Nação Valente
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outono
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« em: Dezembro 22, 2017, 20:18:46 » |
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Se não tens nada para dizer é melhor ficares calado. É uma afirmação que subscrevo e procuro respeitar. Mas quem não tem uma recaída? É o que vai acontecer com esta crónica pré-natalícia. Ou digo o que todos gostam e esperam ouvir, paz, amor, boa vontade, solidariedade, fraternidade…blablabla.. ou vou contra a corrente, com toda a convicção do mundo,e digo coisas que nem interessam nem ao menino Jesus. Embora o menino, símbolo natalício, não tenha muito a ver, com este Natal dos tempos modernos. Estou até convicto, que o lixaram bem lixado, quando o associaram a este natal do consumismo e da fúria de ”prendar" , para não seres considerado um mau cidadão. Admira-me, também, como não reage, como o fez, já homem, nos tempos bíblicos, quando expulsou os vendilhões do templo. Ou então concluiu que a espécie humana não é recuperável.
Hoje, já me começo a sentir um pouco aliviado, porque este Natal de Dezembro, está aí quase à porta. E digo este, porque há aquele que é todos os dias, é quando um homem (ou mulher que também é filha de Deus) quiser. Mas este, o da natividade, associada ao consumismo, daqui a mais uns dias, vai hibernar durante um ano. Então, posso voltar, se me der na bolha, a voltar a pisar o chão desse novo mundo que são os centros comerciais, e de que estou divorciado desde que começou o frenesim natalício. Que me perdoem a heresia, mas aquela música do "gingo bel" já não há papel tira-me de mim. Ainda se fosse numa versão pimba, da “ginga bela ginga bela, mas tem lá muita cautela, para não caíres na esparrela, de te porem uma trela” vá que não vá. Já nem sei se sou eu, ou se é a “ginga bela” que me possui.
Faço, portanto, jejum desse mundo, cheio de luzes e luzinhas, árvores cheias de berloques. Digo até, que me custa, às vezes, sair à rua, pois as tais luzinhas perseguem-me por tudo quanto é sitio, esparramadas em janelas, varandas, e até em árvores perturbando o sossego da passarada, que não sabe nada de Natal. Mas isto sou eu que devo estar fora de controle. O resto do pagode parece andar feliz da vida. Nem se preocupam com aqueles senhores vestidos de vermelho, que sobem, descaradamente, pelas paredes das casas com um saco às costas, sem fazerem disparar os alarmes de segurança, e a quem, ainda por cima, chamam pai. Se fosse comigo mandava chamar pai a outro.
No tempo em que eu podia acreditar no pai Natal, este não existia no meu imaginário. O menino deitado, a fazer uma boa soneca, no presépio da igreja, até achava baril, pois também era menino, talvez mais moço, mas pouco importava. E claro, punha o meu sapatinho, na chaminé, na noite anterior, para receber a prenda do “menino”. E lá me deixava, umas “broazitas”, ou uma caixa de lápis de cor, que muito me regalava. E até compreendia a modéstia da prenda, pois havia tantos meninos a precisar, e os tempos eram tão difíceis.
Essa coisa de comer bacalhau ou polvo, quase obrigatoriamente, não me lembro de fazer parte do menu dessa época. Gosto de comer bacalhau quando me dá na real gana, e não quando se faz por decreto, mesmo justificado com a tradição. Que tradição? É como agora “ decretarem” que tem que ser o dia da família, quando o dia da família deve ser todos os dias, ainda me deixa mais infeliz. Nesse tempo, tirando a tradição religiosa, era um dia como outro qualquer. Não parava a vida quotidiana normal, nem ficavam os lugares públicos ermos de gente, que desaparece como por acto de um prestidigitador louco, durante um dia inteiro. Se calhar louco estou eu, a escrever, contra a corrente, estas banalidades.
Enfim, desculpem qualquer coisinha se não respeito este espírito natalício. À minha maneira lavei a alma, fiz a minha cartase e agora vou fazer um “intermezo” na verborreia, pouco natalícia, para vos desejar tudo o que mais pretenderem, no presente e no futuro. Se isso coincidir com os desejos de Feliz Natal, não posso deixar de me sentir satisfeito, Abraço do cota-diano
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