É para ti, que hoje te escrevo, daqui…

[cleo]

É para ti que hoje escrevo…
Ainda tenho na boca o sabor adocicado dos teus beijos…
No corpo, as marcas das tuas mãos pequenas e delicadas, de dedos curtos e hábeis…
Na alma, uma tatuagem feita de um sentimento que me inundou os sentidos…
Foi naquela tarde de Outono, quando as primeiras folhas caiam das árvores e o vento as arrastava em redemoinho, fazendo-as dançar como quem dança um tango, que me entraste pela vida adentro, sem eu te esperar.
Abri-te as portas do meu mundo e ofereci-te guarida no meu castelo de sonhos…
Não te perguntei nada. Não quis saber de onde vinhas nem do que fugias, apenas te ofereci o meu colo para que te aconchegasses e te sentisses protegido.
Falaste-me dos teus ideais de vida, dos riscos que corrias por não seguires um rumo que outros queriam que tivesses seguido, das coisas que te davam prazer, do sal da vida…
Despias-te de roupas e de máscaras, e eras tu ali, nu… só para mim.
Por vezes, os teus olhos diziam mais do que as tuas palavras…
Nas longas conversas que se estendiam pela noite dentro, falávamos e riamos como duas crianças felizes e despreocupadas, alheias ao mundo complicado dos adultos. No fim, agradecias-me sempre, por te ter permitido seres tu próprio. Mais ninguém te compreendia como eu, dizias-me sempre.
Mas, naquela madrugada branca, em que o nevoeiro mergulhou sobre o meu jardim, vi-te afastar e desaparecer, misturando-te com o branco do nevoeiro cerrado. Nunca mais ouvi falar de ti. Eras agora uma doce lembrança de um desconhecido sem nome nem rosto, que um dia me bateu à porta e me pediu algo tão simples… carinho. Um desconhecido que me marcou mais do que ele alguma vez, sequer pensou.
Estejas onde estiveres, quero que saibas que nunca me esqueci de ti.
É para ti, que hoje te escrevo, daqui…

[Goreti Dias]

E escreves muito bem!!!!
Bj