RosaMaria
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« em: Outubro 22, 2008, 15:05:45 » |
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CapÃtulo II - Rui
Rui estava no estúdio fazia muitas horas, barba por fazer, cabelo como sempre todo desalinhado, a camisola suja de mil cores e a tela à sua frente ganhava forma. Tinha uma exposição marcada para dali a três meses e ainda não tinha escolhido os quadros que iria expor. Preferia criar…. Isso sim, era o melhor que podia fazer…. Parou por uns instantes. Acendeu um cigarro e sentou-se num banco alto que estava junto à janela Sabia-lhe bem aqueles minutos assim. Relaxado, olhando a rua sempre cheia de gente, saboreava assim o seu vÃcio quase de uma forma anestesiada… DoÃa-lhe as costas, e pensou que agora as mãos da Lurdes faziam muita falta. Uma massagem pelas mãos de sua mãe era o melhor que podia querer naquele momento. Pensando nela, lembrou-se dos domingos em sua casa e já estava com água na boca…. Arroz de pato…como só ela o sabia fazer!. E, quando o Pedro também ia, era certo e sabido que a mãe fazia o sublime, delicioso, inigualável arroz de pato à Licas. Uma espécie de ritual domingueiro. Fazia tempo que não ia a casa… tinha saudades, saudades mesmo, mas falava com o Pedro todas as semanas e sabia que tudo estava a correr dentro de uma normalidade possÃvel. Sua mãe tinha passado um mau bocado depois da morte do pai… Já tinham passado cinco anos que seu pai Rodrigo tinha falecido de acidente de carro. Ele e acompanhante, pereceram naquela trágica noite. Custava acreditar… Viviam os três em casa, e nesse dia algo parecia que não estava bem. Não tinha dormido quase nada, um estranho pressentimento corria-lhe pelo corpo todo, nem conseguia explicar. Foi para a faculdade, como sempre, e à hora de almoço telefonou ao pai para lhe perguntar se queria ir almoçar com ele. Disse-lhe que não podia, tinha uma reunião ao princÃpio da tarde e o almoço teria de ser rápido para estar a horas no escritório. Seu pai tinha uma pequena empresa de venda de automóveis. O orgulho que tinha em ser seu filho! Rodrigo era um homem como havia poucos. Ele e sua mãe tinham tido um casamento feliz, e mais, era um lar sagrado, onde os princÃpios de justiça, partilha e tolerância eram regras de oiro. A infância e adolescência foram perÃodos maravilhosos. Ele e Pedro, seu irmão, viviam num ambiente equilibrado e formaram-se como seres humanos à sombra dos valores de seus pais. A mãe era mais brincalhona… um desassossego, (à s vezes), para o Rodrigo. O telefone tocou. - olá Sofia, - Olá meu querido. Queres ir lanchar comigo? - Pode ser, onde te encontro? - No Café “Bom dia†daqui a meia hora, já estou com saudades tuas. Podemos combinar qualquer coisa para o fim de semana, sei lá ir ao Algarve que achas? - Não pode ser Sofia, este fim de semana vou ao Porto, combinei com o meu irmão, ir lá passar o fim de semana. - Ok, fica para outra altura então. Bom, falamos daqui a pouco sim? - Certo Sofia - Amo-te Rui…. - Também, minha docinha! Ficou meio pensativo, assim sem saber bem o que estava a sentir. Não lhe apetecia muito sair, agora, para ir ter com a Sofia. Estava tão bem ali… mas enfim, lá teria de ser. Tomou um banho rápido, trocou de roupa, vestiu as suas calças de ganga meias rotas, uma camisola à s riscas, sapatilhas como sempre, e a sacola onde colocou meias dúzia de coisas necessárias. Estava pronto para sair, mas a disposição era pouca, esperava que a Sofia não lhe perguntasse o que tinha, pois nem ele próprio sabia bem. Nostalgia era a palavra que definia o seu espÃrito.
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