O que é a sorte?

[Maria Gabriela de Sá]

    Morando porta com porta, era raro o dia em que as duas amigas não se vissem. Sobretudo ao sábado,  à hora do almoço,  passavam mais um bocado juntas, almoçando os  três, as duas e o marido da Dulce na casa do casal.

      Era quando os dois iam  buscar tripas à moda do Porto  ao Lima 5 e as comiam entre todos, a que se seguia a sobremesa, quase sempre fruta. Sendo o António diabético, doces raramente entravam lá em  casa  e na dela era a mesma coisa. Não por sofrer do mesmo mal do vizinho mas simplesmente  por não apreciar. Só quando tinha realmente muita fome.

       Nesse dia as coisas foram diferentes. Tinha ido às compras, à fruta,  e  trouxera também do talho, mesmo por baixo da casa, carne para um cozido à portuguesa aldrabado,  sem todos. Foi o que cozinhou.

      Quando a Dulce o António chegaram, depois de porem a mesa para três  como sempre, ela foi a casa buscar o cozido à la minute, embora os amigos estranhassem  a esquisitice do dia. Era doida por tripas e não entendiam porque não haveria de guardar para o jantar o raio do cozido e comer com eles a dose,  reforçada já a contar com ela.

      No final da refeição, preparava-se para ir a casa, ali porta com porta. "Vou buscar a minha pêra" disse então.

      - Mas por que não comes das nossas? Afinal até vieram do mesmo sítio!
      - Não, obrigada. Hoje vou comer da minha. Não há necessidade...
       E saiu.

       Quando chegou a casa acreditou pela enésima vez em anjos protectores que nos acotovelam insistentemente ao ponto de influenciarem as nossas decisões. A panela onde fizera o cozido estava  ainda ao lume já sem água e  daí a nada  ficaria em brasa...
      - Tiveste sorte!  - disse António.
      - E nós também - Um incêndio porta com porta  consumiria as duas- acrescentou Dulce.      

       Dir-se-á que foi coincidência o episódio da fruta mas Laura acredita terem sido os seus anjos da guarda a impedir o pior.

       E ficou-lhes agradecida para o resto da vida.

      Até ao dia em que as folhas de eucalipto,  na panela, uns anos mais tarde, já estavam a deitar fumo e a preparar as labaredas que, mais uma vez, os anjos apagaram antecipadamente...

      Renovou então os agradecimentos.

[Goreti Dias]

De facto, quem saberá dizer o que é a sorte?!

[Maria Gabriela de Sá]

Já uma vez disse que o azar é a sorte virada  ao contrário depois de levar muitos pontapés...

Abraço

[Figas de Saint Pierre de]

Sorte seria saber!
Abraço

[Dionísio Dinis]

A sorte é o leitor poder saborear estes belos pedaços de prosa.

[Maria Gabriela de Sá]

A sorte é o leitor poder saborear estes belos pedaços de prosa.

Tem dias DD, tem dias. Outros é como um bloco de cimento que teima em não explodir em letras e palavras.
Obrigada,

[Maria del Mar]

Reflectir sobre a sorte de uma bela maneira

[Maria Gabriela de Sá]

Reflectir sobre a sorte de uma bela maneira

Obrigada e boa sorte.

[Conceição Constantino]

Temos muita sorte em poder ler textos assim tão bons!

[Maria Gabriela de Sá]

Obrigada, Conceição Constantino.


Abraço