Pundonor (2)

[vitor]

Um amante de mim, este despudor indirecto, restos vagos, difusos, coisas obtusas num vale ateu e só um corpo teu enevoa de brumas este silêncio, o cheiro vadio da coisa bela na alma e durmo, dorme ela e eu, neste relento abafado pelas nossas almas, de espelhos afastados de quem não nos veja, esta cidadela fantasma, embriagada, este suor de raiva que ejacula a alma sobre quem me ama, um buraco de judeus perdidos entre nós, todos nós, pudéssemos nós, Pandora, comprar as ânsias isoladamente deste tempo, onde todo o resto seria nosso e teríamos em nós o silêncio sem lapidações desconectadas da pele. Este amor ácido varre-me da verdade, esbarra-me contra-feito, e eu, árido na áurea que me pasma enquanto me busco, não existo. Na verdade. Acreditas? Crês então no difundido caminhar dos meus gestos? Repara em mim, Pandora, como me desfiguro demonstrando-te a verdade sensorial dos meus instintos, como um rastejar sem rumo, braço de nuvem na orla desta praia perpetrada pelas baleias da lei, aqui, Pandora, vendido aos ventos da historia, às guerras impetuosas do silencio, ao cemitério de animais sórdidos, de odores e fantasmas, como a pelo do pelo dos meus dedos, no gatilho fatal da felicidade.