Esperança

Esperança – III

Era Diogo a desejar-lhe um bom dia. Falaram durante imenso tempo. Quando deu conta a casa estava por arrumar e o almoço por fazer. Pediu a Bruno que fosse comprar churrasco. À tarde recebeu outro telefonema, só para dizer que já estava cheio de saudades, que precisava vê-la, beijá-la, que já não podia viver sem ela. Dizia-lhe coisas tão belas, tão ternas que Esperança deixava-se embalar. Sentia-se amada, desejada. Era isso que importava.
Durante anos fora maltratada. Não que o marido lhe batesse, nunca o fez. A violência psicológica era a sua especialidade. Afastara-a da família, dos amigos e quase fizera com que perdesse o emprego. Quando isso aconteceu tomou uma decisão. Não ía aguentar mais. Não podia continuar a deixar que os filhos assistissem a tais actos. Não ia perder a sua independência económica. Falou com Manuel e pediu o divórcio. Não foi pacífico mas acabou por conseguir um acordo melhor do que esperava. Tudo graças à advogada e à juíza que não se intimidaram com o apelido sonante nem com o advogado mediático. O pai do ex-marido, para não ver o seu nome exposto, obrigou Manuel a dar-lhe a casa e uma boa pensão aos meninos que adorava. Ela, que de início até fora feliz, nunca entendeu o que levou Manuel a mudar após o nascimento do primeiro filho. Talvez por não ter sido planeado e ela se ter recusado a interromper a gravidez o tenha perturbado. Com a chegada de João Pedro as coisas pioraram. Mantivera-se casada por causa dos filhos.
Não percebia porque estava a lembrar-se de tudo aquilo. Seria um mau presságio? E se Diogo fosse diferente do que aparentava? Não podia ser. Afinal já se entregara a ele e continuava a aparecer e a telefonar. Tentou afastar as dúvidas. O coração tinha mais força que a razão. Os encontros continuaram e ele cada vez mais insinuante. Quis conhecer os filhos e Esperança marcou um jantar. Apareceu com um belo ramo de rosas, um livro para Bruno e um jogo para João Pedro. O jantar foi agradável. Conversaram e até jogou o novo jogo com JP. Foi assim que baptizou o mais novo da família.
Os jantares tornaram-se cada vez mais frequentes. Estava constantemente lá em casa. No aniversário de João fez questão de estar presente, conhecer os amigos e levar lembranças para todos. Tudo servia de pretexto para levar presentes para JP. A cada dia que passava estava mais amigo dos garotos que frequentavam a casa. Ia buscá-los à escola, levá-los às actividades extra curriculares. Era um verdadeiro amigo da casa. Esperança ia embarcando nas juras de amor.