Nação Valente
Contribuinte Activo
Offline
Mensagens: 1268 Convidados: 0
outono
|
|
« em: Maio 10, 2016, 18:50:12 » |
|
No tempo em que o engate fazia parte do meu quotidiano, fui convidado por companheiros de “route†para um baile particular, numa espécie de salão de bombeiros. O intuito era reunir malta jovem vinda de distantes regiões do paÃs e que vivia numa zona da cidade grande, para tirar, num corpo a corpo ritmado, um sarro com umas macacas, expressão usada por um amigo meu,o Joaquim, creio que com sentido carinhoso. Na hora marcada compareci com a minha turma para dar o anunciado pé de dança. Diz o ditado que homem pequenino ou é velhaco ou dançarino. Mas como em tudo, nos ditados também há excepções, pois velhaco não me considero e dançarino também não por mais que me esforce. Ainda fiz um curso rápido para dar um arzinho de bailador, mas sou mesmo duro de ouvido e pé de chumbo, e nessa área da dança deixo muito a desejar. Seja como for, e como era uma boa oportunidade para engatar gajas lá fui cheio de expectativas. Estava meio perdido no meio do “maralhal†quando o meu amigo Joaquim se aproximou e me disse: “vai em frente Zé; está ali uma macaca desocupadaâ€. Enchi o peito de ar deitei borda fora de mim a maldita timidez e lá fui em direcção à dita macaca: “vamos dançar?â€.†Nãoâ€! Foi a palavra que saiu da sua boca. O organizador do convÃvio que assistiu à cena, caiu logo em cima dela (salvo seja) criticando a sua atitude: “ouve lá, mas que merda é esta? Vens para aqui para dar “tampasâ€? Isto é uma festa familiar. Que raio de palavra é que não percebeste? A gaja enrolou a†ganforinaâ€, baixou a bolinha e deu o dito por não dito: “vamos lá dançarâ€. Passou-me um "vaipe" pela tola, um homem tem o seu brio, e disse para a tipa, ainda por cima anorética, ou como se dizia na época, um pau -de -virar -tripas. “Não quero dançar contigo, e não dançaria nem que fosses a Gina Lollobrigidaâ€. Para as novas gerações, convém esclarecer, que a Gina é uma actriz italania, muito famosa nesse tempo, e que tinha mais curvas por metro quadrado que a antiga estrada do Marão. E quem se importaria de se estampar naquelas curvas? A trinca-espinhas não sabe o que perdeu por se armar em carapau de corrida. Se me tivesse dado bola quem sabe se aquela dança não acabava no altar. Na altura andava muito carente e como náufrago à deriva agarrava-me a qualquer destroço que aparecesse. Assim lá ficou de monco caÃdo sem ninguém que lhe aquecesse os ossos. A festa começou a ficar chata e com o meu grupo resolvemos dar de “frosqueâ€. Entramos no meu “coupé†para rumar a outras paragens. Quando nos afastávamos do local vimos sair do baile sem honra nem glória, a magricela. Parei o coupé (também na altura instrumento de engate) e fiz um sorriso cÃnico (se calhar sou mesmo velhaco) A moça enraivecida aproximou-se e deu dois pontapés na viatura. Partimos e nunca mais a vi, nem mais magra (quase impossÃvel) nem mais gorda. Houve outras danças e contradanças, mas hoje presto-lhe a minha homenagem. Em tempos de falta de assunto saltou-me do fundo da memória para me alimentar o vÃcio da escrita, essa droga que causa tanto prazer como a “heroÃnaâ€. Quem diria que passados tantos anos um simples “não†deixou de significar traste para significar heroÃna. São muito estranhos os caminhos da literatura.
|