Vida Inacabada (Os Diarios) 6

25 Agosto

Esta noite choveu e trovejou. Foi uma dádiva poder ouvir a chuva a bater na minha janela… assustar-me com os trovões que rebentavam aqui perto.
Cheguei a desligar a televisão só para poder apreciar na totalidade esta dádiva.
Quando depois saí à rua respirei bem fundo e aquele cheiro molhado, húmido, encheu-me os pulmões e fez-me apreciar aquele momento na perfeição. Já tinha saudades da chuva, de acordar para um mundo acinzentado, com nuvens a tapar o sol, com o chão molhado, com humidade no ar… Um mundo da minha cor… o cinzento. Que saudades.

21:04

26 Agosto

Mais um domingo que vai passando tal qual qualquer outro dia da semana, pois para mim todos os dias são domingo.
Hoje mal dormi. De propósito, é claro. Quero repor os meus sonos de volta à normalidade, dormir de noite, estar desperto de dia.
Hoje passeio-me por calores intervalados por calafrios. Não sei onde deverei parar, são ambos apelativos. E no entanto, apelativos ou não, não tenho muita escolha. Estou como o meu corpo me manda estar… ou como o destino quer… quem sabe…
Ontem devia ter ido a casa da S. para ver alguns filmes mas como não dormi muito durante a noite (e porque também passei a noite com o meu estômago a funcionar mal) acabei por não ir e só a avisei disso bastante tarde. Tenho de lhe telefonar a explicar… Pena ser pobre (lol) e não ter dinheiro no telemóvel… por isso telefono quando puder… ou talvez acabarei por nem sequer telefonar porque a minha memoria nem sempre é das melhores.
Está mesmo calor… gostava de saber se é só do meu corpo, se sou eu apenas que o sinto, ou se toda a gente se sente assim neste dia de quase Outono.

18:48

Festa do Avante.

De um lado um homem com um cartaz: "A fechar escolas é ca gente aprende. A falar é ca gente se entende."

Do outro um café com dezenas de pessoas à porta a gritar "GOLO!" porque a Seleção estava a jogar.

Gostava também eu de gritar GOLO! mas só se o preço da gasolina baixasse, ou os impostos baixassem... ou as condições nas escolas fossem melhores... aí sim gritaria GOLO! com gosto...

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E ele perguntou-me algo mas eu não percebi.
Respondi o que respondo sempre:
"Não, eu simplesmente não gosto das pessoas"
Virei-lhe as costas e fui-me embora.

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Foi preciso caminhar tanto e enfiar-me num sitio com centenas(possivelmente alguns milhares) de pessoas para encontrar gente que conheço. COmo é possivel estar rodeado de centenas de desconhecidos e notar logo nas caras conhecidas?!

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E ele seguiu-me e voltou-me a perguntar algo que não entendi.
Resolvi responder o mesmo:
"Não, eu simplesmente não gosto de pessoas."
Voltei a virar-lhe as costas, voltei a ir embora.

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Será possivel estar rodeado de centenas de pessoas e ainda assim sentir-me mais sozinho do que alguma vez me senti?

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"Não, eu simplesmente não gosto das pessoas."

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Episodio engraçado que apenas demonstra a razão pla qual não gosto das pessoas:

Iasmos nós para beber café e deparamo-nos com uma grande fila. Pergunta-se a um dos senhoras da fila: "É para o café?" "Sim" responde-nos ele. E depois ainda acrescenta: "Pelo menos espero que sim porque estou na fila, mas de qualquer das maneiras haverá de ser para quê? Espero que seja para o café."

E aqui está porque não gosto das pessoas. Não seria muito mais pratico (já para não dizer simpatico) dizer apenas "Sim é para o café" ou "Não, não é para o café" ? Porque tem ele logo que divagar num inutil intuito de conversa. Só porque é Avante? Será que é porque todos devemos ali ser "camaradas"? Não sabem simplesmente não comentar quando o seu comentario não foi pedido ou - pior ainda - quando o seu comentario não fará nada para mudar a situação?

Aposto que se o tivesse visto depois de beber o café ele era capaz de me interpelar só para dizer "Afinal era mesmo a fila do café"... não sei como reagiria... fico feliz por tal não ter acontecido... tenho medo de que se tal acontecesse eu me tornaria violento...

"Não... simplesmente não gosto das pessoas."

23:16