António Lóio
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Quanto menos penso mais existo
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« em: Março 04, 2010, 18:57:44 » |
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A GRANDE BARRACA
A feira popular fervilhava duma multidão ansiando divertimento. Os carrosseis, as barracas das farturas agora mexicanizadas na sua oferta de churros, as inúmeras tendas de lona, umas abrigando o nosso artesanato, polvilhado de galos de Barcelos de todos os tamanhos, outras com Cds pirateados ou não, onde as músicas pimba nos rebentavam os tÃmpanos e outras ainda onde as Tômbolas da “caridadezinha†faziam sonhar crianças e adultos com prémios de manifesta inutilidade. No centro da feira, as altas individualidades, juntavam-se à volta de discursos inflamados, fazendo a apologia da oportunidade daquela barraca (Barraca?), que eu hesito em escrever com letra maiúscula, por respeito à Drª Preciosa ( minha saudosa professora de Português), mas que bem merecia, dada a imponência da sua construção, com minaretes de lona e alcatifa dourada, para onde convergiam os holofotes de toda a feira. Os orgãos de comunicação social, acumulavam em seu redor uma palafernália de equipamento e antenas parabólicas que levavam a todo o PaÃs as notÃcias , repetidas à exaustão de hora a hora, dando a evolução dos acontecimentos. Os repórteres acotovelavam-se de bloco de notas ou microfone na mão em múltiplas entrevistas a um senhor ligado à Saúde, de risca ao meio e ar estrangeirado douto em sapiência e que vaticinava a catástrofe, o aniquilamento da raça humana, a morte de biliões de pessoas, enfim, o fim da humanidade. Alguns ministros e os seus inúmeros acessores, desafiavam a paciência dos chauffeurs dos Mercedes e BMWs que ressonando, embalados nos braços do Morfeu, os aguardavam há horas. A Ministra da Saúde solicitava ao ministro das Finanças uma verba astronómica para fazer face à desgraça iminente. O primeiro ministro afadigava-se em entrevistas, procurando sossegar o povo, enquanto os seus homólogos estrangeiros em contacto permanente, soltavam vaticÃnios de desgraça dirigidos à espécie humana. Súbitamente uma enorme explosão ecoa pela feira e o povo amedrontado interroga-se. Os mais afoitos trazem notÃcias do local onde se dera a explosão. Fora na Grande Barraca! As mulheres choravam erguendo as preces aos céus e por todo o lado ecoavam gritos de dor dos moribundos. O clamor ecoava pelos corredores do poder. - Foi na Grande Barraca! ........Grande Barraca....acudam..... A confusão era indescritÃvel. Milhões de litros de álcool tinham explodido, mascarados e máscaras invadiam as ruas e hospitais. Os Bombeiros e a Proteção civil foram chamados. Já não se podia negar o iminente cataclismo. Dentro da Grande Barraca ouviam-se vozes pungentes dos ministros, da polÃcia e do exército que imploravam: -Tratem os nossos filhos primeiro. O povo acenava que sim ( o nosso povo acena sempre que sim, em qualquer circunstância) Por fim os clamores acalmaram, os biliões de mortos são enterrados e os moribundos tratados. No local onde se erguera a Grande Barraca o chefe dos Bombeiros, ostentando a farda de gala, machado cromado e plumas no capacete exibe o culpado. Para que toda a gente o veja e possa testemunhar este momento histórico ele sobe à escada Magirus e lá do alto ergue o braço e mostra debatendo-se entre o seu polegar e o indicador, o facÃnora que apesar de assim espremido ainda consegue dizer em voz sumida:
--Sim....Sim.... eu sou o H1N1 mas não faço mal a ninguém!!
Cai o pano e com ele milhões de vacinas, alcool, máscaras e os nossos euros. Nos camarins, os grandes laboratórios farmacêuticos, riem a bandeiras despregadas, impunes e de bolsos cheios.
Tom
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