Valdevinoxis
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« em: Agosto 10, 2008, 21:39:53 » |
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Ficou pequeno, um homem de Lilliput, minúsculo! Há dias em que mais vale estar calado e não dizer pevas a ninguém, ser mudo, fechar a lÃngua a sete chaves. Sentiu-se igual a si mesmo, teve a noção do que era e isso, era novidade. Que desconforto. O gajo era um verdadeiro incontinente, no que diz respeito a falar dos outros. Era daquelas pessoas que tinha na secretária, uma caneta e papel cor de rosa. Um verdadeiro paparazzo sem máquina fotográfica... nem era necessária. As fotografias não dão opiniões e essa era a sua especialidade... dar opiniões. Naquele dia, enquanto rondava o bairro-rei do social (fazia-o todos os dias à procura de algo), deparou-se com um aglomerado de figuras à entrada da casa dos Meireles de Sá. Aquele magote de gente ilustre era anormal durante o dia e, ainda por cima, de manhã. Afilou o nariz e apontou-o. Estacionou o carro uns metros à frente (mesmo em cima da paragem reservada aos cidadãos deficientes) e saiu com um pequeno gravador enfiado no bolso. Devagar, chegou-se e foi-se infiltrando. Tanta gente fina e bem vestida... roupa exclusiva, de corte assinado pelo estilista. Carros de topo. Plásticas e acrescentos em todos os corpos. Estava no paraÃso! Agora só precisava de fazer alguém falar sem peceber que estava a ser gravado. E aquela gente era perita em "meter os pés pelas mãos" quando abria a boca. Dirigiu-se, insinuante e de uma forma pronta, à menina dos Meireles de Sá. Tinha-a farejado desde logo. A filha dos anfitriões era uma presença cheia, embora ainda garota. Abordou-a com modos de alegre pateta: -Nini Meireles de Sá! – entoou, balanceando a conversa - Há quanto tempo?! Beijinho, beijinho! Como tem passado? Sem se deter, disparou à laia de lulu que abana o rabo: -Linda festa, com tantos ilustres do nosso social! A que se deve o evento? A rapariga olhou-o e, com uma expressão que não se descreve, desfez-se em lágrimas e soluços, abraçou-se ao pescoço mais próximo esvaÃu-se em desgosto. Nessa noite, no regresso a casa, depois de uma animada festa, o carro onde os Sr. e Sra. Meireles de Sá seguiam, havia sofrido uma colisão frontal, deixando-os sem centelha no próprio local. Não tiveram hipótese. O gajo não sabia, não podia saber e nem olhou para a expressão das pessoas... havia roupas, carros e estilo... as coisas que realmente importavam. Aquela sensação de ser expulso por olhares silenciosos, que mordem por dentro e por fora, marca. Marcou-o. Sentiu-se mesquinho, infimo e saiu dali sem palavrear mais nada.
Valdevinoxis
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