Nina Araujo
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« em: Dezembro 08, 2008, 23:30:06 » |
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A Mulher Que Segurava A Vassoura.
Aquela mulher não inspirava confiança ainda que também não ameaçasse quem lhe via envolta naquela figura franzina, cabocla, com o cabelo um pouco desgrenhado e uma expressão sempre agitada de muita pressa. Na mão esquerda carregava uma vassoura e o indefectÃvel gesto abanando o ar com passos largos sempre em frente até alcançar um pedaço de calçada imaginário, onde pudesse varrer e varrer até cansar, sem dar-se conta do tempo. Não era uma limpeza ordenada, mas sim movimentos repetidos sem direção qualquer. Lá no condomÃnio onde morava todos a conhecia já que era abrigada da patroa de sua falecida mãe, aquela senhora tinha pena dela e consideração pelos muitos anos trabalhados da antiga empregada. Dizia-se que ficou assim desde que perdera o noivo num acidente de navio, o moço iria casar-se com ela tão logo retornasse de viagem, o enxoval estava todo montado e por fim a tragédia ocorreu, encerrando assim os planos daquela jovem antes tão alegre e carismática. Ela levou um choque imenso na época e ficou internada por três anos e meio, quando então regressou à casa da patroa que a acolheu mesmo sem ter esperanças de uma melhora de seu estado mental. Todos da casa sabiam de sua história e também na rua, muitos tentavam sem sucesso manter um diálogo, oferecer-lhe alguma coisa, mas tudo era em vão , a mulher parecia só se importar com os cachorrinhos , para estes sim, ela fazia um discreto afago e eles entendiam balançando o rabo. Numa tarde de domingo aquela mulher deu seu último suspiro. Depois de sair cedinho e ter varrido muitas calçadas pela manhã, ela retornou inesperadamente da rua, abriu a porta da sala onde a famÃlia via televisão, se dirigiu para a patroa disse um obrigado curto, quase inaudÃvel, deixando todos boquiabertos já que nunca falava, e foi dormir. A famÃlia ficou apreensiva porque isso nunca havia acontecido e depois de vinte minutos foram vê-la já encontrando o corpo inerte. Assim foi o fim da mulher que segurava a vassoura, adormeceu de vez para deixar a dor naquele dia...
Nina Araújo.
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« Última modificação: Dezembro 08, 2008, 23:35:48 por Nina Araujo »
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O poeta Walmar Belarmino assim diz:“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÃVEL, TÃO SENSÃVEL DE UM JEITO IMENSURÃVEL QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÃVEL E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÃVEL VER UM DEUS EM CADA MISERÃVEL E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO MESMO VENDO SEU DONO POR VENCIDO ELE APOSTA NA ÂNSIA DE VENC
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