Pedro Ventura
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« em: Agosto 21, 2008, 21:54:37 » |
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- Boa noite! Bem-vindo ao Personulidades... - Não sei se será boa noite, com o frio que se faz sentir lá fora, vá lá que aqui no estúdio têm ar condicionado... E chegar aqui foi uma odisseia, parti a corrente da bicicleta e tive de vir de táxi… A propósito, tenho aqui a factura para apresentar. - Sim, no final do programa. Desde já, agradeço por ter concedido o exclusivo desta entrevista ao nosso canal, visto serem escassas as entrevistas que dá, principalmente na televisão… - Eu é que agradeço, têm um café óptimo e a menina que nos dissimula as imperfeições da cara tem uns seios bem interessantes, aliás, umas belas mãos, queria dizer. - Começo por lhe perguntar, porque começou a escrever? - Porque pensei que seria melhor que assentar tijolo. - Mas, pelo que consta tem formação académica na área das letras... - Pelo menos passaram-me o certificado, o que me leva a crer que sim. Não sei se me serviu para alguma coisa, mas... - Mas o que é certo é que é um grande escritor. No seu último livro, “Solipsismo: artefacto extremo do realâ€, diz uma frase assaz curiosa: “ A vida é curta, principalmente se formos por atalhosâ€â€¦ Que quer dizer com esta sua frase? - Precisamente o que está lá escrito. - Humm... Compreendo... - Se compreende porque me fez essa pergunta? - Passemos à frente. Em dada altura, um dos personagens do seu livro, diz: “ Desde que me separei da minha mulher que deixei de roer as unhasâ€. Será este um sinal revelador de que a mulher o deixava nervoso ao ponto de roer as unhas?! Quer comentar? - Não há muito que comentar. O personagem apenas comprou um corta unhas. - Esta é um personagem cheio de ambiguidades, concorda? - Se o diz, então concordo. - É verdade que tem algumas divergências com a sua editora, ou direi antes, com a sua companheira?! - Sim, não o posso negar. Mas as nossas divergências são apenas gastronómicas. Ela insiste em meter tomate à minha frente à s refeições, quando sabe de antemão que detesto esse tipo de fruta… Sabia que o tomate é uma fruta, apesar de estar deslocado na Roda dos Alimentos? - Não, não sabia… Mas aqui fica a informação para quem nos está a ver lá em casa. A seguir a este seu último livro, que ocupa uma posição cimeira no top de vendas e está traduzido em várias lÃnguas, tem projectos em mente depois deste estrondoso êxito? - Sempre... Aliás, acho que um homem sem projectos não é um homem, é apenas um ser que se limita a ser arrastado pelos dias. Mas neste momento tenho alguns projectos. Tenho de falar com o meu senhorio, porque estou com infiltrações no tecto da minha casa de banho, está tudo negro e a pingar, capaz de fazer um curto-circuito... e quero ver se meto soalho flutuante no quarto e na sala... - Falava de escrita... - Sim, tenho de escrever à minha mãe. Faz um ano que me redigiu uma carta e fui adiando até ao esquecimento. Está num lar e pinta muito bem. É a artista lá do sÃtio. - Ficou contente com este seu último prémio? - A minha mãe vai ficar, quando lhe escrever... O diploma é bonito e a maquia também é boa. Dá-me para resolver o assunto do soalho sem discutir preços e encher a despensa de vÃveres para alguns meses. - Dizem que está envolvido em movimentos ecológicos, pode falar um pouco disso? - É muito simples. Apenas separo o lixo nos devidos recipientes, como forma de exercer alguma cidadania. E uso a bicicleta como meio de transporte, sempre contribuo para não poluir mais o ar que respiramos… Não se esqueça que tenho aqui a factura do táxi… - Sim, esteja descansado que vamos incluir essa despesa extra no seu cachet. Não tem medo de perder a sua reputação, a sua condição de escritor de renome, por causa das suas peculiares palavras e da sua maneira de estar nas entrevistas? - De forma alguma... A minha vizinha, uma educada senhora de noventa e seis anos, que sofre de Alzheimer, não sabe do seu nome quanto mais da minha condição, ainda assim, continua a dar-me um raminho de salsa sempre que preciso ou até mesmo uns ovos. Tem uma boa galinha poedeira na varanda e fornece toda a vizinhança. - Bem, o nosso tempo está a chegar ao fim. Para terminar, que sugestão pode deixar para aqueles que querem seguir a arte das letras? - Em primeiro lugar é preciso saber escrever, depois não durmam de luz acesa, a luz afugenta as ideias.
2007
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