SOBRE O SEXO NA RÚSSIA DE HOJE

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josé antonio:


A crise recente agravou o fenómeno: prostituir-se é uma forma quase banal de obter os bens materiais mais cobiçados. Um fenómeno russo cada vez mais difundido.
Na Rússia, o sexo tornou-se um trabalho extra, igual a qualquer outro. Segundo uma sondagem, 61 % das mulheres acham que é absurdo ter relações que não lhes tragam vantagens materiais. Estas filhas da sociedade de consumo atropelam, assim, alegremente, o código moral dos seus pais. Esta “decadência” tem, evidentemente, causas económicas. Nos últimos 15 anos, as relações interesseiras, ou seja, a prostituição, deixaram, pouco a pouco, de ser consideradas imorais, ao mesmo tempo que a necessidade de dinheiro, de bens e de serviços aumentou a grande velocidade. Essencialmente, os créditos bancários, o aumento dos salários ou a valorização do património (sobretudo imobiliário) permitiam comprar a maioria das coisas que se desejavam, mas com a crise, a oferta de crédito diminuiu, os salários baixaram e muita gente decidiu recorrer ao seu “ capital pessoal , isto é, por a render a sua juventude e beleza.
Actualmente, existe apenas, na Rússia, um único estudo económico sobre o mercado do sexo, realizado por Elena Pokatovitch e Marc Lévine, professores de análise microeconómica da Escola Superior de Economia de Moscovo. Segundo os seus cálculos, no ano de 2000, o volume de negócios de prostituição no país, cujo número se situa “ entre 267 e 400 mil “, terá sido de 469 milhões de euros. Calculando que na última década, o crescimento deste sector foi igual ao do PIB russo, então rondará hoje os 710 milhões de euros, o que não é um número extraordinário. Mas aqui foram apenas abrangidas as pessoas cuja actividade principal é a prostituição. De facto, a maior parte das relações pagas são ocasionais e não envolvem necessariamente dinheiro, mas são compensadas doutras formas, como a oferta de emprego, o pagamento duma dívida, roupa de marca ou férias de luxo.
SEM ESTIGMA NEM PENALIZAÇÃO – “ A prostituição permite ter um estilo de vida muito caro apesar de um baixo nível de qualificações”, explica Marc Lévine e continua: “ O que geralmente impede as pessoas de o fazerem é a ameaça criminal, o risco de doenças ou as reticências morais, ou seja, a reprovação social e a auto-estima. Este último travão é o mais forte de todos e depende da qualidade em que a pessoa se prostitui. É muito mais difícil para uma mulher que trabalha na rua do que para uma escort-girl que trabalha para uma agência, porque na Rússia, essa actividade não tem qualquer estigma”.
“Desde finais de 1980 que o prestígio da prostituição subiu em flecha”, “Certas sondagens colocam-na no mesmo nível de sonho que, numa outra época, era representado pela profissão de astronauta. A razão é simples, tem que ver com a sua enorme rendibilidade”.
As dificuldades económicas vieram acentuar o fenómeno. “ As crises importantes, quando geram desemprego, acabam por levar a um aumento da oferta dos serviços sexuais. É uma maneira de melhorar o estilo de vida. E não tem só a ver com a situação económica, mas com o facto de que, desde os anos 80, a prostituição deixou de ser reprimida, a legislação mudou e as barreiras morais caíram”.
Está fora de questão restringir os consumos e há que encontrar um meio de compensação…
Isto acontece sobretudo com os jovens. “ Muitas jovens estudantes e jovens trabalhadoras dedicam-se à prostituição para poderem pagar os seus divertimentos e também o álcool e a droga. Constatámos que entre os jovens, os serviços sexuais pagos são um fenómeno muito difundido”.
A idade média de entrada na prostituição baixou dos 18 anos para os 14 e 15 anos.
Os russos aprenderam a ter um olhar de consumidores sobre um grande número de coisas, incluindo o seu próprio corpo. Se é possível “ pô-lo a render” para obter bens materiais, porque não?
Convém salientar que do lado dos “clientes” a atitude também é puramente consumista, também eles não consideram vergonhoso o amor pago, muito pelo contrário. Em certos meios, o recurso a prostitutas tornou-se um elemento obrigatório de ostentação social a que há que aceder. Assim, na opinião de Marc Lévine, a trilogia “ sauna, copos, raparigas ” é hoje uma prática solidamente ancorada na “cultura dos negócios” de uma certa categoria de empresários russos.

(Excertos do Jornal OGONIOK – Moscovo)

Afonso Vaz:
Assim vai o mundo.

josé antonio:
E muito pior noutras situações..., miséria, fome, repressão e tantas mais que não posto para não fazer deste sítio uma parede de lamentações ou rol de desgraças mundiais do nosso tempo.

Abraço
José António

Goreti Dias:
"Pô-lo a render"...
Dura realidade. E muito cruel!

josé antonio:
Goreti,

Reproduzi integralmente... da fonte!
Abraço
JA

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