gdec2001
|
|
« em: Novembro 16, 2013, 20:34:37 » |
|
Quando saiu daquela casa, naquele dia, a Adélia comentou para a menina: Como vês, toda a gente tem problemas. Mas todos acabam por se resolver. Umas vezes melhor outras vezes pior. Eu gosto muito da Maria Inês e por isso estou muito contente porque o problema dela se resolveu de uma maneira tão boa. Vamos a ver se eu tenho a mesma sorte... A casa do Mário e da Adélia é bastante visitada pela irmã dele que vive também em Lisboa. A Alexandra, tem dois filhos, _homens. O Mário, como o tio e padrinho, e o Manuel, de seis anos, ambos, no escasso mês em que o Manel fez os seis anos porque que, passado esse mês logo o Mário, o Marito, fez sete anos. O pai morreu, costuma dizer a Alexandra. Na verdade não sabe dele porque abalou para Angola logo pouco depois do nascimento do Manuel e nunca mais deu notÃcias. Ela tentou informar-se mas nada conseguiu saber, excepto que ele se despedira da empresa que o levara ainda mal passara um mês depois que chegou a Luanda. Na verdade não faz muita falta porque ela, licenciada em economia, é chefe do escritório de uma empresa de comércio externo e ganha bastante bem. É uma mulher muito séria, alta e com feições correctas ainda que um tanto carrancuda. Ambos os miúdos gostam muito de brincar com a menina, a quem chamam prima. E cuidam dela com um desvelo impróprio de miúdos da sua idade, o que a Adélia parece não reconhecer pois está sempre em cima deles tratando-os de estavanados. Tudo corria assim bem, em casa do Mário e da Adélia no dia em que fez um ano que a menina foi viver com eles. Nesse próprio dia, foi a Adélia ao escritório do Sr. advogado, pedir-lhe que pusesse a questão no tribunal. Ele assim fez, depois de obter do Mário e da Adélia a necessária procuração, avisando logo que a acção ia demorar - um pouco, disse. E tudo correu bem na referida acção. A Senhora que fez o inquérito gabou muito o tratamento que estavam a dar à menina. O único contra disse, era o facto de eles pertencerem a um extracto social "relativamente modesto" e por isso ela receava que a menina não pudesse estudar tudo quanto quisesse, mesmo na Universidade se assim entendesse, mas eles juraram que a menina teria todos os estudos que quisesse; mesmo que para tanto eles tivessem de passar fome, disseram, exagerando um pouco. E muito bem correu a audiência com o Sr. Juiz, ainda que um pouco apressada segundo a opinião da Adélia. A Adélia e o Mário responderam com verdade a tudo quanto lhes foi perguntado pelo juiz, minuciosa mas parece que enfastiadamente. A Adélia no entanto, gostaria que as perguntas fossem mais circunstanciadas. Na verdade gostaria de falar mais na menina e até de contar algumas das saÃdas dela mas não a deixaram fazer nada disso. O juiz era de facto um homem muito cansado. O juiz disse que o processo demorava mais do que devia, porque estavam a fazer diligências para encontrar os pais naturais da criança. Ficaram depois a aguardar a decisão final. Entretanto a senhora que fizera o inquérito passou lá por casa para perguntar se eles sabiam alguma coisa sobre o paradeiro dos pais da criança mas a Adélia bem viu como ela deitava os olhos por toda a casa e para a menina.
Geraldes de Carvalho
|