PONHAM-SE A PAU.

[Figas de Saint Pierre de]

PONHAM-SE A PAU
Tou farto d'escrever poesia!
Para que serve?
Ah!, pois, ir a um sarau,
declamar o poema,
mostrar o sentimento que se tem,
no fim ouvir palminhas
e expressões:
- Que bonito, que bem",
porém,
que é que fica após um poema?
para que serve o poema?
apenas um relâmpago,
apenas um trovão,
que abana pipas em seus calços,
depois o vinho assenta,
bebe-se mais um copinho,
a tempestade já é passada,
o poema já passou,
o poeta já se calou,
a tempestade já passou,
tudo ao mesmo voltou!
Para que serve a poesia?
Esqueço.
Ouço rádio, leio jornais,
vejo televisão, mas ninguém traz,
ninguém fala da serventia da poesia!,
Só falam de construção de muros?
Dos segredos de justiça e dos sigilos bancários!
Só falam da corrupção para audição d'otários!
Que bom a corrupção!
Para que que serve a poesia?
Para curar doenças? Para comer? Para beber?
Para tirar dores de dentes? Para adormecer?
Para acordar? Para os enjoos? Prisão de ventre?
Para corromper? Palitar dentes?
Há governos de poetas?
Há decretos em sonetos,
de pé quebrado; em rima livre,
declamados e aprovados em assembleias?
Quem, afinal da poesia vive?
A poesia serve, apenas,
para se levar a saraus, ouvir palminhas de:
"Que lindo! Que bem!
Algumas picadas de escorpiões a lacraus
Já não é mau.
É melhor levar com um poema nas trombas
do que com uma colher de pau!
Ponham-se a pau!
Fujam dos poetas..
...xxx..
Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque