anamarques
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« em: Abril 22, 2010, 14:15:08 » |
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- Está preparado para uma descida ao Inferno, Benito? - Ai Jesus, Virgem SantÃssima, que medo! Sim, sim, eu adoro mistérios. Sou mais forte do que aparento. -Sem dúvida, Benito, todos nós somos bem mais fortes do que aparentamos. Nem sabe o quanto. - Claro. -Era o ano de 1946. Também nesse ano a Primavera chegara sem surpresas para as espécies do planeta. Pensava eu. Na minha preciosa e doce ingenuidade de que o mundo seria previsÃvel e condescendente. Apesar da guerra que terminava. Afinal até as guerras eram parte do destino do mundo desde que o Homem aparecera. Não deveria haver nada de novo com mais esta. Pensava eu na dourada era da inocência dos meus vinte e dois anos. Estava arrogantemente colado à lógica das ciências racionais. Queria ser médico. De facto estava quase a consegui-lo. Um dia recebo um telegrama do meu irmão. Meio-irmão, o Thierry. Já lhe contei a história da minha mãe. Nada de novo para si, meu caro. - Sim, sim, a senhora baronesa que fugiu com o francês e deixou o seu pai entregue ao desgosto. Que destino inglório teve o seu paizinho... - O destino tem as costas largas. O meu pai deitou-se na cama que ele próprio fez... - Coitado, não diga isso, era seu pai. - Era. Era sem o ser. Não lhe assentava bem o papel de pai. Nem o de marido. Mais do que ter hábitos de solipsismo ele era um verdadeiro misantropo. - Essa parte não me tinha ainda contado. Ora explique melhor, Sr. AmÃlcar... - Bem observado, a ver se não se esquece de voltarmos ao solipsismo amanhã. O meu pai, no entanto, é personagem secundária nesta trama. E quem não é de cena, sai de cena. - Com certeza, tem razão, continue, perdoe-me, Sr. AmÃlcar. - O meu irmão rogava-me a ir ao seu encontro. Ir a França em pré-época de exames de medicina. Como se eu não tivesse vida própria. Mas aquelas palavras suplicantes fizeram-me pressentir algo de estranho. Algo mais do que simplesmente estranho. Qualquer coisa de sinistro, monstruoso, desconhecido. Creio que, mais do que a minha amizade por ele, foi a minha vontade de dominar que me levou a viajar. Queria mostrar ao meu irmão, a mim, que nada era mais forte que a mente humana. Não podia haver medos invencÃveis. Estava confiante de poder ajudar o Thierry, qualquer que fosse o caso, pois ele pouco ou nada revelava no breve texto. - Quem sabe não tivesse sido o destino... - Falou o fadista! - Foi à guerra o seu irmão? - Não. Esteve comigo, aqui na quinta enquanto aquilo durou. Regressara quando os aliados libertaram França. E durante meses não soube nada dele. Não me preocupei. Ele era dois anos mais novo mas sempre foi mais afoito, mais dado à aventura, ao conflito fÃsico. Se não tivesse sido eu a controla-lo cá ele tinha mesmo ido para a frente de batalha. E no entanto não o salvei do horror maior... - Que horror? - Posso continuar? -Ai, perdão!
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