Pamp1980
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« em: Junho 17, 2010, 10:26:00 » |
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Havia de tudo naquela festa titânica, a musica era difusa, enlouquecedora, por vezes angelical e por vezes demonÃaca! A casa era enorme com pinturas renascentistas, assemelhando-se a um palacete onde todos os convidados encontravam-se mascarados, com rostos semi-tapados e corpos semi-nus envolvidos em orgias, ecoando gritos e gargalhadas freneticas, todas mergulhadas no sonho de Dionisos, o anfitrião omnipresente e omnipotente daquela festa primordial. Mergulhados na água da videira, libertando-se sem pudores e sem receios, unicamente com a finalidade de abstração da realidade e penetração ao mais profundo animal racional/irracional...voltar ao principio, aos ritos esquecidos, deixarem-se levar e libertarem os animais e demonios escondidos naqueles carceres consumidos pela rotina social. Todos eram livres deixando-se levar pela musica extasiante, por drogas alucinantes, pelo sexo sensual, envolvente e por vezes selvagem e animalesco. Viviam como se fosse o ultimo momento, e nesse ultimo momento o essencial era a libertação de todos os preconceitos, de todos os receios e de julgamentos, porque ali todos se transformaram, deixando de ser gente mas sim, ANIMAIS, deixando-se somente levar pelas suas necessidades sem pensarem em mais nada, isso tudo após deixarem Dionisos entrar na alma de cada carcere humano exposto naquela orgia. Enfeitiçados pelo poder do deus...animais com mente de gente e humanos com mente de animal! Todos misturados e expostos numa só "tela", a imagem aparentando um paraiso, com todos a viverem em paz, animais e humanos unidos, a amarem-se...mas seria mesmo um paraiso? Onde anjos e demónios se misturavam erguendo a bandeira branca em sinal de paz?! Onde os animais racionais e irracionais se misturavam sem receios de serem atacados?! O que importava era a liberdade mais profunda ali exposta, gente completamente despida e gente vestida rasgando-se e dançando incessantemente, somente com uma mascara e uma garrafa de álcool chiando como animais, emitindo gritos de dor simulando o prazer desde a cave de baixo até à parede mais próxima! Afra sentia-se perdida entre a imensa multidão mas sorria e também dançava semi-nua. Já embriagada entrou naquele festim tornando-se tão ou mais louca e selvagem do qualquer animal presente, libertando toda a sua loucura e sensualidade. De vez em quando recuava receosa mas a liberdade tornava-se cada vez mais grandiosa e a embriaguez fazia-a esquecer cada vez mais o medo do ridÃculo, dançando e dançando entre voltas e voltas misturando-se entre desconhecidos ou conhecidos escondidos pelas mascaras, todos incógnitos, sem qualquer identidade aparente, para ninguém nem para eles próprios, apagando toda a identidade social. Inicialmente aquele festim era consideravelmente estranho e assustador, para quem se defrontava com aquelas imagens mas pouco a pouco tudo se ia tornando agradável, belo e melódico como num sonho colorido e abstracto com imensas cores fortes dissolvidas entre si de tal forma e difusas numa beleza unica, a união, a força, o conhecido infiltrado no desconhecido como um quadro de Picasso. Havia gente que se beijava que se acariciava com fervor e ternura , gente transcendendo-se numa loucura ardente, libertando-se com suavidade e sem receios. Os animais selvagens caminhavam pacificamente pela gigantesca mansão, já domesticados por alguma gente do circo, bolas de fogo a voarem, a musica hipnótica elevando cada ser vivo daquela festa. Gente a dançar, a gritar, a fazer amor, vários actos e rituais, todas etnias unidas e de mãos dadas falando com a linguagem universal do amor e do prazer, aquilo era belo e Afra fazia agora parte daquele sonho! Havia no imenso tecto da sala uma pintura do deus Dioniso, rodeado de animais selvagens, homens e mulheres nus a dançarem e a rirem envolvidos na luxuria e na embriaguez, Afra enquanto dançava entre toda aquela gente olhava para a pintura, alucinada e para toda aquela festa onde se reflectia a imagem da pintura e ela ria loucamente, dançando sem pudores, deixando-se ser amada por todos que a rodeavam e amando também, retribuindo cada toque e cada beijo com uma gargalhada sempre a brotar do seu peito. Afra deixava-se envolver cada vez mais, e sempre com um copo de álcool para acompanhar, quando deu por si encontrava-se já completamente nua, não sentindo qualquer tipo de vergonha. Pelo contrario, sentia-se livre, esquecendo-se dela mesma e multiplicando-se em todas as especies existentes, vendo-se como criança, animal, homem e em todas as formas vivas que conhecia, continuando a rir por ter entrado no jogo e no sonho, vendo-se como um ser vivo primordial, sendo tudo e sendo nada!
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