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Autor Tópico: Verão, balão e batatas a murro, entre outros  (Lida 2049 vezes)
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Maria Gabriela de Sá
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« em: Julho 31, 2021, 10:57:31 »

Hoje folheie o meu álbum de fotografias, e ao ver algumas tiradas no Algarve, lembrei-me das férias de 1986, partilhadas com grupo de amigos na sua maioria colegas da faculdade. Nesse ano combinamos ir à terra da princesa moura que um dia adoeceu com saudades da neve, curando-se graças à maravilha das amendoeiras em flor segundo reza a lenda.
Programamos sair do Porto, de carro, na noite de um agosto, de maneira a podermos assistir ao nascer do sol na Planície Alentejana e assim foi. O céu estava lindo, a paisagem desenhava-se à nossa em todo o seu esplendor crepuscular. E, prosseguindo paulatinamente, sempre na velha estrada do Canal Caveira, quando ainda não havia a outra mais veloz, o Algarve chegou finalmente, depois do deslumbrante amanhecer no Alentejo. A Quarteira era o destino dos quatro viajantes, do qual faziam parte um casal e duas amigas, que, ao longo da noite, cantaram e recantaram todas as canções e mais algumas a fim de o condutor não adormecer. A estes quatro primeiros veraneantes, mais tarde, iriam juntar-se ainda mais três raparigas.
 Uma vez instalados,  eis-nos à descoberta do Algarve, aonde com certeza já D. Afonso III ia passar suas férias e banhar-se nas cálidas águas mediterrânicas.
A praia, os pubs e os diversos passeios por uma boa parte da Costa Algarvia preencheram os quinze dias da nossa estadia. Desde Vila Real de Santo António até a bela horrível Ponta de Sagres, não houve local onde não fossemos, dispostos como estávamos a aproveitar o melhor desse tempo de lazer.
 Os primeiros três ou quatro dias decorreram sem incidentes. Até que, certa manhã,  um acontecimento inesperado iria abalar a tranquilidade dos algarvios e seus visitantes. Os Cavacos, três perigosos cadastrados, tinham-se evadido da cadeia de Pinheiro da Cruz, depois de assassinarem pelo menos um guarda prisional, ao que me lembra, e era esta notícia que circulava diariamente nos jornais rádio e televisão. Além de o Algarve ser, segundo se dizia, provavelmente o destino dos fugitivos, ligados à terra por questões de parentesco. Por isso a vigilância tinha sido reforçada e viam-se nas ruas, com frequência desusada, patrulhas da GNR que, por todo lado, havia montado uma verdadeira caça ao homem. Na Quarteira, o sítio onde nós estávamos, o policiamento não era menor, uma vez posta a circular as notícias de os meliantes estarem aí acoitados.
Depois de sabermos tal coisa e de a psicose dos Cavacos grassar por todo o lado, não demorou muito até a mesma se instalar nas nossas cabeças um justificado medo dos meliantes. Por isso começámos a trancar as portas e janelas do apartamento, além de tudo, um rés-do-chão. O receio era de tal modo que, os mais medrosos de entre nós, afirmaram ter “visto” sinais de estroncamento nas entradas. De manhã,  era ver-nos a conferir, quais Sherlok Holmes de trazer por casa, a marca dos cigarros que cada um fumava,  comparando-a com as priscas encontradas no nosso pátio, provavelmente aí lançadas pelos veraneantes dos andares superiores.
Uma noite, tendo uma colega necessidade de ir ao terraço, muniu-se previamente de uma faca de cozinha a fim de se precaver contra alguma eventualidade criminosa levada a cabo pelos fugitivos junto de nós. Até nem as roupas estendíamos fora, com medo de eles nos roubarem as toalhas e os biquínis de uso diário numa praia apinhada de gente e onde era difícil saber onde estavam os nossos próprios pés, na apinhada Quarteira.
Uma bela manhã acordamos ao som de tiros e, abertas as persianas e postas as cabeças de fora, logo os vizinhos nos informaram de que, numa casa a cerca de duzentos metros da nossa, tinham sido localizados os famosos Cavacos, além de, dos confrontos com a polícia, ter resultado um morto por suicídio e a captura de outro. Quanto ao terceiro, já não me lembro se ele já tinha detido ou se ainda andava a monte.
Como bons portugueses que não gostam de jurar falso, preparáramo-nos para ir ao local tirar o caso a limpo. Os ansiosos foram de imediato, enquanto os mais fleumáticos tomaram tranquilamente o pequeno-almoço, e só depois foram, o mais próximo possível uma vez que não podiam ultrapassar as linhas de segurança, ao local dos acontecimentos. Tudo se confirmara, Cavacos ensacados, estava concluído o primeiro capítulo atribulado das nossas férias e tudo ia agora decorrer normalmente, pensámos todos.
As peripécias, contudo, iriam suceder-se e, entre muitas outras, lembro-me daquela que iria ficar conhecida como “Batatas a Murro”.
É muito raro juntarem-se numa cassa quatro mulheres que gostem de cozinhar, mas isso aconteceu precisamente nessa altura e,  na cozinha, todas se iam revezando. Uma vez, o jantar era bacalhau assado com batatas a murro e repasto na mesa, qual não é o espanto da cozinheira quando vê uma das outras “chefs” a tirar cuidadosamente a pele às batatinhas, tostadas de igual forma na grelha das brasas!
De explicação em explicação, surge um animado diálogo que, felizmente, teve lugar no fim da refeição, de outra forma receio muito pelo destino das pobres batatinhas, tão apreciados pelos outros conhecedores desse prato da gastronomia portuguesa.
Nessa noite houve amuos, mas, na manhã seguinte, e nas que se seguiram, especialmente hoje, o assunto é motivo das maiores gargalhadas, as batatas a murro não foram, ainda bem e graças à amizade e bom senso entre todos, razão para o “soco”, nem nessa nem noutras ocasiões.
De dia para dia, com Deus manda e a gente pode, lá fomos gozando o resto das férias. A praia era um dos nossos pratos fortes e Vale do Lobo o sítio eleito. Nesse ano havia por lá um divertimento especial. Tratava-se de um balão impulsionado pelo vento, onde os mais afoitos seguidores de Da Vinci poderiam experimentar a sensação dos pássaros voando um pouco ali a uns bons palmos acima da praia. Normalmente os aventureiros eram homens, mas, uma bela manhã, uma jovem resolvera arriscar na experiência. Teria cerca de 18 anos de idade, o corpo franzino e, montada no balão, lá vai ela embalada pela brisa, afastando-se cada vez mais da praia por sobre o mar.
Terminado o tempo de corrida e chegada a hora da nova viagem, há que regressar a terra. Mas, qual quê? Caprichosa, a aragem forte que se fazia sentir impele de novo para cima o balão, iludindo por completo a força da gravidade: uma, duas, três, quatro tentativas sem sucesso. O nervosismo começou a apoderar-se tanto da balonista como dos banhistas que, cá em baixo, torciam pela aterragem da rapariga. Às vezes parecia que finalmente ela ia descer, mas após o malogro, crescia a ansiedade e os ahs de desapontamento dos espectadores. Por fim, depois de uns bons sessenta minutos no ar, o vento abrandou e a jovem desceu na areia ao som das palmas dos veraneantes.
 o dia 15 chegou depressa, era  altura de regressar ao Porto e, já  quase no termo da viagem,  algumas nuvens sulcavam o céu,  o  vento do norte era saudado.  O “Porto Sentido” de Rui Veloso estava cada vez mais perto e foi bom ver o casario sobranceiro ao Douro dar-nos as boas-vindas, animando-nos para o retorno ao trabalho. Comer depois um bom prato de tripas foi uma saudade colmatada, a juntar às batatas a murro, aos Cavacos e ao balão, que hoje relembro ao folhear o meu álbum de fotografias.
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outono


« Responder #1 em: Agosto 04, 2021, 18:45:25 »

A literatura pode ter muitas valências., que variam com quem lê. Teve o condão de me abrir a apetite para comer batatas a murro, mas não teve para me fazer regressar a essa idade mítica, em que tudo é uma descoberta. Mas mesmo que tivesse, uma coisa em que não me apanhavam era num balão. Tenho vertigens. Não as tenho é para ler boas histórias.

Abraço
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Maria Gabriela de Sá
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« Responder #2 em: Agosto 05, 2021, 20:19:43 »

Abraço e obrigada...
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Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
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E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
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Boas leituras!
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Boa noite!
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Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
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Bom domingo para todos.
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