Sem título(164)

[Dionísio Dinis]

Sem título(164)

Porque entendes do que não é comum
ser visto ou sentido, porque pairas sem corpo e sem alma
para além do entendimento racionalmente humano,
deixas indelével rasto em papel amarrotado,
um rasto de escritas incongruentes.

Da contradição do real com
o teu imaginário objectivo, recata-te de querelas
absurdas, vertidas em palavras perdidas.
Ou seja: entende-te adiante do que permanece por dentro
dos teus olhos que sabem - de pálpebras cerradas-
cores, nomes e cheiros e todos os murmúrios de florestas
secretas. Saber por onde se faz transparente o canto das aves
é apenas o princípio do solfejo.

Do todo mensurável, sejam dias, marés, luas e os lados obscuros de todas as
bitolas humanas, faz uma pira de desejos permanentemente fugazes.
Na síntese do efémero, estende a eterna busca como
cousa absolutamente inflamável
ao toque subtil da mão sabiamente lasciva.
Permite, permite-te, todos os laivos de loucura irreversível.
Deixa o lado visível do mundo para quem pinta sol com sol e diz
amor com trivialidades a condizer.

De tempos a tempos, os dentes hão de ranger nos dentes
da solidão normal das pessoas irremediavelmente
feitas na direcção da luz.
Na descoberta de felicidades ímpares, de tempos a tempos,
há fome e ânsias incomuns.

Porque não é comum entenderes, e fazeres de ti entendimento dos outros,
em todas as coisas no tempo de vida útil,
faz-te prisma sob permanente zénite!

Dionísio Dinis

[carlossoares]

A poesia é esse horizonte imaginário que ensina e aprende o tempo das referências (não o tempo palavra vazia) com o poeta, não apenas as cores e os sabores, os saberes e os sentires e os sons bons e o tempo palavra (vazia).
Parabéns!

[Dionísio Dinis]

Sempre grato pela atenção que dispensa aos meus escritos, amigo Carlos.
Grande abraço.

[helenacosta]

  Perfeito!