A minha BIC

[Maria Gabriela de Sá]

      A minha BIC é uma esferográfica verdadeiramente infeliz. Ultimamente  tem-se queixado bastante de mim aos lápis, ao afia e à borracha,  com quem anda lá na bolsinha onde guardo as minhas coisas da escrita. Diz ela que agora só ligo ao queridinho com que faço os exercícios no livro de inglês, e, quando me engano e tenho de apagar, goza-me de fininho. Inclusivamente, naquela sua letra gordinha da escrita Cristal, já me escreveu um recado a vermelho, rindo com ironia e  dizendo-me que burra velha não aprende línguas.
 
      Não liguei a mínima, afinal ela é que é burra, porque nem aprende nada agora, nem nunca foi capaz de aprender. É fogo de vista,  uma criatura tão vulgar como a palha que os asnos comem.

      Cá para  mim, a infelicidade da minha BIC não é nada mais, nada menos do que dor de cotovelo e maldade pura. O que ela queria era esfregar-se toda nos meus cadernos e ter exclusividade de uso por mim e por não sei mais quantas mãos. Até se esvair toda, ficar velha e ir dormir eternamente no cemitério das canetas,  depois de gozar à fartazana durante a vida com todo e qualquer bicho careto. Eu acho a minha BIC pior do que uma prostituta!

      Por isso tudo não me preocupo  nem nunca me preocupei quando a minha BIC desaparecia misteriosamente  da secretária. Quando isso acontecia não me era difícil encontrá-la nas mãos da última pessoa que tivesse estado comigo a tratar de qualquer assunto. E a mula, em vez de espernear, gritar e chamar por mim, lá ia toda delambida  com outros até eu a encontrar ou substituí-la por outra,  a que dava e dou o mesmo tratamento.

      Sim a infelicidade da minha BIC é treta pura. Ela é que se banalizou e já nem sequer é usada para coisas importantes.

      Há quanto tempo a minha BIC  e outras BICs que andam por aí não escrevem uma carta de amor, um testamento  ou  outras coisas assim?! Quando se convencerá ela que na minha vida há muito passou a ter um papel residual?

      Mas, enfim, lá anda a minha BIC na caixa a que eu pura e simplesmente, em vez de chamar " caixa das canetas" chamo caixa dos lápis.

      Nunca pensei no assunto e poderia muito bem mudar o nome da caixinha. Mas,  uma vez que a minha BIC anda a curtir a má língua, fica assim. A BIC que vá cortar na casaca ao raio que a parta!

[Goreti Dias]

Pobres BIC´s. Eu nem sei das minhas!

[Nação Valente]

A minha Bic já foi destronada há muito tempo. É bem feito. Ela destronou a minha caneta de tinta permanente que por sua vez tinha destronado a minha caneta de ir beber ao tinteiro e que há dias encontrei triste numa feira de velharias. É assim a vida das canetas. Umas vão, outras vêm. É assim a vida com altos e baixos. Gostei desta, saborosa, história.

[Maria Gabriela de Sá]

Goretidas e Nação Valente, risos.


Abraço

[Maria del Mar]

Eu ainda mantenho as minhas Mas seja qual for o motivo, valeu a pena fazer nascer este texto

[Conceição Constantino]

Eu tenho uma caixinha com muitas. Algumas já nem escrevem, mas gosto de as guardar. Tanto quanto gostei de ler este seu texto

[Maria Gabriela de Sá]

Obrigada, Maria del Mar e Conceição Constantino.  - 

[Dionísio Dinis]

Uma escrita em ponta fina.Para reler...com prazer!

[Maria Gabriela de Sá]

Olá DD, esta BIC também me faz sempre esboçar um sorriso.


Abraço