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A poesia como objecto de expressão artística sugere-lhe outras artes associadas, ou entende a poesia como uma expressão artística, perfeitamente estanque e individualizada? (Dionísio Dinis)


Se  a pergunta é dirigida  eventualmente a mim, e numa visão  puramente subjectiva, a poesia é sem dúvida a minha forma de expressão. É com a poesia que eu me considero humanamente mais pura. No entanto, não posso deixar de referir, e aqui já observando a questão numa visão alargada ao mundo...que a poesia se funde a inúmeras formas de arte. A poesia é o braço direito da pintura, da fotografia... julgo que toda a arte tem um cheirinho de poesia na alma.

 

A satisfação de ver o poema em papel impresso poderá determinar o fim do percurso do mesmo ou, poderá  o poema ser um acto de escrita em construção permanente? (Dionísio Dinis)


No meu caso, um poema escrito numa folha de papel é como um nascimento... é um parto difícil, provoca  por vezes muita dor, porque as palavras surgem caóticas em mim e têm uma dimensão enorme e ficam durante longas horas debatendo-se cá dentro. Só que existe um momento em que elas conseguem romper todos os obstáculos que as prendem no meu ventre e o parto acontece... depois é inspirar fundo e deixá-las fluir no corpo até elas sentirem que a escuridão terminou.
Para mim, a escrita é um acto impulsivo e momentâneo que só faz sentido quando acontece de uma forma natural e não deve ser desfigurado com retoques e embelezamentos contínuos, porque a maior beleza da poesia é a
sua pureza.

 

Pensa existir no universo de poetas do "Escritartes" gente com valor e "direito" a serem publicados e, se sim, pode mencionar alguns autores? (Dionísio Dinis)


007Considero esta pergunta um pouco ingrata e explico porquê... Não tenho qualquer dúvida que existem pessoas no Escritartes com valor para verem os seus textos publicados. No entanto, não me considero digna nem com uma bagagem literária suficiente para sentenciar  "quem" tem esse direito. Considero mesmo, que muitas vezes nem mesmo as Editoras têm esse direito, mas a verdade é que são elas as principais patrocinadoras destes sonhos de uma vida que muitos de nós temos em escrever um livro e vê-lo nas mãos do mundo. Por isso, peço desculpa, mas não vou mencionar "nomes"... e apenas dizer, que quem ama as palavras e as quer partilhar num livro, não deve desistir de o tentar conseguir e não devem ser as portas fechadas a fazê-los não acreditar que esse sonho pode ser real. O importante é não desistir e principalmente é não abrir mão do respeito que merecem pelo seu talento e trabalho...

 

O Escritartes deu-lhe algo em termos progressivos, como pessoa e na escrita? (Dite Apolinário)

Sim... Apesar de ainda me considerar uma "caloira" neste espaço, tenho sido tão bem acolhida que é impossível não sentir desde já um carinho especial pelos membros do Escritartes. Tenho um enorme respeito pelos fóruns literários e pelo trabalho de união que espaços assim promovem entre pessoas que têm a paixão da escrita e da leitura. Desde que comecei a escrever, que aprendi a ter coragem de mostrar as minhas palavras às pessoas através de comunidades literárias e foi assim que eu ganhei força e incentivo para continuar agarrada à folha de papel. O Escritartes é um espaço de partilha, de convívio e sobretudo de amizade entre seres humanos apaixonados pela alma e pela sensibilidade... só me poderia dar muito quer seja como pessoa ...quer seja na escrita...é uma fonte de inspiração e eu só tenho que agradecer por isso.

Escreve... Porque... (Dite Apolinário)


Escrevo... porque não consigo parar de o fazer :) Acho que esta é a resposta mais sincera que te posso dar. As palavras para mim são viciantes... uma droga que me cura em muitos momentos doentios da minha vida. A escrita liberta-me... faz-me renascer... apaixona-me e, sobretudo, faz-me sentir realmente viva e é uma sensação que eu jamais quero perder...

 

Tem em mente, alguma proposta a fazer ao Escritartes, para o melhorar? (Dite Apolinário)


Bem, como disse anteriormente, a minha passagem pelo Escritartes é ainda um pouco pálida... mas tenho tentado encontrar tempo e espaço para me dedicar mais a ele. O que já conheço do Escritartes agrada-me bastante... é prático... é funcional ... é interessado... é acolhedor... e sobretudo … é humano e sensível, o que faz dele um espaço muito acolhedor. Para melhorar, julgo que o aumento da interactividade entre os membros nunca será demais... apesar de no Escritartes isso já ser francamente bem conseguido...

 

Como descobriste a tua vocação para a poesia? queres falar-nos do teu percurso poético? (Conceição Bernardino)


Bem, devo confessar que a poesia é algo relativamente recente… visto que só se tornou em algo mais sério em 2005 quando editei o meu primeiro livro, “Cortar as Palavras num  só golpe”.

Mas desde miúda que adoro escrever... sempre tive esse bichinho dentro de mim e era um bichinho que se alimentava também da representação. Acho que sempre fui uma pessoa com expressividade...Tive pena de nunca ter 010seguido esta vertente profissionalmente, apesar de algumas experiências amadoras que tive. Podemos ter todos os sonhos do mundo, mas nem sempre os conseguimos realizar a todos, não é verdade? Mesmo assim, sinto-me uma pessoa particularmente sortuda 009.jpgneste aspecto... porque sonhei e algo já aconteceu  desse sonho.

Mas voltando à tua pergunta Conceição... este gosto pela poesia foi descoberto quando me apaixonei pelos poemas de um amigo meu. Fiquei encantada com a capacidade que ele tinha de mostrar o que sentia com a poesia. Apesar de gostar imenso de ler Florbela Espanca, Pablo Neruda e outros poetas, nunca tinha experimentado a poesia e, quando li esses poemas , não resisti e comecei eu mesma a tentar passar os meus sentimentos para o papel. Inicialmente, era um pouco tímida a escrever e disfarçava um pouco as emoções, mas fui ganhando coragem e as palavras foram fluindo e surgindo com mais naturalidade. Depois, houve um momento menos bom na minha vida que me "obrigou" a encontrar uma forma de conseguir paz e serenidade dentro de mim e a folha de papel foi, sem dúvida, a minha salvação e só devido a ela me ergui de novo para a vida.

Devo cada sorriso por mim conquistado à poesia e tenho uma dívida para com ela que sinto que terei que pagar eternamente... mas não me importo!

 

 Sendo o mundo literário muito expansivo entre escritores de poesia, temes o factor concorrência? Sentias medo se alguém te pedisse ajuda como se pode editar um livro e que editoras procurar? (Conceição Bernardino)

 

Não tenho que temer o factor concorrência, porque é algo que existe e não dá para ignorar... No entanto, não considero que esteja num patamar literário  onde a concorrência seja importante...Costumo dizer que ainda sou uma formiga como escritora... e se um dia chegar a ser uma formiga com um grão de arroz na barriga, já me posso sentir muito satisfeita por isso.

Por enquanto, o meu maior prazer é sentir que as minhas palavras têm as asas que eu gostaria de ter e que por isso vão conseguindo viajar pelo coração de algumas pessoas. Agora até onde é que essas asas vão levar as minhas palavras? Isso já depende da sorte e sobretudo da paixão com que elas voam.

Quando à tua outra questão...não, não sentia medo se alguém me pedisse ajuda para saber como editar um livro, porque já mo fizeram. Já existiram pessoas que se dirigiram a mim a perguntar se eu as podia ajudar a encontrar uma editora e o que deviam fazer para serem editados. E é claro, que tive todo o prazer em aconselhar essas pessoas baseada nas experiências que já tive onde e como procurar uma oportunidade no mundo da escrita... mas sobretudo alertei essas pessoas que nem tudo eram mares de rosas e que deviam informar-se de todos os seus direitos como autor. Considero que os meus erros devem servir para evitar que outros os cometam por desconhecimento… ou, pelo menos, para alertar outros para a existência da possibilidade de serem cometidos erros simplesmente por sermos demasiado inocentes e crédulos   nas pessoas que surgem louvando o nosso suposto "talento".

 

Considero que a tua poesia tem várias características marcantes, ritmo, muita cor e uma aparente simplicidade que a torna muito bela. Gostaria de conhecer as tuas preferências literárias, e se há algum autor em especial onde vás beber a tua inspiração. (Brito Ribeiro)


Obrigada pelo apreço e pelas palavras tão bonitas sobre a minha poesia.
Quanto às minhas preferências literárias... posso dizer-te que escrevo muito mais do que aquilo que leio. Já fui uma leitora compulsiva, mas depois fui perdendo um pouco o gosto e sou bastante selectiva naquilo que leio.

No entanto, tenho algumas preferências... tanto na poesia como noutras vertentes da escrita. Gosto bastante de Florbela Espanca, Pablo Neruda, António Aleixo, o nosso inconfundível Bocage..e Helberto Helder. Depois, sou também uma apaixonada por Luís Sepúlveda e Isabel Allende…

Não me inspiro em nenhum escritor em particular... mas costumam dizer que eu sou uma Florbela Espanca caótica... talvez porque escreva sobre sentimentos fortes e me entregue de corpo e alma a cada poema que em mim nasce.

 

Sabemos que editaste um livro de poesia muito recentemente. Este livro, certamente escrito com muito amor e dedicação, tem, com toda a certeza, uma história. Queres dizer-nos como te surgiu a ideia de o editar e as dificuldades que encontraste ao longo desse percurso? (Brito Ribeiro)


Sim, é verdade. Editei em Novembro de 2007 o livro “Afectos Obsessivos” cuja apresentação ocorreu no dia 8 de Março na Livraria Leitura Books & Living. Aproveito, desde já, para agradecer a presença dos amigos do Escritartes nesse dia. Foi muito importante para mim e emocionante.

É um livro que reúne momentos particularmente intensos para mim... vou ser sincera, e digo sem medos, que é um livro escrito na primeira pessoa. Falo de mim e dos meus sentimentos como mulher. Descrevo momentos em que senti emoções muito fortes e difíceis de explicar de uma forma racional... mas a verdade é que foram sentidas e, por isso, debrucei-me no papel e escrevi cada sentimento…cada dor… cada batida no peito. Todos nós sentimos alguma vez na nossa vida sentimentos que não compreendemos porque nos trespassam o corpo e atingem em cheio a alma ... que nos levam a ser impulsivos nos gestos e nos afectos. A história deste livro nasce aqui... nestes afectos obsessivos sentidos e doados com entrega total.

A ideia de o editar já veio de algum tempo atrás, mas este processo foi bastante doloroso e com algumas desilusões pelo meio.Era um livro que se encontrava preparado para ser editado por uma outra editora, mas que a oito dias do lançamento e por uma falta no entendimento entre mim e essa editora no que diz respeito a algumas alíneas do contrato, acabou por não ocorrer , por decisão minha. Considerei que o contrato não me respeitava como autora da obra e, por isso, tive que tomar essa decisão dolorosa de não o assinar e adiar o sonho por mais algum tempo. Neste momento, posso dizer que não me arrependo de o ter feito… a desilusão foi muito grande, mas valeu  a pena esperar este tempo. Tive a oportunidade de tornar o conteúdo do livro mais apetecível e com mais  qualidade e estou bastante satisfeita com  o resultado final. Considero que cresci como pessoa e abri os olhos com estes solavancos que encontrei no mundo da escrita...

 

No processo de escrita, consideras-te uma criadora de personagens? Podes explicar? (Goretidias)
Goreti, quando escrevo sou tudo menos uma criadora de personagens...Se calhar, quando termino um texto até dou a ilusão da existência de uma terceira pessoa que nos conta um momento mas, na verdade, essa ilusão só surge porque Eu me recorto em múltiplos pedaços e me vou encaixando nas palavras criando essa ilusão. Talvez para me proteger... talvez porque seja algo mesmo instintivo e dirijo-me ao papel com um "Ela" na boca mas existe sempre um "Eu" bem colado na língua e esse é que se entrega à escrita.

 

Queres falar-nos um pouco sobre a tua criação literária e os processos nela intervenientes? (Goretidias)


Quando escrevo não tenho um ritual, nem um processo de escrita rígido ou  demarcado.

Costumo escrever por instinto e normalmente é uma criação feita num acto impulsivo. Não escolho cenários...nem momentos próprios para o fazer...é a minha mente que os escolhe por mim. Preciso de algo muito forte para sentir a necessidade de me expor ao mundo...e esta vontade não tem hora marcada.

 

A Daniela é uma detentora de uma escrita visceral e orgânica (assim a vejo). O seu novo livro "Afectos Obsessivos" têm como título uma imagem forte, uma ideia subjacente de que, os afectos, são ou podem ser, obsessivos. Acredita seriamente na "obsessividade dos afectos" ou estamos perante a concretização de que "o poeta é um fingidor"? (Mel de Carvalho)


Acredito  na "Obsessividade dos afectos"... só posso acreditar porque os meus afectos são muitas vezes assim. Quando falo numa  "Obsessividade", não o falo para denegrir ou com uma intenção demente... não com a ideia que esses gestos são doentios . Mas sim que existem gestos fruto ou de uma paixão forte... ou de um amor… qualquer sentimento intenso, que pode incutir em nós a liberdade nos afectos. E então existe uma entrega total da nossa parte e deixamos de ser, por momentos, racionais e passamos a ser apenas instinto. É com esta convicção que eu criei o livro "Afectos Obsessivos" ...

 

Sendo a Daniela ainda muito jovem já têm no seu Currículo várias experiências de publicação (blogues, suporte papel...). Existe algum projecto de que nos queira falar? Um projecto editorial, por exemplo... (Mel de Carvalho)


Não sou assim tão jovem...he! he! 32 anos já é alguma idade...Mas sim, já me envolvo com a escrita em diversas vertentes .O blogue Devaneios foi o início de tudo...foi a partir dele que editei o meu primeiro livro. Mas foi nessa altura que eu embarquei nos mares da poesia... em fóruns... com blogues, em versão papel.

004.jpgNeste momento, não tenho um novo projecto definido... tenho a ideia de melhorar mais a divulgação do livro “Afectos Obsessivos” com a criação de um site à semelhança do que concebi para o meu primeiro livro, mas com uma "roupagem" diferente e mais “chamativa”.

Depois, quero continuar com  a escrita... talvez regressar a uma ideia antiga de publicar um conto... eu costumo dizer que é a história de uma cinderela dos tempos  modernos. Cheguei ainda a escrever algumas partes desse conto... com uma vertente um pouco sarcástica nas palavras e com algum humor. Quem sabe, se não voltarei a ele? No entanto, a poesia ainda flui com força nas veias… por isso vou deixando, sem forçar outros caminhos.

 

Se tivesse de escolher um poeta consagrado como o seu ídolo (aquele que, assim, de repente, diria: marcou-me, quem escolheria? Apenas um! (Mel de Carvalho)


Florbela Espanca, sem hesitar