transferiu para lá das colinas, disse o Doutor, mastigando pêlos brancos do bigode grande demais, por aqui só ficou o que de pior havia. Coisas más e pessoas más. Esqueceu-se foi de mencionar o influxo de elementos piores ainda que se sentiram atraídos pela sensação de impunidade que um sítio onde nada acontece proporciona. Talvez fosse esse o caso dele. Não quis dizer. Depois duma longa pausa ofereceu-me um chá. Jasmim. Não sabia quanto tempo me restava mas desconfiei que não tinha tempo para um chá. E a ideia do teu irmão a beber chá é quase tão ridícula como a coisa com os livros, Carmen. Como não respondi prontamente, o roupão do Doutor sussurrou-me indecências em seda ao passar por mim rumo à cozinha onde se pôs a falar com uma mulher que não me tinha sido apresentada. Pensei que estávamos sozinhos e sobressaltei-me. Depois percebi que não era caso para tanto. Era apenas a Marilyn.

Ainda ponderei conhecê-la, mas descobri que levantar-me do sofá seria um feito muito maior do que subir seis andares. Muito esperto, o teu irmão mais velho, Carmen. Mal me conseguia mexer e tive a certeza que as máquinas do Doutor me estavam a afectar. A conveniência de estarmos mortos é que não entramos em pânico. E tanto quanto me apercebi, o Bata Branca não sabia que eu podia falar com máquinas. Sim, até as dele. Teria de ser muito cuidadoso.

“Cá está ele†anunciou o velho, regressando do nada com um tabuleiro no qual equilibrava um serviço de chá em porcelana. “De vez em quando permito-me alguns luxos. Este jasmim não é nada de mais mas sabe sempre melhor quando se tem visitas.â€

Dum bule, serviu-me uma chávena perigosamente cheia e sentou-se de volta da sua, soprando como uma criança. Eu estava ocupado a criar laços com o equipamento dele e a fingir balançar entre beber já o chá, assim quente como estava, ou esperar que arrefecesse um pouco. Para um necro, é igual. Queimaduras internas em órgãos decompostos e há muito expelidos em peidos fedorentos não são uma preocupação constante na mente de um necro. Mas o Doutor parecia engasgado. Como se me quisesse dizer alguma coisa mas não tinha a certeza se faria bem em dizê-la. Deixei então que marinasse nesse dilema muito dele. Eu estava ocupado com outras coisas. A dor nas têmporas regressou na forma de múltiplas punhaladas. Não dei parte fraca.

“Sabe, Roque,†ele disse-me por fim, “incluo-me num grupo de habitantes, bem mais vasto do que se poderia pensar, que veio para cá pagar pelos pecados que cometeram. O meu trabalho no Consultório deixou-me com muitos fantasmas para gerir. Veja lá, estou a tomar chá com um deles na minha sala.â€

“É bom, o chá†menti. Não poderia saborear o que estava dentro da chávena mesmo se fosse uma bosta de cão ainda fumegante.

Enquanto eu aliciava a Marilyn a passar-se para o meu lado, sabes bem como eu era com as mulheres, Carmen, o Doutor começou a contar-me sobre os bons velhos tempos. Eu fui o primeiro que ele trouxe de volta. Há quantos anos? Se ele não se recordava, eu muito menos. Mas houve muitos mais necros depois de mim. Perdeu a conta e às tantas perdeu o prazer no que fazia. E disse-me que, sem prazer, a possibilidade de se acabar a fazer algo com o qual, numa situação normal, não se pactua, é muito grande. Depois, queixou-se que no Consultório não existiam situações normais. Deus matava, eles traziam de volta. A papelada dizia que era tudo em prol da causa mas o Doutor e os colegas Batas Brancas queriam apenas esfregar nas barbas de Deus que eram capazes de o fazer. Nunca se deve menosprezar o egocentrismo dos cientistas, aconselhou. Ninguém faz o que quer que seja em nome da Ciência. Fazem-no, os cientistas, porque não gostam de regras, nem que lhes digam que isto não é possível ou que aquilo não se pode fazer.

Quando os cadáveres de voluntários deixaram de aparecer, o Consultório começou a comprar familiares mortos e já enterrados às pessoas. Diz ele que era costume ver-se os representantes da Ordem nas missas de sétimo dia de pessoas que batiam certo com um determinado perfil para uma determinada tarefa. Desde que tivessem pouco tempo debaixo da terra, eram perfeitamente utilizáveis. O velho ainda se congratulou por ter criado algumas fórmulas que tornaram isso possível antes de largar tudo e exilar-se para a Cidade Baixa. Há quase vinte anos, disse ele. O tempo aqui parece não passar. Só o cabelo é que vai ficando cada vez mais branco. Deve ter sido neste ponto que me ofereceu mais chá. Insistiu que bebesse mais um pouco. Que me iria sentir melhor. Por esta altura, eu já tinha detectado pequenas máquinas nanóides no chá mas estava ainda tentar perceber qual era a delas, e a Marilyn estava a ajudar-me. Deixei que me servisse mais uma chávena até cima e depois observei-o a reabastecer a sua. Bebericou e piscou-me o olho. Era mesmo o que o doutor recomendava, dizia aquele gesto. Quase me convenceu. A enxaqueca sumira-se.

“Quem o enviou até mim?†Perguntou-me o velhote, ajeitando o roupão como se a resposta fosse de pouca importância para ele. Estava apenas a fazer conversa com um convidado. “A sua voz amigável nos Serviços?â€

“Sim†respondi. “Disse-me que o Doutor me podia ajudar.â€

“E posso.†Olhou para o tecto e chamou: “Marilyn.â€

Ela estava a falar comigo, dizendo-me coisas.

“Marilyn!†Repetiu ele, mais alto. “Onde andas tu?â€

“Aqui, Doutor†respondeu a voz, vinda de todo o lado.

“Sabes que gosto de eficiência†repreendeu o velho, ainda mirando o tecto. “Posso trocar-te pela Ava com o simples premir dum botão. Não passas dum ringtone!â€

“Sim, Doutor.â€

“Preciso do plug-n-play na mesinha do café, se não for muito incómodo para ti.â€

Não era. Marilyn era capaz de ligar o écrân no tampo da mesinha, que até ali tinha servido de suporte ao conjunto de porcelana e ao meu clássico da literatura, enquanto ao mesmo tempo lhe espetava uma faca nas costas. O Doutor mudou o tabuleiro do chá para o chão e o “Eugénio†para o braço da sua poltrona e disse-me que se a Ordem soubesse da existência daquele equipamento, ele seria um homem mil vezes morto. A mesinha de café era apenas um terminal, garantiu-me ele. O Consultório tem um parecido, mas aquele era melhor. Não queria falar mal do deles, porque até fora o Doutor a desenhá-lo e instalá-lo e o Doutor tinha sempre muito orgulho no trabalho que fazia. Como me disse, a ciência e a tecnologia são a melhor forma de injectarmos o nosso ego desgovernado nas páginas secretas da história. E não as há muito mais secretas do que as coisas que se preparava para me contar.

“Espero que o seu traseiro goste dessa cadeira†disse ele, “porque ela vai ser a sua amiga mais chegada durante as próximas horas.â€

Não estava a mentir, Carmen. Até estava prestes a contar-me todos os seus segredos. Disse-lhe que o que eu queria era encontrar-te. Não tinha tempo. Ele apenas sorriu.

“Estamos na Cidade Baixa, meu amigo. Temos todo o tempo do mundo.†Como se tivesse sofrido uma trombose à minha frente, os olhos dele viraram-se para o tecto. “Marilyn, que dia é hoje?â€

“O mesmo de ontem, Doutor†respondeu a loura invísivel.

“Vê, Roque?†O homem chocalhou dentro do roupão, rindo com gosto. “Todos os dias são o mesmo dia na Cidade Baixa. Eu sei, já cá estou há vinte anos e parece-me que foi ontem que morri.â€

Se lhe pareci espantado com aquela confidência, Carmen, era porque estava mesmo. E não é fácil espantar o teu irmão. A prová-lo, o Doutor despiu o roupão antes que eu pudesse protestar e exibiu um corpo velho e magro matizado a luzinhas de tonalidade avermelhada que lhe transpareciam no peito através da pele pálida sulcada pelas marcas duma autópsia mal cicatrizada. Vida artificial pulsava electricamente no lugar das vértebras. Reconheci a tecnologia como sendo parecida com a que os Batas Brancas me tinham implantado para me trazerem de volta à vida. Reanimação, como lhe chamavam. Acordar. O Doutor estava acordado. Era um necro.



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parte 1  http://www.escritartes.com/forum/index.php/topic,24728.0.html
parte 3  http://www.escritartes.com/forum/index.php/topic,24730.0.html
« Última modificação: Outubro 07, 2009, 13:00:46 por NunoMiguelLopes » Registado
Goreti Dias
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« Responder #1 em: Outubro 06, 2009, 17:35:53 »

Mas que tecnologia! Um conto forte!
Beijo
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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
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Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
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Boia noite para todos.
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Boa noite feliz para todos.
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Bom domingo para todos.
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