REQUIEM

[António Lóio]

     REQUIEM

      No fim de cada ano é costume fazer-se o balanço do que aconteceu de relevante nesse ano. Seria uma estatística interessante se tivesse como finalidade servir-nos de exemplo, com vista a emendarmos os nossos comportamentos, mas não. Nesta época de festejos, recusamos pensar em coisas tristes e muito menos didáticas.  Recuso pois, o conhecimento dos aumentos de Pibes ou balança de transações, ou mesmo da quantidade de bolos reis que comemos per capita, claro.
      Ao contrário do que os meus amigos esperam de mim, hoje vou tocar num assunto que me entristece e me revolta, por fazer parte das revelações estatísticas de fim de ano, como se as pessoas fossem números e nos cemitérios estivessem enterrados algarismos.
      Sugiro que em vez da missa do galo, os crentes sejam brindados com um Requiem como o de Mozart ( seria mais fino, mais erudito quando se fala de Mozart, incluir o seu nome completo Wolfgang Amadeus Mozart), não em relação às 40 mulheres mortas este ano pela chamada violência doméstica, mas em relação às que no próximo ano sofrerão o mesmo destino. Uma ocasião como esta, evidentemente, teria de ter lugar  junto ao poder central, na capital e os  fazedores de leis e responsáveis pela continuação desta chacina, como convidados, encarariam as futuras vítimas de 2015, que seriam recrutadas entre os seus familiares.

António Lóio

[Maria Gabriela de Sá]

Faça-se um requiem, também aos dos costume...

Enterrem-se nas prisões da históeriam, a pão e água, para morrerem como nós estamos a morrer sem ar.

Abraço

[Goreti Dias]

Subscrevo! Até já se desculpam os " carrascos" com a crise. Sim, se for a de valores. O pior é que tudo começa cedo com as jovens a aceitarem que os namorados usem de violência com elas, seja a física, seja a psicológica. Um novo ano aí vem, mas não se espere que fiquemos por outras 40.

[António Lóio]

É desesperante, realmente assistir a esta chacina sem que os poderes instituídos façam alguma coisa. Se é preciso começar na instrução primária, comecemos já.
Goreti e Gabriela, é um prazer inclui-las nas leitoras das minhas divagações.
Abraço
Tom