Margarita e o Mestre

[camila75]

“Mas no quarto havia coisas ainda piores: no tamborete que pertencera à mulher do joalheiro estava bastante bem instalada uma terceira personagem, concretamente um gato preto de dimensões horríveis, com um copo de vodca numa pata e, na outra, um garfo com o qual conseguira já espetar um cogumelo de conserva.
A luz do quarto, já de si fraca, começou a extingir-se dos olhos de Stiopa. «É assim que as pessoas enlouquecem!», pensou ele, agarrando-se à ombreira da porta.
- Vejo que está um pouco surpreendido, caro Stepan Bogdnovitch – disse Woland para Stiopa, que batia os dentes. – Mas não há aqui nada de surpreendente. Este é o meu séquito.
Nesse instante, o gato bebeu a vodca, e a mão de Stiopa escorregou pela ombreira abaixo”.

A Moscovo de entre guerras recebe a visita inesperada do diabo e do seu séquito. Em vez dos tradicionais diabos vermelhos com cornos e tridente que atiram os pecadores para caldeirões com água a ferver, estes têm um aspecto muito mais original e divertem-se a pregar partidas alucinantes a todos os que se atravessam no seu caminho. As principais vítimas são os carreiristas medíocres, a quem acontecem todo o tipo de desgraças inesperadas. Pelo meio ainda têm tempo para dar aulas de bruxaria aos injustiçados, para que estes possam fazer umas tropelias por conta própria. No final os diabos são como o Anjo Caído “que sempre quer o mal mas sempre pratica o bem”, e repõem a justíça enquanto expõem as ambições mesquinhas e castigam os oportunistas.
Quem está à espera de um romance leviano e inconsequente desengane-se. A brincar se dizem as verdades e Mykhail Bulgakov desfere aqui uma crítica social inteligente, implacável e, acima de tudo, intemporal. O humor negro no seu melhor, naquele que já foi considerado o mais fascinante romance fantástico do século XX.

[Goreti Dias]

Promete, de facto! Um diabo desses dava jeito...
Obrigada pela partilha.
Bj