Bengaladas

https://youtu.be/AP7kER0sMVI

BENGALADAS
Perdão, três vezes perdão, à minha mulher, filhas, cunhadas, cunhados, genros, primos, sobrinhos, amigos e vizinhos, por não ter metido a mão na política.
Só tenho metido língua, contra quem só reza o venha a ele, mas o venha a nós não!

Não tenho lata para o negócio da política, que dá muito ouro e prata; mas que é como o chá, em que cada um toma sua dose de ética e, em qualquer ocasião, como fazem os políticos há sempre algum que nos goza e nos serve um chá, sem infusão.
mas, perdão, três vezes perdão, à minha mulher, às filhas, cunhadas, cunhados, genros,
netos e suas namoradas, sobrinhos, primos e vizinhos, por não ter ido para a política e por não ter entrado no governo e nele não ter metido a mão.

Se eu lá estivesse! Óh! Ai se eu lá estivesse, como ministro ou secretário de estado, nomearia, como assessores, quem muito bem me aprouvesse, (aprouvesse é finesse)
pois, como sabeis, a política é negócio de ricos anéis. Então seria assim: Um meu familiar; como assessor, para me chegar a bengala. Outro para dependurar a bengala!
Outro para substituir a borracha da bengala. Outro, para polir o castão – de ouro!-
da bengala. Outro, ainda, para me lembrar onde deixei a bengala e, finalmente,
o último para, em caso de acidente, me servir de bengala sobresselente.

Afinal, minha família também é povo de Portugal. Há quem tenha onze motoristas!
Eu, só com meia dúzia de assessores, daria menos nas vistas!
Se houvesse reclamações, alegando que não era ético, eu lhes daria um chá, sem infusão,
a esse argumento patético, dizendo, como diz o nosso Povo:
“Os amigos são para as ocasiões”. Quanto mais sendo a bem da família!
A família é sagrada e na vida deve andar, sempre, de mão dada.
Mas, perdão, três vezes perdão, tudo isto é ficção!!!

Por fora, eu bem tento, para que na política haja ética por dentro, mas não tenho conseguido!
Tem sido um tempo perdido! Acham que se eu entrasse lá dentro, ainda iria a tempo?
Acho que não. Teria que aprender o Pai Nosso, mas sempre com o receio de empancar,
-como num disco arranhado- na parte do venha a mim, venha a mim e nunca chegar à parte do venha a vós! Prefiro, e fico feliz, com minha língua, dar umas bengaladas, bem dadas, na governação e na corrupção do meu país.TRAGAM-ME A BENGALA.
…xxx…Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque- Gondomar-Portugal