POETA RECICLADO

[Figas de Saint Pierre de]

POETA RECICLADO
Hoje, o que está a dar é o reciclar,
Produzir para recriar,
Até do lixo se faz arte!
Foi o que fiz,
Fiz a minha parte;
Numa lixeira de tudo rejeitado
Vasculhei, vasculhei,
Peguei em beijos usados,
Com restos de bâton.
Achei abraços abandonados
Muito lixo hospitalar,
Um coração rejeitado,
Fígado em mau estado.
Frascos de remédio para a caspa,
Para os piolhos,
Pacotes de calcitrim e
Frascos de laca
Eu tinha que aproveitar,
Até uma cabeleira postiça,
Que sorte, logo eu, que sou careca!
Encontrei duas muletas,
Óculos de sol,
Manuais de poesia,
Pares de sapatos,
Eu cada vez mais admirado do encontrado!
Ufa! Já estava muito carregado!
Cheguei a casa,
Despiolhei-me
Coloquei a cabeleira,
Inseri o coração rejeitado,
Mandei lavar o fígado,
Pus os óculos de sol,
Calcitrei-me com sapatos
Peguei nas muletas
Saí e mostrei-me a gente que na rua passava!
Fui muito admirado, muito gabado!
Achavam que eu era um bom exemplo
De poeta reciclado.
Eu, careca, ajeitei a cabeleira
E pus mais um pouco de laca!
Oxalá que nunca de lixo me farte,
Para fazer poesia; arte!
….xx…..
Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Excelente!