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Autor Tópico: Sortilégio ...4  (Lida 2812 vezes)
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gdec2001
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« em: Novembro 09, 2013, 20:02:16 »


E ela desceu a escadaria que se torcia, agora, primeiro para a esquerda e depois para a direita, mal pousando o pé em cada uma das escadas.
Três dias mal passados, ela voltou e o advogado disse-lhe que a falta de registo da menina seria uma dificuldade ultrapassável e explicou-lhe como mas ela nem tomou atenção tão perturbada ficou com a notícia.   
Como quer que a menina se chame?
Elsa, evidentemente.
Mas Elsa, quê ?, tornou ele.
Bem, julgo que Elsa Tovar como o meu marido que é Mário Tovar.
Não julgo que seja boa ideia ela ter o mesmo apelido do seu marido porque isso é capaz de fazer confusão ao juiz uma vez que o seu marido também quer adoptá-la, não é verdade?
Oh, sim !... Bem, deixe-me perguntar-lhe a ele, o que é que acha.
Ele não achou coisa nenhuma. Uma vez que a menina não podia ficar com o seu apelido nem, pela mesma razão, com o apelidos de Sousa ou Antunes que eram o dela -Adélia Antunes de Sousa, era o seu nome - tanto lhe fazia que a menina se chamasse Mendes como Silva tirando, é claro, Denegundes ou outro apelido estrambólico como este, disse.
Ela escolheu Mendes porque fora o primeiro nome que ele dissera ao acaso esperando que isso lhe desse sorte pois, embora dissesse que não acreditava em tal coisa, sempre tivera uma tonta superstição com as coisas que acontecem por acaso.
Para ele ter a certeza de que o Mário também queria a adopção, foram então os dois falar com o Dr. Advogado.
E também o Mário se espantou com o intrincado das escadas, o gabinete atafulhado de livros e o homem pequeno muito sério e até um nada grotesco devido ao penteado brilhante; mas simpático, concluiu .
Parece tirado daquela gravura que temos, que retracta um julgamento nos fins do Século XIX, comentou ele mais tarde.
Ela teve de fazer um grande esforço para não o cumprimentar da maneira como o havia cumprimentado na primeira vez. Limitou-se a baixar-lhe um pouco a cabeça.
O Sr. Dr. disse-lhes que levassem a menina para casa enquanto ele tratava do registo.
Como, levar a menina se ela não é ainda nossa filha (?), disse a Adélia.
Porque é preciso para o tribunal poder avaliar se os senhores a tratam bem uma vez que essa é uma das condições para lhes conceder a adopção.
E quanto tempo teremos de cuidar dela antes de o Sr. Doutor por o processo?
A lei não estabelece um prazo certo, creio que para as pessoas não julgarem que isso lhes daria, só por si, o direito à adopção mas penso que um ano chegará.
Um ano, tanto tempo, lamentou-se Adélia.
A responsável pelo jardim infantil não pôs muitas dificuldades em entregar-lhes a menina mas exigiu que eles lhe mostrassem os bilhetes de identidade de que tirou os elementos de identificação e mandou que os acompanhassem até a casa para ter a certeza de que moravam ali. Tomava agora as medidas que devia ter tomado quando a presumida mãe lhes entregou o bebé.

Belos são os filhos
...o pior são os cadilhos

Começou então uma nova vida para o nosso casal.
A Adélia foi obrigada a deixar de trabalhar fora de casa para se dedicar à pequenina pois era claro que a não podiam meter em nenhuma instituição. Que diria então o Sr. Juiz?
O Mário compensou um pouco a falta do vencimento dela trabalhando mais horas extraordinárias.
Gastaram quase todo o dinheiro que tinham amealhado até àquela altura na compra de roupas, cama, e arranjos do quarto dela que incluíam uma enorme profusão de brinquedos alguns dos quais nem eles sabiam o que eram e para que serviam, se é que se pode empregar esta palavra em relação a brinquedos.
Nos primeiros dias parece ter estranhado, um pouco, a mudança de ambiente mas foi tratada com tanto carinho que depressa se habituou.
Embora na instituição tivessem dito que ela estava prestes a andar nunca a punham de pé porque tinham medo de a deixar cair.
De maneira que um dia ela saiu do colo do Mário e dirigiu-se, andando já com alguma firmeza, para junto da Adélia o que foi motivo para uma grande admiração porque a menina aprendera a andar sem ser ensinada.
E palrava pelos cotovelos, como se costuma dizer, e dizia coisas acertadas e muito engraçadas, na opinião do Mário que depressa aprendera aquele dialecto...
Na verdade estavam a dedicar-lhe uma afeição excessiva que o Mário manifestava mais abertamente e que na Adélia quase só se discernia pela maneira cuidadosa como a tratava. Ainda que tudo fosse diferente quando se encontravam sozinhas.
Tacitamente o Mário e a Adélia tinham combinado que a menina não os trataria por pai e mãe antes de ser adoptada de maneira que não conhecia tais palavras tratando-os pelos nomes próprios, como eles lhe ensinaram.
A Adélia levava-a sempre que saía e fazia-o, pelo menos uma vez por dia, por volta das seis horas da tarde, de modo que a criança contactava com muita gente uma vez que a Adélia conhecia todos os vizinhos e dava-se bem com eles. Mimavam a Elsa mas sempre sob o olhar atento da Adélia pois que, na verdade, alguns deles procediam de uma maneira tão desastrada, ora semelhando estar muito atentos ora distraindo-se logo a seguir porque outro motivo lhes chamara a atenção, que mais parecia serem também crianças do que pessoas adultas.
Continuava a gostar muito de passear junto ao Tejo e agora nunca via as águas encapeladas e da cor do chumbo.
Enquanto caminhava tagarelava com a Elsa:
Estás a ver, querida menina, este grande rio que se chama Tejo ?
Trás a água de Espanha e recolhe também a desta parte, central, de Portugal. E nota que embora muita dela, venha da terra espanhola, nunca constou que tivesse havido alguma aljubarrota entre essa água e a que nasce no solo português. Pelo contrário, junta-se aqui toda de maneira que ninguém será capaz de distinguir a espanhola da portuguesa e parece um mar - ainda que seja possível ver, bastante bem, as casas que ficam daquele lado, acrescentou decorrido um longo momento.
E quando chegam aqui as águas do rio, as sereiazinhas, que nascem lá para riba, em Vallermoso perto da longínqua Serra de Albarracin e em Villalba e cerca de Aranjuez, junto daquele belo concerto, e em Aldeanueva de Barbarroya e em Alcântara, mesmo por debaixo da majestosa e velhíssima ponte e perto do Rosmaninhal e em Belver e no belíssimo Zêzere em Maxial de Além e em Vila Nova da Barquinha e ali mesmo dentro do misterioso castelo de Almourol, vêm já grandinhas e aqui crescem até ocuparem toda a nossa imaginação.
Há também quem fale em monstros; mas quem acredita nisso neste princípio do terceiro milénio?, não me saberás dizer ?
Os edifícios ganharam novas cores e gostava especialmente daqueles que tinham mazelas no reboco porque lhe pareciam reflectir múltiplos arcos íris.
E continuava a falar:
Repara, querida Elsa, nestas casas que já parecem velhinhas de tão derrocadas que estão. Mas se fores ver por dentro, a maior parte delas são ainda bastante confortáveis mesmo que tenham salas pequeninas e muitas escadas bastante empinadas.
Estás a ver aquelas cortinazinhas, arrendadas e tão bonitas? Pois toda ela deve ser  assim no interior. Cheia que nem um ovo com cadeirinhas, mezinhas, caminhas e aparadorzinhos tudo muito arrendado e bonitinho.
Muitíssimo interessante seria conhecermos as pessoas que habitam nelas porque algumas têm maniazinhas tão arrendadas como as suas cortinas. Não acreditas?
A ponte velha ao longe, semelhava um grito, vermelho.
E ela dizia:
Estás a ver ali, ao longe, a velha ponte? Ela ficou velha de um dia para o outro quando construíram a outra que agora é a nova. Mas não te deixes enganar. Ela é muito grande e, principalmente, muito alta. Mas nota que daqui podes brincar com os automóveis que passam por cima dela ainda que só com os teus queridos olhinhos.
Também visitava frequentemente ...

Geraldes de Carvalho
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Dionísio Dinis
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« Responder #1 em: Novembro 10, 2013, 15:31:41 »

Espero a continuação, porque assim merece a qualidade da prosa escrita!
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Pensar amar-te, é ter o acto na palavra e o coração no corpo inteiro.
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gdec2001
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« Responder #2 em: Novembro 12, 2013, 20:15:56 »

Obrigado amigo .
V. recebeu o testemunho da Goret . Será que ela desistiu ?
geraldes
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Goreti Dias
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« Responder #3 em: Novembro 12, 2013, 22:58:33 »

Não desisti. Já tinha lido, mas sem comentar. Gosto de saborear os textos!
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Goretidias

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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
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Sejam bem vindos às escritas!
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Boa tarde!
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Bom Ano! Obrigada pela companhia!
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Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
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Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
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Olá para todos!
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Olá para todos!
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Boa noite para todos.
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Boa noite feliz para todos.
Fevereiro 28, 2021, 17:12:44
Bom domingo para todos.
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