Nação Valente
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outono
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« em: Outubro 30, 2016, 22:31:02 » |
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O meu nome é Camila, mas os meus amigos do face conhecem-me por Cam. Nasci no bairro do Aleixo há quinze anos. Acabei de entrar para um curso especial de alunos com dificuldades. O que eu queria mesmo era deixar a escola. Mas do mal o menos. Neste curso, com currículos alternativos, é tudo mais manual e eu tenho boas mãozinhas e outras coisas que agora não vêm ao caso. Já não tenho de aprender aquelas merdas que me ensinavam na Básica. Quero lá saber quem foi o gajo que inventou este país. Quero lá saber se se chamava Afonso e era de Guimarães. Dessa história, o que registei ,foi a explicação que me deu a Sal isto é a Salomé que deixou a escola (finória )e foi trabalhar como acompanhante para um bar alternativo. Dizia ela: “o Afonsinho de Guimarães fodeu a mãe em S. Mamede e depois meteu-a na prisa. Por isso não admira que este seja um país fodido”. Outra coisa que me irritava era darem alcunhas às palavras. Para mim batatas são batatas. Ponto. Tem lá algum jeito dizer hoje vou comer um substantivo(batata) com outro substantivo(bacalhau). Bem fez a Sal que se livrou dessas tretas e ganha a vida a dar tanga a cotas com muita grana. Aqui nos alternativos sinto-me em casa. É malta como eu que não teve cachimónia para letras e números e portanto estou entre os meus pares. Gente com os pés no chão. E se a isso acrescentar um borracho chamado Arménio, que vive na Areosa, e que acho que me vai dar bola, que quero mais?. Bom quero que seja meu namorado, mas a tarefa não está fácil, pois andam outras garinas a pisar-lhe os calcanhares. Tenho de confiar em mim. O gajo pode ser um pão, mas também não sou nada de deitar fora: possuo um bom palminho de cara, e um corpinho capaz de fazer parar o trânsito. “aí Arménio, sempre que me olhas não há um único pelo que não se me ponha um pé. E se eu sou peluda”. Na aula de oficinais já estou marcada como calona. Não é verdade. A culpa é do Arménio da Areosa que me paralisa a vontade. A velha, quer dizer a setôra já topou tudo, sim, que eu não consigo disfarçar. Estou mesmo apaixonada. Há dias até aprendi na aula de Expressões um poema de uma tal Florbela Espanta ou Espanca, tanto faz, que me serve que nem uma luva. Com ele me deito, com ele me levanto, com ele me perfumo, com ele reparto noites de insónia. Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Eu quero amar, só por amar o Arménio da Areosa. E tudo vou fazer para lho mostrar. Hoje, na aula de desporto, arrimei-me ao tipo “ai que sensações, que cheiro a macho…vê-se mesmo que vem de uma família de trolhas.” Perdi a vergonha e disse-lhe na fúça “- tenho-te visto a fazer-me olhinhos, olhe lá queres ser meu namorado? Eu curto-te à brava! -Ok, disse, mas tens de me dar uma prova da tua paixão. Agarrei-o logo ali numa curva da pista, e afinfei-lhe um chocho nos beiços que até o deixou zonzo. -Muito nice garina, mas não chega… Ai (o que tu queres sei eu, disse para os meus botões) que este quer já ir para os finalmentes. Acalma a passarinha Cam. Ainda sou muito nova para ter um duplo na barriga. Além disso, a minha mãe que tem quatro filhos, cada um de seu pai, já me avisou: -Ó Cam livra-te de me apareceres prenha em casa. Dou-te um enxerto de porrada de criar bicho e ponho-te no olho da rua .E não te esqueças que se pode apanhar um homem pela boca (ela agora anda num curso de culinária do Fundo de Desemprego) mas primeiro adoça-lhe o paladar, e só depois de estar bem dependente, de te vir comer à mão, é que lhe abres a boca do corpo. Procurei ser firme com o Arménio “ouve lá fofinho, o que tu queres sei eu, mas vamos com calma. Temos de nos conhecer melhor. Posso parecer careta, pois não sou como essas delambidas que não conhecem dono” -Porra Cam, não é nada do que estás a pensar, eu só quero que me lambas a pilinha. Aí acredito que o teu amor é verdadeiro. Bom, desde que não implique meter fedelho no meu útero, estou disposta a todas as provas. O que eu não faço para conquistar o Arménio? Não me posso esquecer que a competição é forte. Vou aceitar o desafio “ tá bem Arm. E onde é que fazemos isso”. -Depois desta aula, no intervalo, vamos para trás do refeitório, conheço lá um recanto sossegado, atrás dos arbustos. Digamos que a coisa correu bem e satisfiz o Arménio. Decerto começo a tê-lo preso pela trela. Estávamos tão entretidos que nem demos pelo fim do intervalo. Afogueados corremos para a aula do careca, digo setôr de Desenho. Antes de entrar, enquanto nos compúnhamos ainda perguntei ao Arménio “fofinho agora já somos namorados, não somos?” -Não. -Mas… -Já não te quero para namorada, porque tu és uma puta. -Caiu-me o coração aos pés. Borrei a pintura. Procurei recompor-me e encontrar alguém para desabafar. Com a mãe estava fora de questão. Arriscava-me a levar uma estalada nas trombas. Então lembrei-me da Pulquéria, a cigana que marcava o ponto para garantir o subsidio, andava por ali sempre disponível, e até já tinha casamento marcado. Contei-lhe o que me aconteceu. Olhou-me bem nos olhos, sorriu e disse o que eu precisava de ouvir: - O meu pai sempre me disse que não gosta de ver bons princípios aos filhos. Não interessa como as coisas começam, mas como acabam. Esquece o trolha da Areosa, não te merece, quem sabe se um dia a vida não lhe prega uma partida e lhe oferece uma verdadeira puta.
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