Anja_Rakas
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« em: Dezembro 09, 2008, 04:48:36 » |
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Escrevo este texto, após a leitura de um outro que me partiu o coração em um blog muito querido e doce. Os nomes são puramente ficção...mas o texto não!
Cantava eu no chuveiro, enquanto a água escorria a poeira da tarde passada a beira rio (procurando jacaré) - Marisol onde estás? - Estou aqui...no banho. - Aahh desce lá comigo...vamos ter com tua mãe. - Humm..Ok...ei cadé meu irmão? - Ele já está la com ela.
Entro no carro, vejo pessoas que não conheço. Digo boa noite (a boa educação obrigatoriamente me governa, porque no fundo, vontade não sinto de falar).
- Marisol, (diz a Sra. que estava ao volante e que eu vagamente conhecia) teu pai teve um acidente...(silêncio). - Humm..ele está vivo? (friamente pergunto) - Sim. Ele está. Mas... - Ok...não preciso saber mais. Por favor levem-me até ele.
O carro seguiu devagar pelas ruas quentes de uma noite de verão tipicamente africana. Passou o control no Hospital, e de repente vi meus olhos preenchidos pela quantidade de carros estacionados na ala de Emergências.
Sai do carro, e minha mãe veio ao meu encontro. - Onde está o Malakias, mãe? - Ele está la dentro, vem comigo. Vou passando rostos, expressões, emoções reflectidas em gestos mudos, mas na realidade não compreendo. Minha mente está sossegada com "teu pai está vivo". Entro no quarto desinfectado do Hospital, e vejo branco...ele completamente engessado, mas sendo abençoado por uma respiração tranquila. - Marisol, eles morreram. Morreram minha filha. Agarrei sua mão ensanguentada, encostei-a na minha face seca de emoções, e simplesmente sorri. Em segundos ele adormeceu calmamente (devido aos fortes calmantes sabiamente fornecidos pelo Médico).
Sai devagar, sorria ausente as pessoas, procurei pelo meu irmão...não encontrei. Fui me sentar no jardim, olhei para o céu, vi estrelas brilhantes e sorridentes. Aos poucos, devagar sinto meus lábios molhados e salgados, sinto a gola da minha camisa húmida, sinto-me a ir.
Estiquei a mão para o céu, e Malakias a agarra e encosta-a no peito, olha para mim e sorri. Nesse momento acreditei...acreditei na vida, na morte, nas estrelas e...e acreditei nele...no meu pai que sobreviveu por mim, pelo meu sorriso, pelas minhas vitórias, pelas minhas derrotas e pelos meus futuros corações partidos.
Não importa se ele não tem respostas bonitas e precisas para mim, não importa se as vezes não souber me responder, descobri com o passar do tempo que importa sim...a sua respiração tranquila, importa o dia que ele sobreviveu por mim.
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