gdec2001
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« em: Novembro 12, 2013, 20:18:38 » |
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Também visitava frequentemente o seu antigo local de trabalho onde tinha alguns bons amigos. A menina causava sempre grande sensação pela sua linguagem um pouco arrevesada e que a Adélia, esquecendo-se da maneira como costumava conversar com ela, afirmava não saber onde ela aprendia. Os amigos diziam que ela era uma pequena sábia e até o Sr. Esteves, dono da fábrica, fingia que não reparava que toda a gente deixava então de trabalhar. E ia também muito a casa da Maria Inês cujo marido, vendedor de automóveis usados, era um homem palavroso e muito engraçado. Enquanto se namoraram ela não conseguia perceber se o faziam a sério se era a brincar. Só sabia que se ria muito e isso agradava-lhe. Até que, cerca de um mês antes da data para a qual, de brincadeira, tinham combinado o casamento ele trouxe os pais lá das profundezas de Traz os Montes e os apresentou como sendo os barões de Vinhais. O Senhor, Afonso era o seu nome, que tinha um ar imponente a concordar com o epÃteto, disse que não ligava nada ao tÃtulo mas que não gostava que o filho brincasse com ele e ela soube, então, que ele falara verdade, a brincar como costumava. A Senhora Laura, mãe do Fernando, era uma mulher pequenina e encantadora e via-se logo que gostava do filho tal como ele era. Disse à Maria Inês que estava muito contente com o casamento do Fernando, para ver se ele ganhava juÃzo, e riu-se, mostrando bem que se ganhar juÃzo significasse que perderia o humor não o desejava realmente. O Fernando era um homem bonito mas usava um bigode tão comprido que toda a gente não podia deixar de se rir, só de vê-lo. No próprio dia do casamento e mesmo durante a cerimónia fazia, inconscientemente, tais caretas que a Maria Inês, que se torcia para não se rir, acabou à s gargalhadas logo que a cerimónia acabou. E o próprio padre também não foi capaz de se conter. Numa das suas visitas a casa da Maria Inês a Adélia soube, com pormenor, a história da adopção do Luizinho o filho deles. Aconteceu que a M. Inês ficou estéril por causa da pouca habilidade da parteira no momento do nascimento daquele que devia ser o seu primeiro filho. A criança apresentou-se ao contrário e com o cordão umbilical à volta do pescoço. Ela tentou tirá-la o melhor que soube mas não o conseguiu de maneira que a criança morreu e disso ela não culpa a parteira pois sabe que era muito difÃcil fazer melhor. Mas depois, para tirar o feto morto, meteu-lhe as mãos e feriu-a bastante. Uma ferida que demorou mais de um ano a sarar. Por fim apareceram-lhe uns pólipos no útero, o que é bastante pouco vulgar enquanto se é jovem, e por isso foram atribuÃdos ao referido ferimento. Pelo sim pelo não, o médico achou melhor operá-la e retirar aquele órgão. Nessa altura, e pela primeira vez, ela viu o Fernando inteiramente sério. Que procuraram muito, uma criança para adoptar e por fim acharam o Luiz que ficou sem pais num acidente de automóvel em que apenas ele saiu salvo e ileso. Sim, ele era ainda muito pequenino e não se lembra de nada. O parente mais próximo que tem é uma tia paterna que foi quem o recolheu mas ficou muito aliviada quando eles lhe tiraram o encargo. Na verdade não vivia nada bem... Que os outros, vagos, parentes não se interessaram nada por ele e assim o processo da adopção foi bastante fácil. O Fernando entretanto chegou e foi um reboliço. Ele pôs as mãos no chão. Montou nele o Luiz e começou a andar à roda com um barulho tão tremendo como o que fazem os carros que costuma vender. A M. Inês ria-se muito; o Luiz gritava satisfeito e a Elsa olhava para aquilo com ar divertido mas não se meteu na brincadeira. Quando saiu daquela casa, naquele dia...
Geraldes de Carvalho
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