Nação Valente
Contribuinte Activo
Offline
Mensagens: 1268 Convidados: 0
outono
|
|
« em: Agosto 26, 2017, 22:58:17 » |
|
Há quem diga que a idade está na cabeça, mas o corpo passa ao lado de teorias e segue a normal marcha da natureza. Por mais que diga ao meu que não seja queixinhas, que não se deixe abater por uma dorzinha aqui, uma ardor acolá, um mal estar “acoliâ€(aiaiai) não me ouve. Não ouve mesmo. Vai daÃ, por mais que diga ao meu ombro que não ligue ao protesto dos tendões, e ao seu choradinho, o facto é que não se cala. É pior que bebé chorão. E tanto me chateou que lhe fiz a vontade e levei-o ao massagista. Estava sentado na sala de espera, com direito a senha e a ecrã plano de televisão, quando saiu do gabinete de massagens um paciente seguido do de um matulão “praÆde um metro e noventa. Reparei nas manápulas que saiam das mangas da bata branca. Era o homem das massagens. Mandou-me entrar e depois de um breve diálogo pediu-me para me deitar, em cima de uma marquesa. -Dispa-se, deite-se de bruços e imagine que está em cima de uma marquesa de verdade, disse Nada mal para começo de tratamento. O cavalheiro mostra sentido de humor, embora brejeiro. Aceito, como processo de descontrair o paciente e criar proximidade. Palavras não eram ditas comecei a sentir a delicadeza das manápulas no meu lombo. Pancada de criar bicho. Aguenta por seres queixinhas, disse no recesso da intimidade corporal. Até a marquesa gemeu, mas foi de dor. -É pá, a sua coluna tem mais curvas que a estrada do Sabugueiro. Ainda é muito novo para estar neste estado. Agarra-me no braço puxa, puxa, roda, roda, de tal modo que este parece uma ventoinha a sair do eixo. Será que ainda está agarrado ao corpo? -Não sou assim tão novo, respondi timidamente. Pelo menos já tenho idade para ter juÃzo e não me meter nestas alhadas, pensei… -O quê? Não lhe dava essa idade! Se tirar as banhas e pintar o cabelo, até parece um jovem. Sabe o que lhe digo? Saia do sofá, vá caminhar, olhe para as gajas, para as novinhas claro, vai-se sentir melhor. O braço ainda está no seu lugar. Até ver. E vem mais pancada. Agora dá-me um apertão tão forte na carcaça que senti que o esqueleto se separava da musculatura. Se é que ainda tenho esqueleto no verdadeiro sentido do termo. -Pois é…coluna toda empenada…é uma pena. Caminhe…olhe para as tipas…velhas não…faça sexo…endireita a espinha e outras coisas, como o ânimo, bem entendido, sentencia o massajador. Nem dou troco à conversa. Palavras para quê? Quero é que o matulão acabe para sair dali, mas continua e volta ao braço, Roda, roda, roda, roda Roda, roda, sem parar Tanto roda, tanto roda, Que ao lugar há-de voltar Porra, além de torturador também é versejador. Deixo-me levar na onda para ver se o tempo passa. Mentalmente vou dizendo, Soda, soda, soda, soda Soda soda sem parar Deixa-me o braço num oito E ainda tenho que pagar Quando nada o fazia prever, volta o apertão da ordem. Desta vez penso que me vão sair as miudezas pela boca, mas vá lá, ainda conseguiram voltar ao seu sÃtio, ou quase. -É o que lhe digo comece por caminhar cinco quilómetros, dez quilómetros e depois sexo. Tem que ser, você parece um puto, tem que viver como tal… -Puto que o pariu. Quilómetros e quilómetros de sexo. Mas onde é que eu estou? Numa sala de massagens, numa câmara de tortura, ou num consultório de sexologia? A medo arrisco dizer: “não se atrase, tem muita gente à esperaâ€. -Terminámos e não se esqueça dos meus conselhos. Aplique a minha receita e não se arrependerá. Uff! Vamos lá ver, se ao menos consigo caminhar. Quanto ao resto logo se vê. Há, se alguém tiver um corpo queixinhas, ou achar que exagero, tenho o cartão do fulano e recomendo. Crónica (sofrÃvel)do cota-diano
|