Crónicas do Euro - II

[marcopintoc]

O momento  ocorre algures entre o Santo António e o Camões, na rádio as vozes antecipam em directos constantes o prelúdio de mais um confronto dos nossos heróis do momento. Subitamente , vil traição , oportunidade de carreira,vendido , vem a notícia. O Filipão vai-se embora. Esse momento ocorre exactamente no momento em que existem os seguintes factos conjugados. A terrível nova , a luz da reserva que dura há demasiado tempo e a extensa fila de carros que aguarda o aflito reabastecimento  . Termina uma era , a voz do primeiro comentador encartado , a partir de agora tudo será diferente. De facto a gota está a acabar. A tal luzinha do depósito quase árido tenderá a tornar-se uma constante. Pouco a pouco , dia a dia haverá cada vez menos petróleo .A vivenda suburbana erguida em sonhos de eterno crescimento económico começara a ficar , a cada quilómetro , mais longe , mais cara. O sorriso de desprezo , queremos é ouvir falar de bola . Facto , quando o Abel meteu a mão  e um penalty pôs-nos fora o barril de petróleo custava dez dólares. Hoje está muito acima de cem. Ainda estamos no Euro.
Outro facto , o petróleo não é o único combustível fóssil que se encontra em depleção, o gás natural também se está a ir. Ainda estamos a milhares de pás eólicas e milhões de megawatts de painéis solares para puder repor o petróleo que consumimos actualmente. Significado: o onze titular está a ficar sem forças e não temos banco à altura.
Já se moveram grandes exércitos para os locais onde a preciosa substancia rareia a cada galão sugado das grandes jazidas canibalizadas pelo festim do mercado global. Tudo o que gravita à nossa volta é baseado no petróleo . O voo “low-cost “que leva a helvéticas paragens será, a curto prazo , uma inviabilidade económica. A energia que leva ao conforto do teu sofá a alta definição do drible perfeito um dia sofrerá desesperantes apagões. Quando o centro parte e o ponta-de-lança mergulha... negro , negro , fora , Blackout , off-side !?
Cala-te pá ,qual é o onze ? qual é o onze ? O século onze foi de facto um período de merda , era das trevas deve significar algo... A pergunta que se levanta é a seguinte :Sonharia , na central do coliseu , o cidadão romano ,que exultava em urros histéricos pelo golpe mortal do seu gladiador favorito, o golpe de trivela do nosso Mustang , que um dia o seu estilo de vida cosmopolita pleno de comodidades , o seu quotidiano civilizado embrenhado na grande urbe de um milhão de habitantes descambaria numa pequena vila de quinze mil que a peste e a guerra varriam com intensa frequência?

Nota do Autor: O texto nasce de uma segunda leitura da obra de James Howard Kunstler ,” O Fim do Petróleo “( Bizâncio , ISBN 9789725302989). Tal leitura foi coincidente com os dias de penúria de combustíveis por todo o país. Este texto é um vago apontamento de tal momento

[Laura]

As eras das trevas apenas acontecem quando se apaga a luz dentro da mente humana. Quando o blackout é mental, desligando-se a alma da mente. Por vezes e reflectindo historicamente, os blackouts quase totais são berçários de luz. As luzes são apagadas uma a uma, mas nunca todas. Por vezes, quando a Humanidade erra muito, tem simplesmente de apagar as luzes, adormecer e repensar tudo. Para apaziguar o caos e recriar o mundo. Só é pena que, por vezes, desatemos a matar-nos todos uns aos outros… Uma boa chamada de atenção, escritor Katharos.

[Goreti Dias]

"Ainda estamos a milhares de pás eólicas e milhões de megawatts de painéis solares para puder repor o petróleo que consumimos actualmente." Aplaudo!

[britoribeiro]

A questão energética abordada de forma diferente, perante uma sociedade que se preocupa mais com as bandeiras e os caxecóis.

Abraço