marcopintoc
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« em: Junho 10, 2008, 23:12:06 » |
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Dos cantos esquerdos do universo polÃtico que, supostamente, manda em nós bafejam ventos de inquietação. O poeta falou à esquerda daqueles que eram supostos serem seus. Vozes de discórdia, conspirações de ruptura brotam nas colunas de opinião de semanários cada vez mais breves nestes dias cada vez mais rápidos. O petardo do Ronaldo esmorece a pedrada do camionista em fúria. A pedra voa, a raiva diz-se fome, fain, hambre. A finta do nosso menino de ouro faz com que o gesto, também ele hábil, do polÃcia que se esquiva à pedra seja assunto de rodapé. O homem mal pago, cansado de horas extensas de gratificado, sente uma vontade de carregar e desfazer o crânio do homem do outro lado da barricada. O lÃder do piquete estica um braço autoritário. O fogo é suspenso até à hora exacta em que o directo televisivo acontece. Nesse momento pedras chovem sobre a fileira anti-motim. As falanges carregam. Um considerável “share†clica o botão; preferem os “aammm’s†da conferência de imprensa dos nossos Viriatos ao festim animalesco do sangue escorrido sobre petróleo cada vez mais caro. Na avenida dos Aliados um ligeiro toque faz florir semiautomáticas dos porta-luvas. Um padre em Setúbal vai para a cama, cada dia mais cansado de assistir à mÃngua daqueles a quem supostamente pertence o reino dos céus. O sacerdote olha o crucifixo existente na parede do seu quarto e inquire, a quem o guia, sobre os motivos da penúria a que assiste com insistência. No recato do seu gabinete a mão trémula do ministro desespera na ânsia da meia-final que vai fazer com que milhões ignorem o facto do seu despedimento ter sido facilitado por decreto ; tudo em nome da produtividade. Em mansões luxuosas, homens cada vez mais ricos impacientam-se pelos novos tempos de liberalização. Como o avançado antes da grande penalidade anseiam pela glória. Nervosos, ocultos nos charutos protocolo e as bagaceiras realmente velhas, combinam a táctica do livre arbÃtrio sobre a vida de muitos. A palavra que mais persiste nas suas falas é lucro. Os milhões correm nas suas bocas com a mesma facilidade com que o miúdo milionário senta o lateral adversário. Do alto da sua colina de ameaça um general formaliza, na página catorze do diário gratuito já amarrotado, os inúmeros apelos à rebelião que tem recebido. Junto a televisores ergue-se uma nação. “Às Armasâ€. Esticam-se parcas centenas de euros para engalanar a famÃlia e o varandim. Uma casa portuguesa com certeza. A risada do emigrante brasileiro que trabalha no café diz:-Vosso escrete é bom . Vozes levantam-se em protesto: Escrete não! Selecção! Do canto do balcão veio o riso a quem a cárie já levou partes: - Amigo, Selecção é coisa de rico. Escrete é fé de gente pobre.
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