I was only thirteen, and they were going to have me psychoanalyzed and all, because I broke all the windows in the garage. I don't blame them. I really don't. I slept in the garage the night he died, and I broke all the goddam windows with my fist just for the hell of it.
- J. D. Salinger, The Catcher in the Rye
The Catcher in the Rye é um dos grandes clássicos norte-americanos do século XX e, provavelmente, o maior grito de revolta adolescente de sempre. Jerome David Salinger escreve aquilo que - magistralmente, diga-se - muitos de nós sentimos quando éramos adolescentes - se é que alguma vez deixamos de o ser ou sentir - e que se tornou num dos mais vendidos livros de sempre. Li-o no original inglês e aconselho, se puderem, a fazer o mesmo. Mais à frente perceberão porquê.
Holden Caufield é um adolescente problemático. Não porque seja mal-educado, mal comportado, ou simplesmente burro, mas porque não se consegue inserir na sociedade onde é forçado a viver. A história começa com mais uma expulsão de Holden de um colégio, - já perdeu as contas ao número de colégios que frequentou - o internato de Pensey, porque está prestes a chumbar a practicamente todas as suas cadeiras, com a excepção de Inglês. Holden, após uma discussão com o seu colega de quarto que tinha acabado de chegar de um encontro com uma das melhores amigas de Holden, decide sair de Pencey antes da data suposta e viajar para a sua cidade natal de New York. Sabia que se chegasse a casa antes da data em que os pais o esperavam teria de enfrentar a fúria deles, então preferiu esperar que eles fossem informados pela carta oficial da escola e ir para casa apenas quando fosse suposto ir. O livro conta as deambulações do jovem revoltado, enjoado aliás, pela cidade de New York durante os três dias em que não quer chegar a casa. Nesses dias ele encontra freiras com quem simpatiza, toma uns copos com um velho amigo, tem um encontro com uma antiga paixão, e faz tudo por tudo para conseguir falar com a pequena Pheobe de dez anos, a sua irmã mais nova e a ligação familiar mais forte, sem os pais descobrirem. Holden tem uma famÃlia peculiar, para além da irmã com quem tem um laço especial, tem um irmão mais velho, D. B., que é argumentista em Hollywood, e um irmão que morreu em criança, Allie, e cuja morte afectou-o intensamente. Holden tem uma visão muito depreciativa da vida e dos que o rodeiam, practicamente toda a gente é falsa e ele é incapaz de conseguir encontrar algo de que goste verdadeiramente na vida, além da irmã, o que o descarrega numa espiral depressiva e quase suicida. Holden tem também uma ambição curiosa, quando Pheobe lhe pergunta o que é que ele gostava mesmo de fazer mais tarde, ele responde que se imagina num campo de centeio à beira de um precipÃcio, a tomar conta de crianças que lá brincam, impedindo-as de cair no abismo, um
Catcher in the Rye, se quiserem.
O livro é surpreendentemente actual e é, de certa maneira, assustador pensar que as angústias adolescentes dos anos cinquenta são as mesmas de agora - com a diferença de que não são estupidificadas ou banalizadas, antes vistas de um prisma pessoal, pelo olhar certeiro de um adolescente fora do comum. ImpossÃvel, para mim pelo menos, não me rever em Holden quando era mais jovem, a total incompreensão das pequenas questõezinhas do mundo suposto adulto que me pareciam, e continuam a parecer, completamente falsas, desprovidas de significado e sinceridade.
A maneira como a desilusão de Holden é transmitida é abismal, como ele sentimo-nos sem saber muito bem para onde ir numa cidade tão grande como New York, e procuramos distrairmo-nos com questões infantis, Holden parece empenhado em descobrir o que acontece aos patos do Central Park quando chega o Inverno.
Todo o livro é um grande grito de ajuda, as páginas parecem gritar a questão das questões, qual é o sentido da vida, e obrigam o leitor a juntar-se ao coro. É uma terrÃvel busca de significado e caminho, figuradas nas deambulações de um jovem perturbado pela morte do irmão nas ruas da Big Apple.
É muito curiosa a maneira como Salinger decidiu escrever o texto. Encontramos um vocabulário extremamente reduzido porque, como o próprio Holden admite, a extensão das suas palavras é curta. É uma escrita que transporta practicamente na perfeição o estilo coloquial do inglês norte-americano dos anos cinquenta, "Boy. I say boy a lot.", "Helluva time", "Goddam", "Chrissake" e outras expressões são aos milhares ao longo do texto o que, por incrÃvel que pareça, não afectam a leitura de modo algum, antes pelo contrário, são capazes de nos emergir na 5th Avenue, no meio do trânsito, no Natal de 1951.
Salinger escreveu uma obra prima da literatura juvenil que urge ser lida por todos. Pergunto-me se não será até mais urgente que os adultos conheçam Holden Caufield. Para os adolescentes pode ser o sinal de que não estão sós e para os mais velhos um lembrete para refrear a falsidade em que constantemente são obrigados a mergulhar.
Escrito originalmente aqui.