UMA RAJADA

[Figas de Saint Pierre de]

UMA RAJADA
Diz lá
Sabes o que és?
Democrata?
Ditador?
Vencido?
Vencedor?
Que és tu?  
Sim, que és desde que nascido?

Certamente que te sentes coisa e loisa
porque lês, porque ouves, porque vês
e procuras respostas às perguntas dos porquês!

Tu vais mudando
vais sendo coisa e loisa e coisa nenhuma
logo tu, que querias ser só uma coisa!

De nada sabias quando nasceste
que não sabes do que te falta saber, para
deixares de ser coisa e seres completo ser
mas, não te preocupes
não te esforces, não compliques
não te critiques

Olha, apenas
a simplicidade de veres o sol nascer, a subir
descer e renascer
de sentires o vento soprar e seu amainar
de cheirares o mar
e ver ronceiros camelos no deserto!

Saboreia, tu, que vieste do nada.

Saboreia o presente do momento
respira, aspira

Sê só o que és em cada momento
não igual cada rajada de vento!

Nascestes, cresceste
o sol iluminou-te, fez crescer tua sombra

Tu continuas a ser coisa e loisa e coisa nenhuma!

Cada coisa sempre a prazo; como a que fazes
e não podes fazer nada!

Aspiras a ser, pelo menos, coisa bela
como bela estrela.  

O problema é que a estrela não desce até ti
nem tu sobes até ela, porque
por muito que queiras ser outra coisa
tu és, desde que nasceste
o que querem que sejas
se não os de cá de baixo são os de lá de cima
estás sempre em sua órbita!!!

Nunca exorbitas
enquanto cá habitas e cá em baixo ficas
e das coisas e loisas que foste
sem nunca as ter pensado, voltas à coisa
desde o início programado;
ao nada, ao pó que,
que quanto mais fino ficar
nele montarás em rajadas do vento
e andarás por aí.

Outros sentirão brisas do mar, és tu a soprar!

Deixaste de ser coisa.
Ninguém te pode agarrar!
Afinal, tudo é um sopro
....xxx...
Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque