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Autor Tópico: Memória das minhas putas tristes  (Lida 5438 vezes)
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Tim_booth
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Queria escrever à velocidade com que penso.


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« em: Outubro 02, 2008, 22:33:25 »

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O que pensa uma mulher enquanto cose um botão?
- Gabriel García Márquez, Memória das minhas putas tristes


Chega finalmente à mesa do Livros (s)em critério uma obra do grande senhor das letras colombiano, Nobel em 1982, Gabriel García Márquez. Não será a obra mais importante da sua carreira, essa honra caberá talvez a Cem anos de Solidão, mas esta foi a primeira que tive o prazer de respirar.

O livro, que já de si é de reduzida dimensão, chegou-me às mãos em edição de bolso da Booket, talvez por isso tenha tomado um fôlego maior que o normal e lido a pequena maravilha em menos de um dia.

A história é a da velhice. Não de uma velhice qualquer, uma velhice nonagenária, por isto quero dizer que é a história de um senhor, cronista toda a vida no jornal local, que acaba de completar noventa anos de vida. Ora este senhor decide, impulsivamente, oferecer-se uma virgem de presente e para tal faz os arranjos que toda a vida soube necessários. Curiosidade à cerca deste velho, que não é de todo uma curiosidade e sim o tema central desta história como mais à frente vai ficar claro, é que nunca se deitou com uma mulher sem lhe pagar. Arranjos feitos, o senhor deita-se ao lado de uma mulher, menina ainda de catorze anos, que já tinha adormecido quando o velho entra finalmente no quarto. Incapaz de acordar, o cronista deixa-se ficar por ali, deitado ao lado da menina quase mulher, que todo o dia tem de trabalhar na fábrica de botões e ainda assim se vê forçada à prostituição para arranjar o dinheiro que lhe falta. A noite passa e nem a menina acorda nem o velho a quer acordar, e assim começa o ano noventa deste velho senhor.

Sejamos francos, apesar de primorosamente bem escrito, de uma história enternecedora e de (algumas) personagens cativantes, este não é um romance que vá ficar como referência da história da Literatura. Aliás, nem se esforça para isso. E talvez aí se veja o encantamento de um livro despretensioso, quando tinha todas as razões do mundo para não o ser, se tivermos em conta o seu criador. A beleza aqui está na simplicidade - da história e da escrita. Não é um qualquer escritor que consegue manejar bem a arma da frase simples, na verdade é bem mais difícil escrever uma frase concisa e bela do que uma carregada de artifícios. E mesmo simples, talvez o livro não seja tão unidimensional como à partida se quer apresentar.

Uma história de amor numa vida que nunca viu amor. Este é o tema central, a tal única dimensão de que falei ainda agora. Um homem descobre o verdadeiro amor na ponta final da vida, quando por ele já passaram milhares de mulheres que não deixaram mais do que marcas físicas. É sempre emotivo quando vemos um velho se apaixonar verdadeiramente. Talvez pela súbita tomada de consciência que o tempo também por nós passará, reconfortamo-nos na ideia de que na altura em que toda a gente é mais nova a vida ainda vive no coração.

Na minha opinião aqui reside a força do livro, é uma montra para a velhice que nos aguarda. A ideia de que mesmo depois do ano que já não esperávamos viver, tudo pode mudar e mudar completamente o passado que julgávamos certo. Para este homem que sempre viveu sem saber o que era o amor, tudo mudou, passado presente e futuro, no minuto que viu o corpo da menina de catorze anos, nua, deitada na cama, a dormir serenamente.

Isto não é simplesmente a história de um velho que descobre o que é o amor aos noventa anos, é a história de todos os que descobrem o amor, em qualquer idade, porque ninguém deve "morrer sem provar a maravilha de foder com amor." Não sejamos nós nonagenários quando descobrirmos isso.

Escrito originalmente aqui.
« Última modificação: Outubro 02, 2008, 23:03:24 por Tim_booth » Registado

marcopintoc
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« Responder #1 em: Outubro 02, 2008, 22:55:05 »

Um livro que li e não gostei. Conhecendo a obra do autor em romances tão grandes como "Cem anos de solidão" e " O Amor nos tempos da cólera" achei este livro francamente fraco. Um dos riscos de ser um nome maior da literatura é que tudo o que se escreve é passível de edição. A responsabilidade de um autor é eterna , independentemente das tiragens.
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« Responder #2 em: Outubro 02, 2008, 23:05:41 »

Este foi o meu primeiro contacto com o autor e admito que estava à espera de melhor. A verdade é que mesmo não me sendo particularmente marcante, não posso dizer que não tenha gostado - como disse de Fanny Owen, por exemplo. Agora certamente que o esquecerei dentro de algumas obras e não tardará muito a ser lembrado apenas como o primeiro do Gabriel García Márquez que li...

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anamarques
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« Responder #3 em: Outubro 07, 2008, 15:04:08 »

Eu li este livro por ser do Gabriel Garcia Marquez e concordo com o Marco: é fraco.
Continuo a admirar o autor pelas obras primas que escreveu no passado.
Ao contrário do Tim eu não acho que se trate de uma história de amor. Sobre o amor escreveu Gabriel, de forma sublime, o "Amor nos Tempos de Cólera"
Aquele velho de 90 anos não chega a tocar na criança que dorme. Ele fica enamorado do amor que não chegou a conhecer. Porque aquela amor é um não-amor. Aquela relação uma não-relação porque é absolutamente unilateral. Já o li há alguns anos mas o Amor implica dois seres em pé de igualdade e a personagem da criança é apenas uma figurante sem vontade própria. Para mim o livro fala da solidão extrema e da exploração sexual de menores. É sem dúvida triste como as putas de que ele fala.
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« Responder #4 em: Outubro 07, 2008, 18:17:14 »

Não tinha, sinceramente, percebido o livro por esse ponto de vista Ana, mas é uma boa interpretação, bem mais acertada do que a minha. Agora que penso dessa maneira, o livro parece-me mais triste do que o tinha percepcionado no entanto, o gosto que ficou na boca foi o da esperança, porque para mim, talvez por ser homem e por isso me aproximar do género, simpatizei e de certa forma me identifiquei com o velho.

Atenção, ressalvo o de certa forma, na medida em que seria para mim triste chegar aos noventa anos sem saber o que é amor e senti-lo, ainda que dessa forma doentia, é melhor do que morrer sem o experimentar.

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« Última modificação: Outubro 08, 2008, 16:43:50 por Tim_booth » Registado
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« Responder #5 em: Outubro 08, 2008, 11:58:48 »

Olá Tim, eu percebo a tua simpatia pelo velho. No entanto acho que ele é mais digno de compaixão do que simpatia...
E não sou Maria, sou Ana ( mas não me importaria nada de o ser!)
Um abraço
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« Responder #6 em: Outubro 08, 2008, 16:44:11 »

Desculpa Ana, não sei em que é que estava a pensar...

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« Responder #7 em: Outubro 22, 2008, 01:48:20 »

sou um admirador convicto da literatura de expressão hispânica e, tal como Saramago, acho que Portugal e Espanha e toda a sua pátria linguística, navegam perfeitamente desprendidos da pedra do resto do mundo. Garcia Marquez é uma das minhas referências. não só nas grandes _enooooooooormes_ narrativas, já aqui enunciadas, como também mestre na arte de contar um conto ou na extraordinária capacidade de fazer política com a palavra (miguel littin, prisioneiro no chile).
li este último livro, naturalmente. mas tento esquecer-me disso. a memória que quero guardar de GGM é outra, a de um dos melhores e mais profundos prosadores da história da literatura.
_apesar disso, simpatizei com a pouco verosímil figura do velho...
parabéns pelo brilhantismo que incutes às tuas críticas.
abraço
jcB
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« Responder #8 em: Outubro 23, 2008, 11:58:15 »

Obrigado JCB, realmente este não é um livro de memória para GGM...

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Carlos Rodrigues
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« Responder #9 em: Novembro 19, 2008, 22:06:53 »

Foi também a minha primeira experiência com o autor. Gostei do livro pela sua simplicidade de escrita e de leitura, quanto ao seu conteudo não achei nada de especial, cheguei ao fim com pena do velho jornalista. Fiquei com vontade de ler mais sobre este autor.
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Tim_booth
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« Responder #10 em: Novembro 20, 2008, 15:22:17 »

Como livro de apresentação, acho mau. É uma pena que tenha sido este o livro escolhido pela editora para o editar pela Booket, agora BiisLEYA. Enfim, ainda hei-de ler mais coisas dele, certamente.

Obrigado pelo comentário Carlos.

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Luis F
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Nas asas do sonho, escrevo...


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« Responder #11 em: Novembro 25, 2008, 16:06:06 »

Tim, mais uma excelente critica...

Fico a aguardar então as tuas palavras à minha obra - Rio de Sal

É sempre bom poder contar com uma visão externa.

Um abraço
Luis
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Tim_booth
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« Responder #12 em: Novembro 25, 2008, 19:11:21 »

Muito obrigado Luís, estou a tratar disso. Sinto-me é na obrigação de te avisar que a poesia não é, de todo, o campo onde estou mais à vontade... mas vou tentar contornar isso.

Cheers
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