Lembro-me de si como sempre o faço em cada novo chão redondo ou em viés
Algures no espaço entre as oliveiras e o desenho da mão nada é desencontro das causas congéneres nem infiéis, apenas o sol em gomo agro doce e a chuva acirrada morna e fria, separam o som que parte e de novo regressa.
Abrem-se parênteses e fecham-se parênteses a cada instante. Todavia somos seres frágeis que irrompem da placenta mística e se misturam com o oxigénio da mãe terra. Cada um de nós parece saltimbanco da memória que cresce e desaparece, aí vai a leva oblíqua da vida que transportamos.
Podia fechar os olhos para lhe ver, ou rebuscar desenhos de si no meu baú poeirento das memórias, ó mãe, talvez até subir ao topo da montanha e a um palmo do céu poder tocar-lhe, ó mãe, podia assinalar o seu nome em todas as sinaléticas, carimbar espampanante poesia em grafite dos meus olhos, ó mãe, fico-me por ser imaginação que apesar de difusa pode arrepiar fazendo-se translúcida.
Da forma possível e hoje, volvidos dois anos do após, percorro a enraizada memória saudosa de um tempo acólito para lhe ver, lhe tocar, dialogar do pouco e do muito, do certo, do errado e até do clima e das intempéries do mesmo, cozinhar caldos de afeição, ao mesmo tempo que beberíamos licores de gargalhadas, plantar silêncios a seu lado adubados de cumplicidade e daí colhermos sonhos infindáveis de sol.
No entanto os parênteses fechados, não são mais que apartes, que se vão abrindo da memória gerando a força de uma fragilidade acometida, não me faço, mas assim eu sou e da mesma forma vou caminhando com aquele balanço vindo de si, balanço esse de mãe que agora é a força invisível de um pensamento conciso e atento ajudando-me a movimentar a roda da vida.
Peço-te…
Volve ciclos de alma em solicitude abstracta
Volve as palavras de afins densos e suaves
Acresce em mim eira e beira com telhas de rosto
Adorna-me com o levitar no bater de asas das aves
Encomenda-me rezas de bulias no sol vindo, no astro posto
Diligência amoras em paparoca para a nossa messe
A um palmo do céu és luz intensa em sumptuosa eira
Pudera ser meus olhos que me traem na mente que me oferece
O teu sorriso que não esmorece, no teu rosto ó querida mãe Maria Alcina Vieira.