Pedro Ventura
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« em: Agosto 21, 2008, 21:55:38 » |
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Eram precisamente onze e meia da manhã, quando o telefone soa no departamento de Florival Maria, mais precisamente, o telefone que estava em cima da sua secretária, ao lado do computador obsoleto. - Bom dia! – diz a voz do outro extremo da linha. - Bom dia! – de igual forma retorque Florival Maria. - Estou a falar com o senhor Florivaldo? - Florival!... - Desculpe o equÃvoco… - Sim, é o próprio. - Daqui fala a secretária do senhor director dos recursos humanos. Ele pede para comparecer aqui no seu gabinete o mais célere que possa. Tem um assunto para tratar com o senhor. - Vou já. Obrigado! Enquanto fazia o percurso até ao gabinete do senhor director, Florival Maria imaginava, visto considerar-se um funcionário sem mácula, uma eventual promoção, uma mudança de departamento, enfim… Muitos pensamentos cirandam na mente de um funcionário quando é chamado a uma patente superior à sua. Cinco minutos depois, apresentava-se à frente do dignÃssimo director dos recursos humanos, o senhor Arménio. Apesar de saber o seu nome, jamais ousaria trata-lo por tal denominação. Seria abuso de confiança e, quiçá, razão suficiente para a abertura de um processo disciplinar. - Bom dia, senhor director! - Bom dia senhor, Florivaldo Maria! - Às suas ordens senhor director. Desculpe o reparo, mas é Florival o meu nome – diz acanhadamente. O director mal prestou atenção ao reparo. - Vou tentar ser breve… Hoje até vim mais cedo… Cheguei há pouco e a primeira coisa que fiz, a seguir a beber o café e ler as últimas do desporto, foi mandar telefonar ao senhor. Sabe, o seu contrato de seis meses está a expirar e, depois de ponderar muito, acho que não lho vou renovar… Florival Maria ficou pálido e o seu coração entrou num compasso sem freio. - A sua chefe de repartição não me tem dado boas indicações sobre a sua conduta… – continua o senhor director dos recursos humanos, enquanto Florival Maria começa a cogitar nos impropérios que chamaria à sua chefe de repartição se tivesse afoiteza para tal - Pelo que sei, entra sempre a horas, não discute sobre futebol nem lê os matutinos, poupa todos os pedaços de papel, não deita elásticos e clips fora, não vai tomar o pequeno-almoço com os seus colegas, não perde uma hora por dia a fumar… - Não fumo senhor director… - Não me interrompa!.. - Desculpe senhor director. - Leva vinte minutos a almoçar, não trata de assuntos particulares na hora do expediente nem passa tempos ao telefone com os amigos ou com a famÃlia, nunca meteu uma baixa, não acumula trabalho, sai depois da sua hora, não discute… Esta conduta foge completamente aos cânones pré-estabelecidos da instituição, e assim, chego à conclusão de que é muito difÃcil manter-se aqui em funções. Não podemos aceitar aqui esses comportamentos rebeldes… - Mas senhor director?!... - Sou homem de uma só palavra senhor Florivaldo. - Florival… - Que raio de nome este!.. - Senhor director, como é que vou dizer isto à minha mãe? E com vinte e cinco anos e um doutoramento quem é que me vai dar emprego?! Isto não está fácil lá fora senhor director… Peço-lhe que pondere melhor senhor… - Estou resoluto na minha decisão senhor Florivaldo! - Florival… - A partir da semana que vem deixa de ser funcionário público. Tenho muita pena, mas tem de haver algum rigor na escolha dos nossos recursos humanos. - Compreendo senhor director… Se não há outra hipótese… É tudo senhor director? - Sim, é tudo! Pode ir. - Com sua licença, passe bem! - Boa sorte, senhor Florivaldo. - Florival, senhor director.
2007
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