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Autor Tópico: Fernando Pessoa  (Lida 4483 vezes)
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Dionísio Dinis
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« em: Julho 09, 2008, 20:54:01 »

Até final de Setembro, o escritor em destaque será Fernando Pessoa.Colaborem com poemas, estudos sobre a obra e dados biográficos deste grande poeta.
Desde já, o nosso imenso obrigado pelas vossas participações.
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Pensar amar-te, é ter o acto na palavra e o coração no corpo inteiro.
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Leto of the Crows
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« Responder #1 em: Julho 20, 2008, 08:47:09 »

Fernando Pessoa

"Não sei, ama, onde era.
Nunca o saberei...
Sei que era Primavera
E o jardim do rei...
(Filha, quem o soubera!...).

Que azul tão azul tinha
Ali o azul do céu!
Se eu não era a rainha,
Porque era tudo meu?
(Filha, quem o adivinha?).

E o jardim tinha flores
De que não me sei lembrar...
Flores de tantas cores...
Penso e fico a chorar...
(Filha, os sonhos são dores...).

Qualquer dia viria
Qualquer coisa fazer
Toda aquela alegria
Mais alegria nascer
(Filha, o resto é morrer...).

Conta-me contos, ama...
Todos os contos são
Esse dia, e jardim e a dama
Que eu fui nessa solidão..."

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa no dia 13 de Junho de 1888, filho de Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa e de Joaquim Seabra Pessoa, crítico musical de um jornal da capital. Em 1893 morre o pai, vitimado pela tuberculose e, no ano seguinte, morre também o irmãozito de Fernando. É deste ano o aparecimento da primeira personagem fantástica, o Chevalier de Pas, através da qual Fernando «escreve cartas a si próprio». Em 1895 a mãe torna a casar, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, e a nova família transfere-se para a Ãfrica do Sul, onde Fernando faz todos os seus estudo até ao exame de admissão à Universidade do Cabo, no qual obtém o Queen Victoria Memorial Prize. Decide, contudo prosseguir os estudos na pátria e em 1905 regressa a Lisboa para se inscrever na Faculdade de Letras. Depois de ter abandonado os estudos, tenta ruinosamente uma aventura editorial, investindo numa tipografia, a herança da avó paterna. Emprega-se como tradutor de cartas comerciais em algumas firmas lisboetas de importação-exportação e transfere-se para casa de uma tia junto da qual viverá durante anos.

Em 1913, após ter passado pela experiência do Saudosismo de Teixeira Pascoaes, inventa e lança o Paulismo, que encontra imediatamente adeptos entusiastas nos poetas da sua geração.

Em 1914 (8 de Março) aparece Alberto Caeiro. Seguem-se-lhe Ricardo Reis e Ãlvaro de campos.

Em 1915, com Mário de Sá-Carneiro e outros amigos (entre os quais Almada Negreiros e Armando Côrtes-Rodrigues), publica Orpheu, revista de vanguarda que reúne experiências futuristas, paúlicas e cubistas e que morrerá ao terceiro número, após ter suscitado uma tão larga quanto efémera polémica no ambiente literário português. Entretanto, depois de ter traduzido um tratado de teosofia de C. W. Leadbeater, embrenha-se na experiência esotérica e teosófica, que marcara profundamente a obra ortónima. Em 1916, Sá-Carneiro parte para Paris. Pessoa escreve-lhe manifestando a sua intenção de se dedicar à astrologia em Lisboa. Inicia entretanto práticas mediúncias e fala de visões «astrais e etéreas» que lhe confirmariam a existência de um mestre desconhecido. Quando Sá-Carneiro se envenena com estricnina, depois de ter vestido o fraque, num pequeno hotel parisiense, Pessoa escreve que «sentiu à distância» o suicídio, poucas horas antes de ele ter lugar.

Inicia em 1920 a única aventura sentimental da sua vida. A amada Ophélia Queiroz, é empregada numa das firmas de importação-exportação onde Pessoa trabalha. A relação, depois de uma interrupção de alguns anos, termina definitivamente em 1929.

Em 1926 um golpe de estado militar põe fim à república parlamentar. Numa entrevista a um jornal da capital, Pessoa começa a expor as suas teorias sobre o Quinto Império. Entretanto, a revista conimbricense Presença, a mais prestigiosa revista literária portuguesa de entre as duas guerras, concede-lhe a honra de membro honorário e saúda-o como mestre.

Em 1934 publica Mensagem, o seu único volume de poesias em português que não saiu postumamente: uma plaquette à sua custa para concorrer ao prémio do Secretariado de Propaganda Nacional, que tem por tema a expansão portuguesa no Mundo. Obtém o segundo prémio: é preterido em favor do sacerdote Vasco Reis com a obra Romaria.

Em 30 de Novembro de 1935 morre em Lisboa no Hospital de S. Luís dos Franceses com uma crise hepática, causada provavelmente pelo abuso do álcool.

Em 1942 a casa editora Ãtica, de Lisboa, inicia a publicação das Obras Completas de Fernando Pessoa, dedicando o primeiro volume às poesias do ortónimo.

"Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e de vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.

Talvez palmares inexistentes,
Ãleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego, dêem aos crentes
De que esta terra se pode ter.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.

Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri."
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"...Voltará dançando, bela sendo,
Voltará criança pequena, correndo,
Voltará eterna sinfonia,
Voltará assim um dia."

http://asameiasdocrepusculo.blogspot.com
http://retratopintadoasangue.blog
Dionísio Dinis
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« Responder #2 em: Julho 20, 2008, 08:52:09 »

Grato pela dedicada e cuidada  colaboração.

Abraço
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Goreti Dias
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« Responder #3 em: Julho 20, 2008, 09:32:10 »

Uma boa colaboração! Obrigada!
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Goretidias

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« Responder #4 em: Julho 24, 2008, 19:43:59 »

Não é necessário agradecer ^^
E aqui fica mais qualquer coisa...

Mensagem

Brasão I

O dos Castelos


A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pusado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com o olhar sfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

Mar Português

O Monstrengo


O monstrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar;
E disse «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo,
«El-rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o monstrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse,
«El-Rei D João segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes,
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mer que é teu;
E mais que o monstrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-rei D. João Segundo!»

O Encoberto III

Noite


A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.

Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-rei negou.
                   *
Como a um captivo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre a da amargura,
Com fixos os olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
                   *
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome -
O Poder e o Renome -
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.

Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.

Mas Deus não dá licença que partamos.
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Tim_booth
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Queria escrever à velocidade com que penso.


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« Responder #5 em: Agosto 13, 2008, 20:04:30 »

Mar Português, in A mensagem

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.
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Goreti Dias
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« Responder #6 em: Agosto 14, 2008, 07:44:02 »

Muito conhecido, mas sublime!
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elvira
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« Responder #7 em: Setembro 18, 2008, 17:51:45 »

 Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
sagrou-te. e foste desvendendo a espuma

E a orla branca foi de ilha em continente,
clareou, correndo, até ao fim do mundo,
e viu-se a terra inteira, de repente
surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o mar, e o império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.

O Intante de Fernando Pessoa
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« Responder #8 em: Setembro 21, 2008, 09:34:24 »

Dois poemas de Fernando Pessoa-ele mesmo.

 
 Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo
 Onde há paisagens que não pode haver.
 Tão belas que são como que o veludo
 Do tecido que o mundo pode ser.

 Bem sei.Vegetações olhando o mar,
 Coral,encostas,tudo o que é a vida
 Tornado amor e luz,o que a sonhar
 Dá à imaginação anoitecida.

 Bem sei.Vejo isso tudo.O mesmo vento
 Que ali agita os ramos em torpor
 Passa de leve por meu pensamento
 E o pensamento julga que é amor.

 Sei,sim,é belo,é luz,é imposssível,
 Existe,dorme,tem a cor e o fim,
 E,ainda que não haja,é tão visível
 Que é uma parte natural de mim
 
 Sei tudo,sim ,sei tudo.E sei também
 Que não é lá que há isso que lá está,
 Sei qual é a luz que essa paisagem tem
 E qual o mar por que se vai para lá.
 
                                      20-9-1934
 

  -Liberdade-

 Ai que prazer
 Não cumprir um dever,
 Ter um livro para ler
 E não o fazer!
 Ler é maçada,
 Estudar é nada.
 O Sol doira
 Sem literatura.
 O rio corre,bem ou mal,
 Sem edição original.
 E a brisa,essa,
 De tão naturalmente matinal,
 Como tem tempo não tem pressa...

 Livros são papéis pintados com tinta.
 Estudar é uma coisa em que está indistinta
 A distinção entre nada e coisa nenhuma.

 Quanto é melhor,quando há bruma,
 Esperar por D.Sebstião,
 Quer venha ou não!

 Grande é a poesia,a bondade e as danças...
 Mas o melhor de tudo são as crianças,
 Flores,música,o luar,e o sol,que peca
 Só quando em vez de criar,seca.

 O mais do que isto
 Ã‰ Jesus Cristo,
 Que não sabia nada de finanças
 Nem consta que tivesse biblioteca...

                                      16-3-1935



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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
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Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
Março 10, 2021, 20:33:13
Boa feliz noite para todos.
Março 05, 2021, 20:17:07
Bom fim de semana para todos
Março 04, 2021, 20:58:41
Boa quinta para todos.
Março 03, 2021, 19:28:19
Boa noite para todos.
Março 02, 2021, 20:10:50
Boa noite feliz para todos.
Fevereiro 28, 2021, 17:12:44
Bom domingo para todos.
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