josé antonio
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escrever é um acto de partilha
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« em: Agosto 03, 2008, 16:31:42 » |
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Fátima havia organizado tudo ao pormenor para não terem surpresas desagradáveis, principalmente para a sua amiga, colada à vila desde o nascimento. Quarto reservado numa residencial recomendada pelo Dr. Armando, dois ou três restaurantes de referência e por fim o trabalho: a Conservatória, o Notário e o Tribunal. Quando chegaram à residencial o quarto que havia reservado estava ocupado, por erro do empregado. Restava-lhes aceitar a alternativa doutro quarto nas águas-furtadas ou procurar noutro local.Cansadas que estavam e desconhecedoras dos cantos da cidade, optaram pelo quarto nas águas-furtadas, práticamente igual ao outro. Com tecto falso, talvez para tapar as falhas do estuque, tinha uma cama de casal no centro, uma televisão em cima duma mesa, modelo secretária-mini-bar-faz-de-tudo e uma casa de banho que felizmente não ficava no exterior, quer dizer no fim do corredor, evitando os embaraçosos passeios em camisa de noite pela noite adentro. Na frente da única janela que tinha, ficava a chaminé da cozinha. Abriram as malas, arrumaram as roupas, despiram-se e deitaram-se o mais rápido que puderam. ... ... Oito da manhã. Às nove Fátima tinha de estar na Conservatória e de seguida no Notário. Saltaram cama fora e depois de resolvida a confusão na casa-de-banho entre bidé-lavatório e lavatório-bidé, disfarçaram as olheiras, repararam a silhueta e saltaram para a rua. ... ... O taxista nada tinha de comum com o velho Elias. Desabotoado até ao estômago, cigarro colado nos lábios, sem palavras, vigiava-as permanentemente através do retrovisor, especialmente o decote elegante e sensual da t.shirt branca da Fátima. ... ... A caminho do Notário, outro taxista. Um Elton John, mas mais alto e musculado, forte contador de anedotas sem graça alguma. À saÃda lançou um aviso a ambas: - Tomem cuidado depois das oito da noite. Anda por aà muita malandragem, pessoal!
Sete da tarde, regresso à residencial depois do dever cumprido. Horário para experimentarem um dos restaurantes referenciados. ... ... A ementa estava carregada de coisas com nomes estrangeiros e complicados, excluindo o comum prego no prato sobejamente conhecido das duas e capaz de as manter durante a noite. ... ... Enquanto Fátima se desdobrava nas tarefas mandatadas pelo Dr. Armando, Mariana fez-se ao desconhecido carregada de coragem e a bolsa bem apertada contra o peito. Calcorreou ruas estreitas, sujas e semadas de buracos até encontrar uma avenida, mais larga, aonde os automóveis pareciam estar a disputar uma daquelas corridas transmitidas pela Eurovisão. Depois dumas dez ou quinze tentativas conseguiu atravessar na passadeira sob o ataque sério dum carrão a alta e descontraÃda velocidade.Aproveitou o dia para ver lojas que nunca vira na vida, especialmente surpreendida com os soutien-gorge, como estava escrito numa montra de lingerie. Se calhar eram daqueles que as colegas diziam receber de prenda dos maridos emigrados... Terminado o tempo do recreio Mariana pôs-se a caminho para se encontrar com Fátima à hora marcada na residencial. ... ... Foi quando na passadeira e a um metro do passeio umcarro lhe embateu e atirou contra a montra duma companhia de seguros. Acordou na maca da ambulância a caminho do hospital. ... ... Refeitas do susto, ficaram de mãos dadas olhando para sÃtio nenhum, sem tempo. Com todo o tempo. De repente surgiu a enfermeira daquele piso, à frente de dois homens de semblante carregado. Um deles de camisete aos quadrados. multicoloridos, com os seus sessenta anos, agarrou a mão ainda trémula de Mariana e desatou numa declaração, sentida e nervosa. - Esteja descansada que o seguro paga-lhe tudo, menina. Eu tenho tudo em dia, não vai ter problemas. Já fui á Companhia e está tudo resolvido. A menina fica com o meu telefone e o da Companhia e se tiver problemas é só dar-me uma ligação, que eu trato de tudo, esteja aonde estiver. e desculpe-me, sinceramente não vinha devagar e não a vi à minha frente. Já me dei por culpado em todo o lugar, aqui no Hospital, na Companhia, na PolÃcia... Parou quando o outro indivÃduo, de tez morena, de fato e sem gravata, o afastou da frente de Mariana e se lhe dirigiu: - Eu sou o cliente que este senhor trazia no táxi. Testemunhei tudo o que aconteceu. se necessitar de ajuda tem aqui o meu contacto. ( Tirou um cartão do bolso que meteu carinhosamente na mão de Mariana.) - São aqui de perto?
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