Sem título(149)

[Dionísio Dinis]

De um outro lado
por um outro rio
há uma clara noite em madrugada
na margem certa de um dia por acaso
no desejo  dos amantes de passagem

O canto perfeito das águas
e na amurada os corpos consonantes
em fortuito abraço no derradeiro aconchego da manhã

Um bando de gaivotas num rio amanhecido,
dois corpos não dormidos na amurada
 as  margens à parte das ondas e desejos
e um todo de inacabado dia
que se dissipa em magna claridade.
A verdade do sol tem dias quase em claridade
e a realidade das coisas e dos seres casuais
esmaece  num adeus nascido antes do beijo


Dionísio Dinis

[gdec2001]

Muito belo, meu amigo .
geraldes

[Maria del Mar]

Belo, mas com um encanto de tristeza

[Goreti Dias]

Os dias por acaso dos amantes de passagem raramente têm madrugadas claras, antes noites de breu (fica-me a dúvida se, no poema, "clara noite" é sinónimo de evidente, absoluta noite... Se assim for, estamos de acordo).
O quase e o casual a antecipar a morte do que não nasceu de verdade, um indício de fim, um " adeus nascido antes do beijo"

[carlossoares]

Concordo com a apreciação/análise da Goreti. Também eu senti o breu, a adensar-se a cada verso. O que acho curioso é que as palavras tendam a "causar a impressão" do contrário, isto é, como é que, dizendo "clara noite", me faz sentir mal, mesmo com "os corpos consonantes" e "o canto perfeito das águas". Tem decerto a ver com "os corpos mal dormidos", mas não só. Um caso interessante para pensar.

[Dionísio Dinis]

Sempre grato, amigo Carlos, sempre imensamente grato pelo descobre antes e depois da minha escrita.
Abraço fraterno.
É sempre bom escutar apreciações de quem entende para além dos conhecimentos, et por cause, os meus agradecimentos amiga Goreti.

[helenacosta]

 " Adeus nascido antes do beijo"... lindo!

[Alice Santos]

... Mesmo "no breu" de cada verso há tanta beleza!...
Gostei muito de ler.

[Dionísio Dinis]

Grato, mui grato pelos gentis comentários.