Jorge Vieira Cardoso
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Sobscrevo frases e dou-lhe a nossa morada....
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« em: Dezembro 17, 2008, 11:05:03 » |
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Natal de 2007
A necessidade de acelerar tomou conta de mim, a pista estava à minha frente. Barroca do cabeço no Tortusendo, ali bem coladinho à Covilhã. Nas curvas chiavam os Kartings , pensei, é este o local certo para descarregar energias negativas e fazer crescer em mim a adrenalina de vinte minutos ao volante de um minúsculo carro. Lembrei momentaneamente, há muito que as estradas do meu Portugal tinham deixado de fazer parte das minhas corridas, corridas essas que ficavam para os aceleras irresponsáveis, que diariamente contribuÃam para as negras estatÃsticas de um PaÃs em Guerra no asfalto. Vingança de quatro pequenas rodas acopladas a uma carcaça onde um motor munido a gasolina ralhava o seu ruÃdo. Algumas ultrapassagens arriscadas faziam sacar uns piões que, de vez em quando, levavam o franzino karting embater contra os pneus que serviam de protecção. Mas a grande vantagem é essa, raramente alguém se magoa e eu carimbei o meu contrato “ acelerar só nas pistas para o efeito do mesmoâ€. Mas as minhas e nossas corridas de hoje não se ficam por aqui, há alguém que nos aguarda, numa casa atulhada de Amor, esperando os “prodÃgios do Karting†para uma mesa farta de carinho. Escurece cedo para estas bandas, por isso é fundamental comer com regras e despachar para arrepiar caminho, vereda acima. A Covilhã fugia dos nossos olhares, ou então as nossas costas deixavam a Cidade para trás. A experiência do condutor dita as inclinações da subida, ao mesmo tempo que os cinco “valentesâ€, ora para a direita ora para a esquerda acompanham o leve balouçar do Automóvel, que a cada cem metros torneia umas dez curvas. Já se consegue adivinhar? Estamos a subir a serra! Na ascensão lenta, de olhar devorador contorno toda a fisionomia dos montes. A passagem pelo Parque dos Campistas é feita numa terceira. Ao dobrar das próximas curvas, as “assombradas†ruÃnas do antigo Sanatório, amaldiçoado pela boca do povo, soltam os seus “Fantasmas†que nas suas capas ocultas ficam a ver-nos passar. O primeiro Hotel coincide na aproximação com as primeiras crostas de neve encostadas à berma com as marcas das máquinas que dias antes fizeram a remoção da camada branca na estrada lateralizando um improvisado muro branco. Crostas essas que vão aumentando como aumenta a distância que nos separa da Cidade dos lanifÃcios, do bom queijo e nos aproxima do topo. A sofagem perde para o ar condicionado, assim como a positividade dos graus deu vez à negatividade dos mesmos. A subida cada vez mais Ãngreme e curvosa, pede uma segunda. Num retiro damos uma paradinha para apreciar a paisagem e enfrentar as vertigens. O motor já aquece de novo o habitáculo do Automóvel, onde cinco pessoas, dois adultos e três jovens esfregam as mãos e calçam as luvas. As rodas com alguma dificuldade na aderência rodam no piso algo escorregadio. O pequeno túnel está à nossa frente, ao atravessar o seu interior reparo que, o gelo fez crescer as estalactites que, ping , ping, ping derramam na chapa do nosso veÃculo pingos de água, água essa vidrada, gelada, colorida pelos faróis, parecem velas clareando o nosso caminho. Assim como me recorda muito algumas grutas do nosso PaÃs. Há um sentimento que deve ser comum a todos, parece que em cada passo da subida a beleza galga a nossa mente. No assustar das encostas, o local mais arrepiante, quanto a mim é, entre o Cântaro Gordo e o Cântaro magro, só de olhar para essas elevações de rochas lembra-me a fatalidade de uma queda entre estes penhascos, tal a sua altitude. Chegados à Torre, estaciona-se e saÃmos para comparar a diferença da temperatura. Está muito frio! Aà se completa os dois mil metros. Há gente por todo o lado, foliando na neve e eu olho e o que vejo é: Este manto alvo e gelado desce encosta e revestindo a serrania, onde nem as lagoas escapam da brancura. Aqui e acolá nos declives da montanha deslizam os coloridos trenós, e na originalidade dos mesmos, a nossa equipa improvisa um barco, que ziguezagueado num Mar de ondas paradas, percorre as distâncias entre o horizonte e a costa, até que se dá o encalhar e fura o acanhado bote, e os seus ocupantes riem à gargalhada arremessando flocos de neve, que se desfazem no momento em que embatem nos grossos casacos de lã.
Todas estas sensações de momentos ganhos no regelar dos ossos são como espasmos de vontade inata de conquistar a serra, onde nem uma era se vê e apenas os óculos de Sol combatem uma cegueira estranha de olhar para a grossa camada apenas tonalizada pela sombra de uma fraga.
Estou regelado, o Sol quase desaparece com o seu amarelado brilho, em que lentamente escurece e já não aquece.
Mas a vontade de ficar é tanta, que não desisto à primeira, mesmo quando o trambolhão é forte, levanto-me e vou analisando a cordilheira. E do seu ponto mais alto onde a pequena loucura me eleva, enfio os pés nos skis e vou descendo a Estrela.
Com o aproximar da noite chega a Lua, pálida e ovalizada num arredondado desigual, carregamos os nossos artefactos já que amanhã é Natal.
Esta Serra da Estrela elevou o meu coração, aqui mais perto de ti, permito-me esta oração.
Que sorte esta de velejar a teu lado, confesso que a descrença sombreou o meu veleiro, quando de velas hasteadas zarpou rumo ao desconhecido, atravessando marés no engano do passageiro clandestino escondido no convés.
Todos os Mares vão ondulando em terra ou em chão, neste caso é na montanha, onde o meu barco amanha pedaços de neve branca que ao derreter se bebe, água tanta que não cede no rosto do Iceberg.
Só tu, Herói da BÃblia que desembraveceste estes Mares, a teu reboque ancoraste-me nestes lugares, onde a tua mão assenta em cinco dedos Majestosos, que o nosso sábio povo comenta “são Gloriososâ€.
Hoje sabes que te vi neste imenso reflexo branco que sai de ti, não digas que é ilusão, mesmo a quem não reze nem um simples dialecto, apenas meus lábios tremem na luz, por uma alma pedinte tu pegas de novo na Cruz, e rumas ao caminho certo.
Ao descer daà de cima mistura o frio com o calor do teu clima, dá-nos rectas nestas curvas, segura-nos destes barrancos que são tantos, aqui e acolá e acompanha-nos até à Covilhã.
Por fim agrego estas palavras à magia de três pessoas espectaculares, lindas e mais doces que o próprio Sumo. São elas o meu “Irmão†Rui a minha amiga Celina e o Filho deles, o Nuno.
Agradecimentos…
Agradeço a Deus por me ter dado a conhecer este admirável trio de pessoas e me ter oferecido o salutar sabor da sua companhia. E para não fugir aos costumes da boa cortesia lá da região, retribuo e traslado gratificação num grande, BEM HAJA!!!
Jorge Vieira Cardoso
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