Tudo é arte.

Como classificar o que é ou não arte é a dor de cabeça de todos os que se interessam pelo mundo. A própria definição da palavra, “actividade humana ligada a manifestações de ordem estética” produz confusão e conflito. Arte aparece apenas ligada a manifestações de ordem estética, indicando que é preciso algo ser belo para ser arte.
Fala-se em expressão artística para tentar descrever aquilo que alguém nos tenta dizer através da pintura ou da fotografia, do teatro ou da escrita, ou de qualquer outra coisa. Eu digo que toda a expressão, é, por definição, arte.
Esta é a minha premissa. Expressão é arte. Arte é a linguagem usada para comunicar algo que a língua só por si não permite transmitir. A tal da expressão artística é, portanto, uma linguagem com vários dialectos, tantos que ninguém se pode dizer capaz de os dominar a todos e, logo, ninguém é capaz de excluir nenhum. Talvez, no meu ponto de vista, seja essa a verdadeira beleza da arte, a falta de barreiras e definições, a impossibilidade de distinguir arte de outra coisa qualquer.
Tudo pode ser arte se for usado como uma expressão de uma coisa qualquer. É isso que a torna tão libertadora, tão capaz de exprimir tudo, a mais universal e bonita das linguagens. Não tem regras, não tem formas, não tem certos nem errados. É claro, para mim, isso agora. Percebo finalmente aquelas músicas estranhíssimas que não passam na rádio, compreendo os quadros que nada representam, leio as construções frásicas anormais que alguém escreve. São a única maneira que o artista, aquele que se expressa através da arte, encontrou para fazer chegar até mim alguma coisa que nasceu dentro dele. São formas de arte tão originais e belas como outras quaisquer porque são a expressão de alguém em relação a algo.
Há, no entanto, uma ressalva a ter em conta. Existe uma grande diferença entre arte e entretenimento. E nesse fosso caem muitos apreciadores, porque por vezes aquilo que começou como uma simples expressão foi-se mutando para uma máquina de passar o tempo. Isso não é arte, não me faz pensar, não me quer dizer nada, tem como função apenas distrair.
Mas tudo pode ser arte. Tudo. Da expressão expressão artística deveria ser retirada a palavra artística, já que a própria expressão é, em si mesma, arte. Tudo o que foi criado com o propósito de transmitir algo é arte. Por isso não me sinto capaz de ignorar nada que me tente dizer alguma coisa, mesmo que não consiga compreender, mesmo que não seja bonito, porque arte não é estética, mesmo que não goste do que foi transmitido. Porque tudo é arte, mesmo que para apenas o seu criador a mensagem faça sentido.