Não depreendo as minhas preferências,
Não depreendo as minhas preferências, apesar de me fixar nelas, de as aceitar, de as viver, nem sequer percebo a de vestir batina, ou fato, ou calções, ou tshirt.
Recuo a quando tinha 10 anos, meros dez anos, menos sete que agora, retirados sete aos de agora, nessa duradoura temporada ia dentro de um veÃculo que circulava em pleno Alentejo, pensava que iria conseguir um futuro estrondoso, daqueles que timbram em todo o globo. Imaginava a colonização de novos planetas, do ordenamento de território consoante o método mais vantajoso e até de forma livre. Pensava em transferir muitas pessoas e que era solução para quando os recursos terrestres findassem, tinha meios para desenlear os toxicodependentes do vÃcio, através de “gases libertos na atmosfera que transformariam a mente de todas as pessoas, as libertassem desses vÃciosâ€, permutava o tabaco por um género de um canudo com um tubo de água comparado à s canetas recarregáveis, exalava vapor aromatizado. As cidades seriam ultra-avançadas, claramente que era relativo ao desenvolvimento terráqueo.
Atingi a plenitude imaginativa ao desenhar veÃculos voadores, impulsionados por uma ventoinha e ajudados por um gás que variava de densidade conforme a temperatura, a energia era fornecida por um isótopo desconhecido, tipo oscilações radioactivas e era reaproveitada porque era um circuito totalmente isolado e assim não haveria desperdÃcios, claro que o cristal seria substituÃdo porque depressa percebi o rigor tecnológico e a inviabilidade que esse sistema causaria, enquanto esses veÃculos de alta velocidade eram desencantados do inconsciente, estava eu no jipe, a regressar de 4 dias no Algarve, propriamente em Portimão, seria a última vez que regressaria à quele local, se a minha história acabasse hoje, além de se não tivesse discriminado a minha idade daria a sensação de nunca mais lá tornar (espero que os 17 passem e depois de passarem nunca mais me passe nada sem que fique nisso para sempre; será mesmo esse o meu pensamento?).
Entrecruzava fantasias, durante o movimento que eu acompanhava, caso uma máquina de filmar se movesse paralelamente ao vidro e à mesma velocidade apanharia um efeito do reflexo no vidro, fascinante, pausadamente, enquanto entre a aridez dos solos e as planÃcies inférteis figurava o tÃpico chaparro. Já dissolvia a ideia de que criaria a minha organização, frota de satélites e conseguiria ter suficiente poder como qualquer grande potência, ter acesso a todo o conteúdo da Internet, ter uma base subterrânea com super computadores que calculavam as permutas económicas, a variação dos mercados, arquivavam e seleccionavam os avanços cientÃficos, de modo a produzir novas engenhocas, pela razão de não ter amigos considerava que substituir mão-de-obra humana por robótica era o mais adequado e funcional para o tipo de desenvolvimento que eu imaginava vir a ter, sozinho, sem uma única outra célula além das que no núcleo contêm a minha cadeia genética, ou uma semelhante por causa de mutações, o ADN.
Reportando-me ao presente, situo-me numa constante paranóia, na vanguarda do palpitar de coração, não por amor, não por emoções consequentes da biologia, nada, simplesmente à espera do telefone que salve a minha vida, que estimule a minha memória a rememorar o passado, tornando-me o ser que criei mentalmente, a pessoa que penso que sou mesmo nunca a sendo para os outros, isolado num universo que não aparece...
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